Meu
tempo é um
Flores brancas para Nossa Senhora Preta, madrinha do Brasil. |
Manhã de sábado
cinza, continuando a semana, permeando o solo para que as coisas do chão possam vir às nossas mesas. Manhã de
boa vontade, e uma vontade de não fazer senão o que faz encanto, respeitando
tudo o que jaz num canto (de casa ou das cidades, como coisas de mero adorno ou
referências de memória, saudade e tristeza).
Ruim isso de
lembrar o que é triste – deixo pra lá, pois! Queria ter mãos feito olhos, mãos
capazes de desenhar o que vejo... Então desenho com o olhar e encanto-me das
folhas do pequizeiro à janela, do voo colorido do canário-da-terra, do cantar
de ébano de um pássaro que não identifico. Anteontem, colhi rosas brancas e as
ofertei à Senhora Aparecida, madrinha da Pátria. Confiro as atas nos pés,
preencho o silêncio com os sons de flauta transversal, pandeiro, violão de sete
cordas, bandolim... Obviamente chorinhos maviosos, coisas de evocar o pai sem tristeza,
imagens da mãe a oferecer acepipes, algum tio chegante com cerveja e dois
amigos. É bom lembrar a casa infante, irmãos menores e chatos – mas
indispensáveis, insubstituíveis, infalíveis!
As folhas do pequizeiro enfeitando minha casa |
Viagem de
pensamento – coisa que pratico desde sempre em mim. Dia desses, defini para
alguém que não tenho passado, pois passado é tudo o que havia no tempo antes de
mim. Desde que nasci, vivo o presente – por sequência, sei que o futuro é tudo
o que virá após a minha morte. Futuro é um trem abstrato, remoto, é tudo o que
não vou conhecer em matéria. Futuro é um tempo em que hei de reencarnar noutra
forma, outro corpo, outra mente, apenas este espírito que é meu agora, que já
me fez homem ou mulher (quantas vezes?), bom ou mau, distinto ou delinquente,
amoroso ou assassino, sei lá! Não quero meu passado, não – pode doer muito mais
que me envaidecer; e não quero o futuro, só o terei quando a Vontade Superior
determinar-me nova missão.
Meu tempo é um,
pois! E é neste tempo que amanheço, desperto-me, alongo-me e levanto-me para
novas ações sob o sol, como ouvir notícias, ler outras, curtir as cores e os
movimentos – de asas e folhas, de algum carro ou moto passando lento na rua em
frente. Olho as estantes, os livros, velhos cadernos, a resma de papel e a
lembrança de ter escrito, um dia, acerca do desafio da folha de papel em branco
– e era o tempo de eu-datilógrafo, escrevendo cuidadoso para reduzir as vezes
em que copiaria tudo de novo até acreditar que dava o texto por pronto.
Adalberto de Queiroz, da Literatura Goyaz - Antologia 2015. |
Ademira Hamo - poeta vascaíno |
Três antologias
no ano recém findo: Histórias de Ternura, organizada pelo poeta Ademir Hamu e
pela artista sensível Rossana Roriz da Veiga Jardim; Literatura Goyaz –
Antologia 2015, organizada pelo poeta Adalberto de Queiroz; e, do Rio de
Janeiro, Ao Pedro II Tudo ou Nada? (Vol. 4), com organização de Mírian S. Cavalcanti,
Paulo Rubem de Souza Valente e Fernando Antônio Quintella Ribeiro. Ou seja, não
publiquei obra individual.
Fernando Quintella, CPII |
Mirian S. Cavalcanti, nossa editora. |
Ah! Como
esquecer? Mais de cinquenta crônicas e artigos publicados na última página do DM, aos
domingos (alguns esporádicos no caderno Opinião Pública
(Diário da Manhã) e no blog: http://penapoesiaporluizdeaquino.blogspot.com, além de incontáveis páginas de ternura, carinho, amizade, contestação, crítica, deboche, cordialidade, preocupação cívica e compromisso cidadão em tópicos aos milhares nas redes sociais da Internet.
(Diário da Manhã) e no blog: http://penapoesiaporluizdeaquino.blogspot.com, além de incontáveis páginas de ternura, carinho, amizade, contestação, crítica, deboche, cordialidade, preocupação cívica e compromisso cidadão em tópicos aos milhares nas redes sociais da Internet.
Minhas atas, quase no ponto... |
Mas nada se
compara às manhãs dos sábados! São 52 a cada ano e gosto de sentir que, mesmo
despertado pelos raios do astro-rei, posso demorar-me lendo, ainda na cama,
tomar o café sem pressa, alinhar algumas canções para ouvir enquanto escrevo e
me reafirmo neste meu viver-presente que se estica por 70 anos e quatro meses.
Bom dia, Sol!
Boa dia, Natureza! Bom dia, Amores amigos, amantes, filhos, irmãos, tios,
sobrinhos de três patamares, primos e companheiros de tantas jornadas de
letras, de trabalho formal, de ensino e aprendizagem...
Bom dia, Anjos!
***
Luiz de
Aquino é professor, jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.
4 comentários:
Amigo Aquino,sei que gosto de te ler,sei que gosto de te ouvir. Você disse que todo tempo de sua vida é presente... presente é viver e gostar de viver, sinto você amar a natureza, os amigos, família, contemporâneos, passarinhos... O presente é um presente!
Luiz De Aquino Alves Neto, Adorei a crônica. Como todas. Um presente!
Doçura, doçura, doçura. Prosa poética.
Luiz, de tudo de bonito que li vindo de você, esta página foi se abrindo ante meus olhos com uma beleza incomparável, com a grandeza luminosa que só as coisas simples têm. Bendito quem tem o merecimento de ter esse dom de assim escrever. Beijo!
A sua maneira de ver o passado, presente e futuro são únicos, e sua rotina é transformada em algo doce, pois assim melhor agrada ao paladar.
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