Segurança
na ditadura é a paz nos cemitérios
O
comediante Marcelo Madureira, do Casseta & Planeta, tem atuado como,
digamos, um analista de variedades na Rádio CBN, em entrevistas semanais ao
âncora Milton Yung, e na última sexta-feira, 28/3, ele falou do corte de cabelo
que o ditador da Coréia do Norte impôs aos homens de lá.
É
preciso explicar: as mulheres norte-coreanas podem escolher entre 18 modelos de
corte de cabelos; os homens, entre oito tipos. Agora, estes têm que seguir
apenas um padrão – o corte que usa o supremo mandachuva do país (não esperem
que eu escreva o nome dele; além de complicado, acho que ele não merece essa
homenagem).
O
humorista ironizou, disse estar usando o novo corte coreano e definiu ditaduras e ditadores. Contou
que era muito jovem no final da ditadura no Brasil (1985), atuava na política
universitária (“também pus o meu na reta”) e disse tentar, sempre, esclarecer
aos mais moços que, nas redes sociais, evocam o retorno dos militares, “para
impor a ordem”.
E
é ele, Madureira, quem adverte os moços: “Olha! A segurança dos militares é a
paz dos cemitérios”. Ou não – digo eu, lembrando: existe a enorme lista de
desaparecidos, ou seja, daqueles corpos que jamais foram entregues. Há quem
conte que eles foram lançados ao mar ou sepultados em locais impensáveis, como
a massa de compactação de rodovias ou mesmo nas muralhas de concreto de
hidrelétricas.
O
que eu digo não é invencionice. O Brasil inteiro viu, na tevê, a fala segura e
sem medo do coronel Malhães ante a Comissão da Verdade, falando sobre o sumiço
do deputado Rubem Paiva e das atividades na Casa da Morte (Petrópolis,
1971/78): “Acho que eu cumpri com meu dever”, e ainda afirmou que não sabe
quantos matou e não se arrepende...
Também
desta semana foram as tentativas de realizarem uma nova edição da “Marcha da
Família com Deus pela Liberdade”, como a que promoveu a classe dominante
(entenda-se lideranças financeiras) de São Paulo, apoiando os golpistas, civis
e militares, em 1964. Um fiasco atrás do outro, demonstrando que a memória não
é tão falha quanto se diz.
Aos
desavisados é sempre bom lembrar que, se o PT e seus apoiadores não servem, há
escolhas, há meios e providências democráticas a se tomar. A volta do arbítrio
só cabe nas cabeças dos mal-informados e dos mal-intencionados.
De
minha parte, fica a estupefação ante a cara-de-pau desse coronel Malhães. Como
ele, os idealizadores e praticantes das falcatruas desmascaradas nos últimos
anos, os matadores de aluguel e os traficantes “cumprem seus deveres”.
Fosse
pouco tudo isso, o deputado goiano João Campos quer tirar 1/3 (sim: um terço)
da cota da Educação na partilha do Pré-Sal para a Segurança Pública. Que é
isso, deputado?! Essa parcela será, sim, muito melhor aplicada na Educação, para
ensinar humanidade ao policial e a criança e o jovem a respeitar policiais – como
se respeitam bombeiros; isso afastará crianças e jovens da prática de crimes e
do uso de drogas como o craque; isso valorizará a escola, evitando a
necessidade de se construir presídios.
Ou
você, deputado, quer que continuemos gastando mal com a Educação, a ponto de
vermos desviados de função como esse coronel Malhães e seus 1íderes, hem?
Prefiro
a Liberdade. Prefiro a Educação!
*
* *
4 comentários:
Parabéns, caro Luiz, pelo texto. Uma ressalva em relação ao Madureira: viu-se que a tal "notícia" era apenas um factóide, decorrente, aí, sim, de que o pai do referido mandatário, enquanto vivo (óbvio), ter recomendado aos homens coreanos-do-norte não deixarem seus cabelos compridos. O restante, ponto a ponto: está sendo difícil aos brasileiros (desacostumados) fazerem a transição entre o período ditatorial e a democracia, até por que a dita grande mídia faz de tudo para atrapalhar. Entre tantos males da ditadura foi ter criado esse lapso entre as gerações: o Brasil perdeu seu sentido cívico e ético e ficou (como herança maldita) apenas a "lei de gerson", exacerbada nas vantagens individuais-consumistas. A democracia exige responsabilidade pelos atos, muitos gostariam de permanecer inermes e jogar a responsabilidade sobre seus carcereiros. Forte abraços. Pedro.
Palmas para a sua análise, sensata e equilibrada.Igual eu não saberia fazer.
Belo texto, Luiz de Aquino! É deprimente ver que existem pessoas querendo a ditadura no país!
Belo texto, Luiz de Aquino! É deprimente ver que existem pessoas querendo a ditadura no país!
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