Este artigo está publicado também no Diário da Manhã (Goiânia) de hoje: http://digital.dm.com.br/#!/view?e=20151002&p=23
Educação: prefiro as OS
Nós, goianos, adoramos forasteiros, falas exóticas
e posturas que parecem novas. E, hospitaleiros, abrimos nossas portas e os
admitimos em nossas salas e varandas, oferecemos nossas quitandas e nossos
assados, as iguarias das nossas avós e... Quando despertamos (já ia escrever
“damos por fé”), lá se foi nosso almoço, nosso lanche e nosso jantar! Perdemos
o que nos identificava.
O problema é que aceitamos tudo passivamente. Eu vi a minha cidade
natal, Caldas Novas, escapar das nossas mãos para o controle definitivo dos forasteiros,
que pisotearam as nossas memórias, a ponto de tentarem até mesmo demolir a
Igreja de Nossa Senhora das Dores, o edifício em torno do qual, em 1850, surgiu
o povoado original.
O mesmo se dá na
Educação. Cansam-nos as notícias de descasos, como problemas com a merenda
escolar, óbices “insuperáveis” na questão do transporte escolar, professores
desmotivados, alunos violentos e sem perspectivas – enfim, esse caos que nos
chega pelos noticiários de todos os dias.
A saída, a meu ver, é a terceirização da gestão também no Ensino,
prática que, testada na Saúde, mostra resultados excelentes. Mas o gosto pelo
“que vem de fora” já nos contamina a ponto de a secretária da Educação entender
assim: “O trabalho do Afroreggae é uma tecnologia social desenvolvida ao longo
dos últimos 22 anos, para resgatar jovens das drogas. Só eles conseguem
transformar traficantes, não apenas dependentes. Não teriam reconhecimento
internacional como têm, se fosse só mídia. Tenho vídeos impressionantes do
trabalho deles. E não vai nos custar nem um tostão”, Isso, a uma pergunta minha
se somente “os de fora” podem atuar em projetos de tal natureza.
Estranhei muito a frase “Só eles conseguem
transformar traficantes, não apenas dependentes”. Imaginei que a grande
imprensa está equivocada ao noticiar o aumento do poder dos traficantes no Rio
de Janeiro, as balas perdidas, os inocentes mortos, o ataque rotineiro a quartéis
da Polícia.
Gostar “dos de fora” parece ser algo de forte na
personalidade da secretária da Educação, da Cultura e do Esporte em Goiás. Há
poucos dias, ela estava em São Paulo para dialogar com o ex-prefeito de
Anápolis, Ernani de Paula. Vozes dos corredores da Educação diziam que ela
“entregaria” a Educação goiana ao ex-prefeito cassado por... Ah! Foi há uns dez
anos, informem-se!
Outra ação que nos indigna é menosprezar os
inúmeros e bons professores preparados do Estado, o Conselho Estadual de Educação
e mesmo as Academias de Letras, que somariam valores neste projeto. Respeito a
Fundação Getúlio Vargas, mas se há um projeto nascendo em Goiás, que seja
discutido e planejado aqui.
Estranha-me, também, termos na linha de frente na
elaboração dos critérios do chamamento público (inclusive sendo o responsável
para o aceite das Organizações Sociais) um “ex-dono de escola particular em
Goiânia” – no caso, o Superintendente Executivo Marcos das Neves, conhecido
como Tucano. Não lhe desmereço a capacidade, apenas questiono a sua
participação.
Em todas as entrevistas que ouço, os próprios
radialistas afirmam que Raquel Teixeira é contra a implantação desse novo
modelo. Recentemente, em discurso na Universidade Federal de Goiás, ela deixou
claro o seu posicionamento. Disse textualmente: “Aceitei ser secretária de um
governador que quer experimentar OS; ou eu faço um piloto e dou alguma resposta
para o governador, ou peço as contas e vou embora”. E disse ainda que seu
marido a chamou de “bucha-de-canhão, pois apanha do governador e apanha dos
professores, estando em uma situação muito vulnerável, considerando-se fraca
frente a Thiago Peixoto tipo por ela como um homem forte do governo”.
Na verdade, todos sabemos que Raquel Teixeira tem
pensamento contrário às ações empreendidas por Thiago Peixoto quando Secretário
de Educação. O atual Secretário de Planejamento implementou o Pacto pela
Educação e mostrou resultados positivos. E a atual secretária, com nove meses
no cargo, ainda não disse a que veio.
O que se pode esperar é uma queda abrupta no
próximo Ideb – e não faltarão desculpas. Resta-nos um futuro ainda incerto
quanto ao que o governador tem propagado aos quatro cantos, que é a implantação
das OS na Educação. Isto, mais do que nos preocupar, demonstra um desencontro
de ideias e, o que é mais sério, uma ausência de compromisso com o que o
governador Marconi Perillo determinou.
Considero um erro a Secretaria de Cultura agregada
à da Educação. Se antes nos faltava o horizonte, hoje ele sequer existe! A ida
do Prof. Nasr Chaul para a Superintendência Cultural trouxe-nos um certo
alento, mas a dependência e os entraves burocráticos a que ele está sujeito,
somados aos diversos problemas existentes, não permitirão que ele repita a
gestão promissora que teve à frente da Agência Pedro Ludovico Teixeira, a
extinta Agepel.
Todos sabem do meu afeto e respeito para com o
governador Marconi Perillo, a quem acompanho desde sua primeira eleição para
deputado estadual, mas a cada ano inúmeros companheiros de primeira hora,
formadores de opinião, têm sido preteridos e esquecidos. Lamentavelmente,
enquadro-me entre estes.
Optar pelas Organizações Sociais na Educação é um
caminho sério. Apesar da seriedade e competência do Secretário Extraordinário
Dr. Antônio Faleiros à frente da organização deste chamamento, sinto-o sem o
amparo de uma equipe similar à que teve quando titular da Saúde. O que se tem em
evidência são as constantes contradições de Raquel Teixeira, que até o momento
não mostrou qualquer fato novo – aliás, e com sinceridade: ela parece querer ir
na contramão do que determina o
governador.
Já iniciamos o mês de outubro, o que significa redução
do tempo para o chamamento público, o aceite das Organizações Sociais, a
assinatura do contrato de gestão e as burocracias deste caminho. O próximo ano
letivo está próximo. Até agora, muito discurso e pouca ação.
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