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domingo, junho 01, 2014

De prefácios e afins

De prefácios e afins







A maioria dos escritores com quem me relaciono não cogita sobre o tema – outros, porém, fazem-no com seriedade: falo de prefácios, apresentações e orelhas de livros.

O primeiro a dizer-me avesso a prefácios foi José J. Veiga; e disse-me ainda que João Guimarães Rosa pensava igual: ambos rejeitavam sistematicamente prefácios, bem como não os escreviam. Digamos que há coerência, pois. E há também os que aceitam a prática e, num dado momento, rejeitam-na.

De minha parte, eu gosto. Não que os considere indispensáveis... Mas o livro é uma festa, e os convidados de honra são esses a quem mostramos nossos originais e deles recebemos análises críticas ou apresentações, ou ainda comentários ágeis e afetuosos, que publicamos nas orelhas ou na contracapa da obra.

A qualquer momento, hei de publicar um livro contendo os textos que já escrevi em livros alheios – prefácios, apresentações e orelhas ou contracapas. Certo é que entre estes haverá autores com quem ainda convivo, haverá os que se foram e aqueles que se isolaram; haverá algum que se tornou ex-amigo e até mesmo desafeto, que as relações humanas são uma arte ou um fatalidade, o tempo as define.

Até há pouco tempo, os prefácios eram escritos e os livros a que se destinavam saíam rapidamente – questão de poucos meses até virem a lume. Ultimamente, tenho estranhado que pelo menos dois dos que escrevi há mais de um ano – os autores exigindo pressa – ainda não ocupem prateleiras de lojas e bibliotecas. Terão seus autores desistido da empreitada? Ou lançaram seus livros e não se dignaram a convidar-me para o lançamento, não me enviaram um exemplar devidamente autografado ou, na mais simplória das hipóteses, não telefonaram para contar onde estão à venda e a que custo?



Dos recentes e publicados, um deles, morador no interior, deve ter ficado zangado porque não pude comparecer à festa de lançamento; isso implicaria a viagem e, no dia marcado, tive problemas impeditivos em Goiânia, infelizmente; perguntei onde encontrar o livro e o autor, prontamente, cuidou de enviar-me um exemplar, com a competente dedicatória – mas o exemplar que me veio está defeituoso, faltando várias páginas. Informei o meu “apadrinhado” sobre tal anomalia, mas ele não se manifestou. Ainda bem que li o original, mas não posso exibir o livro do meu amigo a outras pessoas.
Do “lado B”, cuidei há décadas de copiar para arquivo do computador todos os escritos dos meus amigos em livros meus. São relíquias que conservo com zelo e carinho, como velhas fotografias de companheiros de caminhadas, parceiros em viagens. Um dos meus livros saiu sem prefácio nem qualquer outro comentário, seja no miolo da obra ou em orelhas; noutro, eu próprio prefaciei o livrinho, achei que devia uma autoexplicação aos leitores.

Manias de escribas, mormente quando o autor é o editor de seu próprio trabalho; e, confesso, no caso do prefácio de própria lavra, foi uma dica do poeta Valdivino Braz: “Esse livro fecha uma trilogia; esclareça isso ao seu leitor”, e o fiz com prazer – mas devo contar a participação do velho amigo.


Enfim, que razão tenho eu, a esta altura, para falar dessas coisas? Ora, amigos, uma crônica é, para mim, uma conversa informal, como fazíamos antes nos beirais dos prédios, nas calçadas das esquinas, nas mesas dos bares e cafés. São ocasiões em que falamos do que fazemos, do que nos ocupa e das nossas sensações momentâneas. Gosto muito de produzir meus livros com a companhia dos companheiros de melhor valia literária, daí o prazer das releituras – e é disso que ando ocupado, estes dias.


Momento de lustrar o próprio umbigo. E louvar as amizades, ainda que findas, algumas.


* * *

Em tempo: O mais recente, dentre os publicados, dos livros prefaciados por mim é Um dia como outro qualquer, do montes-clarense Fernando Yanmar Narciso. Clique para conhecer e comprar:
https://www.facebook.com/umdiacomooutroqualquer


2 comentários:

Mara Narciso disse...

Luiz, seu prefácio do livro de Fernando Yanmar Narciso, "Um dia como outro qualquer" foi muito comentado, e elogiado. O livro ficou com dois prefácios, o seu e o de Pedro J Bondaczuk e é bom que se esclareça o motivo. Quem convive com quem tem TDAH entende a impulsividade vigente neste tipo de personalidade. Faz várias coisas ao mesmo tempo, e também pede prefácios a mais de uma pessoa, e publica os dois. Assim, da mesma forma que há discos com dois ou mais tipos de capas, este livro tem dois prefácios.

Pedro Du Bois disse...

Bela crônica, Luiz, a enfocar algo que também me atormenta cada vez de lançar um livro: com ou sem prefácio? Com ou sem contracapa? Com ou sem orelhas? A quem pedir? Quem sei que irá recusar? Questões elementares e, no entanto, da maior importância para quem está lançando uma obra. Parabéns. Abraços. Pedro.