De prefácios e afins
A
maioria dos escritores com quem me relaciono não cogita sobre o tema – outros,
porém, fazem-no com seriedade: falo de prefácios, apresentações e orelhas de
livros.
O
primeiro a dizer-me avesso a prefácios foi José J. Veiga; e disse-me ainda que João
Guimarães Rosa pensava igual: ambos rejeitavam sistematicamente prefácios, bem
como não os escreviam. Digamos que há coerência, pois. E há também os que
aceitam a prática e, num dado momento, rejeitam-na.
De
minha parte, eu gosto. Não que os considere indispensáveis... Mas o livro é uma
festa, e os convidados de honra são esses a quem mostramos nossos originais e
deles recebemos análises críticas ou apresentações, ou ainda comentários ágeis
e afetuosos, que publicamos nas orelhas ou na contracapa da obra.
A
qualquer momento, hei de publicar um livro contendo os textos que já escrevi em
livros alheios – prefácios, apresentações e orelhas ou contracapas. Certo é que
entre estes haverá autores com quem ainda convivo, haverá os que se foram e
aqueles que se isolaram; haverá algum que se tornou ex-amigo e até mesmo
desafeto, que as relações humanas são uma arte ou um fatalidade, o tempo as
define.
Até
há pouco tempo, os prefácios eram escritos e os livros a que se destinavam
saíam rapidamente – questão de poucos meses até virem a lume. Ultimamente,
tenho estranhado que pelo menos dois dos que escrevi há mais de um ano – os
autores exigindo pressa – ainda não ocupem prateleiras de lojas e bibliotecas.
Terão seus autores desistido da empreitada? Ou lançaram seus livros e não se
dignaram a convidar-me para o lançamento, não me enviaram um exemplar
devidamente autografado ou, na mais simplória das hipóteses, não telefonaram
para contar onde estão à venda e a que custo?
Dos
recentes e publicados, um deles, morador no interior, deve ter ficado zangado
porque não pude comparecer à festa de lançamento; isso implicaria a viagem e,
no dia marcado, tive problemas impeditivos em Goiânia, infelizmente; perguntei
onde encontrar o livro e o autor, prontamente, cuidou de enviar-me um exemplar,
com a competente dedicatória – mas o exemplar que me veio está defeituoso,
faltando várias páginas. Informei o meu “apadrinhado” sobre tal anomalia, mas
ele não se manifestou. Ainda bem que li o original, mas não posso exibir o
livro do meu amigo a outras pessoas.
Do
“lado B”, cuidei há décadas de copiar para arquivo do computador todos os
escritos dos meus amigos em livros meus. São relíquias que conservo com zelo e
carinho, como velhas fotografias de companheiros de caminhadas, parceiros em
viagens. Um dos meus livros saiu sem prefácio nem qualquer outro comentário,
seja no miolo da obra ou em orelhas; noutro, eu próprio prefaciei o livrinho,
achei que devia uma autoexplicação aos leitores.
Manias
de escribas, mormente quando o autor é o editor de seu próprio trabalho; e,
confesso, no caso do prefácio de própria lavra, foi uma dica do poeta Valdivino
Braz: “Esse livro fecha uma trilogia; esclareça isso ao seu leitor”, e o fiz
com prazer – mas devo contar a participação do velho amigo.
Enfim,
que razão tenho eu, a esta altura, para falar dessas coisas? Ora, amigos, uma
crônica é, para mim, uma conversa informal, como fazíamos antes nos beirais dos
prédios, nas calçadas das esquinas, nas mesas dos bares e cafés. São ocasiões
em que falamos do que fazemos, do que nos ocupa e das nossas sensações
momentâneas. Gosto muito de produzir meus livros com a companhia dos
companheiros de melhor valia literária, daí o prazer das releituras – e é disso
que ando ocupado, estes dias.
Momento
de lustrar o próprio umbigo. E louvar as amizades, ainda que findas, algumas.
*
* *
Em tempo: O mais recente, dentre os publicados, dos livros prefaciados por mim é Um dia como outro qualquer, do montes-clarense Fernando Yanmar Narciso. Clique para conhecer e comprar:
https://www.facebook.com/umdiacomooutroqualquer
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2 comentários:
Luiz, seu prefácio do livro de Fernando Yanmar Narciso, "Um dia como outro qualquer" foi muito comentado, e elogiado. O livro ficou com dois prefácios, o seu e o de Pedro J Bondaczuk e é bom que se esclareça o motivo. Quem convive com quem tem TDAH entende a impulsividade vigente neste tipo de personalidade. Faz várias coisas ao mesmo tempo, e também pede prefácios a mais de uma pessoa, e publica os dois. Assim, da mesma forma que há discos com dois ou mais tipos de capas, este livro tem dois prefácios.
Bela crônica, Luiz, a enfocar algo que também me atormenta cada vez de lançar um livro: com ou sem prefácio? Com ou sem contracapa? Com ou sem orelhas? A quem pedir? Quem sei que irá recusar? Questões elementares e, no entanto, da maior importância para quem está lançando uma obra. Parabéns. Abraços. Pedro.
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