Algo
de bom no meio do péssimo
Esta
foi uma semana de boas-novas. Não no campo da política, que a bagunça está cada
vez mais aprimorada e os arranjos governamentais para “unificar” a “base
aliada” sugerem o enfraquecimento da principal mandatária e o fortalecimento de
seu imediato (o que chamamos, nas conversas informais, de “tiro no pé”); não
nos noticiários do nosso quotidiano, com os tiroteios que resultam em mortes de
policiais, de bandidos e de inocentes; não
nas informações da área econômica, com os aumentos de impostos e a criação de
novas medidas que nos apavoram e nos assustam – é como sugar o sangue de alguém
anêmico.
E
ainda também não no que toca a um equilíbrio das contas pessoais, que a conjuntura
macro está asfixiando os pequenos e os micros, bem como as pessoas. Há
inadimplência, e isso tira o sono dos pequenos e das pessoas devedoras,
compromete a grandeza e a soberba dos médios e grandes e reduz drasticamente a
arrecadação – mas os “sábios” dos governos ainda não atentaram para esse
dominó.
Sendo
assim, há de perguntar-me o leitor: “Com tanta notícia ruim, o que o poeta vê de
bom, ainda?”. Ah, eu vejo as pessoas! Vejo a força do homem comum, o cidadão do
povo, esses pais e mães, esses amigos e companheiras, conhecidas e
admiradores... (Os novos hábitos pedem que citemos os dois gêneros). Em suma,
mesmo diante de tantas más notícias e seus consequentes dissabores, há no ar
uma aura de luz e cores.
Foi,
portanto, uma semana cheia de boas ilhas nesse mar de malvadezas. Em pequenos
passos, os negócios em atraso acham os meios da solução. Vendedores nos xópins
ou nas calçadas anseiam pela chegada de bons clientes, o desfecho de boas
compras. Amigos e conhecidos, em busca de relações harmônicas, trocam palavras
gentis e algumas boas novas...
Então,
pessoas amigas, entendam que mesmo sob os maus eflúvios da esfera
político-econômica, dos ambientes parlamentares em que a “res publica”, ou
seja, a “causa do povo” é esquecida, mesmo com os cálculos mirabolantes que nos
anunciam dias piores, que nos dão conta de demissões em massa e prenúncios de
mais malvadezas, o bicho homem procura dentro de si um jeitinho de deixar
brotar folhas novas e flores que garantam a continuidade da espécie – e que
Deus nos permita uma continuidade... mais saudável que a nossa!
E
como falei de folhas e flores, acho bom contar aos amigos que tive, da natureza
que me é mais próxima, duas notícias maravilhosas – um dos 12 exemplares de
pequizeiros do meu quintal desabrochou o primeiro botão, o que anuncia a
chegada dos primeiros frutos desse símbolo do cerrado e de Goiás. Que os demais
comecem também a se revelarem para a produção!
Não
bastasse esse regozijo, bisbilhotando a renovação das flores numa pequenina
árvore (dessas que bem representam o cerrado, perdendo todas as folhas para
florir ou somente para renovar-se), dei-me conta de que se tratava de mais um
ipê! E mais feliz ainda eu fiquei, na manhã de quinta-feira, ao verificar que
brotavam também algo de verde, mas em tom ligeiramente diferente daqueles
folíolos. Eram as primeiras flores do meu ipê verde!
Fotografei
e publiquei como capa do meu perfil no Facebook. E comentei, festejei, contei
para todo mundo, uai! Eu já vinha fazendo consultas, queria um exemplar desse
raro ipê, mas ganhei-o assim, de presente, e espero o andamento natural dessa
planta para, assim que se cumprir o tempo, eu possa distribuir sementes ou
mesmo mudas.
Resumindo
tudo, e neste resumo eu tento não inserir mazelas, penso seriamente que essas
boas notícias são o antídoto para as malvadezas. Leio, todos os dias, críticas
e agressões trocadas por adeptos políticos do que eles próprios dizem ser os
dois polos opostos, mas sei que cada qual apenas cumpre o papel de quem busca
chegar ao poder ou manter-se nele – triste é saber que para tanto os escrúpulos
são dispensados e com ele vai-se também o respeito ao próximo.
Melhor,
portanto, deliciar-me com as plantas. Assim renovo as forças para enfrentar os
dissabores – inclusive os que me mandam velhos amigos por quem, até o momento
certo, eu nutria admiração (mas os mal-intencionados não conseguem ocultar suas
malvadezas).
***
Luiz de Aquino é jornalista e escritor,
membro da Academia Goiana de Letras.
Um comentário:
Querido poeta, que lindeza de crônica!
Como é possível deixar a tristeza de lado" se de fato és poeta" ( samba antigo que me veio à cabeça). E é possível festejar e comemorar a vida na pujança das árvores que abrem os braços para, naquele abraço, nos fazer crianças outra vez. E secar-nos as lágrimas e consolar-nos , desencantados, que às vezes, nos aquietamos ao calor de sua sombra amiga. A jabuticabeira vestiu-se de
noiva, outra vez, e mais realizamos o ritual da "inauguração" oficial, quando minha irmã e eu pudemos nos deliciar com lindos e dulcíssimos frutos da linda árvore plantada por papai, que trouxe a muda de nosso quintal em Bela Vista e a plantou. É sagrada para nós! Deixei lá, debaixo da jabuticabeira, um pouco da minha tristeza!
Abraço!
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