Sapucaia, outra vez!
Crônica de 2011 (como a sapucaia da Nova Vila está de novo
esplendorosa, decidi republicá-la). Confiram em http://penapoesiaporluizdeaquino.blogspot.com.br/2011/09/sapucaia.html).
Primeiro, o dicionário de papel; depois, uma consulta ao Google. Faltou-me
um bom livro de botânica brasileira, mas o que encontrei é o bastante. Queria
saber um pouco sobre uma solene árvore que fica junto ao muro do Parque
Agropecuário, junto da esquina da Avenida Meia-Ponte com a Rua Um da Nova Vila,
na esquina próxima ao CRER.
Bem, uma amiga me preveniu: a árvore, estes dias, está totalmente
desfolhada. Indica que estamos nas últimas semanas da estação seca e em poucos
dias ela passará pela floração. Suas folhas ficarão róseas (as mulheres que me
ajudem! Eu chamo aquilo de cor-de-rosa, mas as mulheres terão no mínimo cinco
nomes que bem marcam os tons variados do que eu chamar de cor). E ao pesquisar
o nome “sapucaia”, encontrei um exemplar dessa árvore no ponto em que se faz
muito bela, belíssima! Mais que quando verde, que o verde das folhagens é
também expressão de raríssima beleza, mas a coloração festiva só ocorre uma vez
a cada ano e justo nessa transposição do Inverno para a Primavera (os nomes das
estações em maiúsculas obedece a regra que trago dos tempos de primário; qualquer
mudança posterior aparece-me como novidade não convincente).
Volto aos conceitos: o dicionário em papel – no caso, o Caldas Aulete
(tenho reservas ao Aurélio) – diz-nos que sapucaia é nome de várias árvores,
mas dá primazia ao nome científico de uma delas, Lecythis pisonis. E
a enciclopédia virtual Wikipédia (nem tudo o que vemos lá é confiável, porque
aceita acréscimos, em alguns casos) informa um pouco mais: “popularmente
conhecida por sapucaia ou cabeça-de-macaco, é uma árvore brasileira da família das lecitidáceas. Sua semente é chamada castanha-de-sapucaia. A palavra sapucaia tem origem tupi, ainda que existam diferenças nas propostas etimológicas: ou resulta da
união dos elementos sa, puca e ia (respectivamente: “olho”, “que se abre” e “cabaça) - já que ao abrir-se o opérculo do fruto (que é um pixídio) parece que se vê um olho. Por outro lado, há quem considere que a
palavra tem origem na palavra tupi para galinha (elemento de troca entre índios e portugueses, no início da
colonização, que as trocavam pelas sementes do fruto, as castanhas).
Pois é! Algumas árvores marcam bem nosso habitat. A sapucaia no Parque
da Pecuária é uma das principais referências de Goiânia – como as gameleiras do
Setor Sul e as do Setor Universitário; os ipês em toda a cidade (tenho
preferência por um ipê branco na Avenida 136, entre a Praça Kalil Gibran e a
Rua 115), e as buganvílias da Avenida Portugal.
Daqui a poucos dias, a sapucaia vai florescer e está em mim a impressão
de que flores e folhas ganham a mesma cor. É o que vejo nas fotos pesquisadas
na Internet. Muita gente vai até lá fotografá-la, postar fotos em suas páginas
no Orkut e no Facebook, mostrar aos amigos... É comum a gente se apegar a
árvores, elas nos sugerem segurança. E é comum também nos encantarmos com as
flores. Flor é sexo de plantas, é a demonstração natural da reprodução, tal
como o ventre avolumado das fêmeas sugerem vida nova. Para a sapucaia, o ano
deve começar agora, ao término de seu desfolhamento natural para dar lugar ao
novo, às flores e aos frutos que virão a seguir.
A natureza ensinou-nos muito! Inclusive a medir o tempo: dias e noites
são instantes distintos, mas aprendemos que noite e dia somam-se para mostrar a
porta-bandeira Terra a sambar em torno do mestre-sala Sol; a Lua mostra-nos a
semana em cada fase e soma-as para nos dar um mês; e as plantas, florescendo
assim como a Sapucaia (agora, em maiúscula; e é desnecessário explicar) nos
mostra um ano. E os nômades dos desertos “descobriram” o ano contando estrelas!
Em síntese, é a vida a renovar-se, a renascer e... a nos ensinar! Os
contadores de dinheiro e outros bens materiais desatinam-se ao tentar
ridicularizar os poetas que apreciam as flores, a Lua, o Sol, as estrelas... a
natureza em geral. Não sabem, esses desavisados, que viver é poetizar. E,
poetizando, fui até a Nova Vila fotografar a sapucaia desnudada. Feito eu
mesmo, meio século atrás, a bisbilhotar, à fechadura, a prima que se enfeitava
após o banho.
Aquela nudez sugeriu alegria! Não está bela, a árvore, ela apenas se
prepara para ornamentar-se de cor, como a prima se embelezava de tecidos e
adereços, jóias e carmins de pó-compacto e batom. E nós, cidadãos da cidade,
admiradores enamorados, voltaremos lá para regalo dos olhos e registros de
imagens.
* * *
Luiz, quando li sua crônica e vi o pé de sapucaia, me veio logo uma brincadeira
poética, que aí vai:
Vilancico
Venha
logo, tire a saia,
venha logo, meu amor,
debaixo da sapucaia,
o chão coberto de flor,
passarinhos dando vaia
no meu jeito de doutor
e no seu ar de gandaia
venha logo, meu amor,
galopando além da baia,
seja aqui, por onde for,
no mar salgado, na praia,
na tristeza de uma dor,
na beleza do Araguaia,
venha logo, meu amor,
para o meu rabo-de-arraia,
você no chão, com suor,
na moita de samambaia,
eu morrendo de calor
como um homem de tocaia
tendo você ao dispor
e que dança, canta, ensaia
e nunca sai do isopor
Gilberto
Mendonça Teles - Rio, 2/9/2011
2 comentários:
Aqui em Montes Claros tem o Parque Sapucaia. As flores das árvores daqui são amarelas e pequenas. Boa erudição nos apresenta para a árvore, antecipando aquela imagem linda. Apenas um reparo: o Orkut foi desativado.
Poesia mais informação resultam em grande prazer na leitura!
Postar um comentário