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sábado, janeiro 16, 2016

Meu tempo é um

Meu tempo é um



Flores brancas para Nossa Senhora Preta, madrinha do Brasil.



Manhã de sábado cinza, continuando a semana, permeando o solo para que as coisas do chão possam vir às nossas mesas. Manhã de boa vontade, e uma vontade de não fazer senão o que faz encanto, respeitando tudo o que jaz num canto (de casa ou das cidades, como coisas de mero adorno ou referências de memória, saudade e tristeza).
 
Ruim isso de lembrar o que é triste – deixo pra lá, pois! Queria ter mãos feito olhos, mãos capazes de desenhar o que vejo... Então desenho com o olhar e encanto-me das folhas do pequizeiro à janela, do voo colorido do canário-da-terra, do cantar de ébano de um pássaro que não identifico. Anteontem, colhi rosas brancas e as ofertei à Senhora Aparecida, madrinha da Pátria. Confiro as atas nos pés, preencho o silêncio com os sons de flauta transversal, pandeiro, violão de sete cordas, bandolim... Obviamente chorinhos maviosos, coisas de evocar o pai sem tristeza, imagens da mãe a oferecer acepipes, algum tio chegante com cerveja e dois amigos. É bom lembrar a casa infante, irmãos menores e chatos – mas indispensáveis, insubstituíveis, infalíveis!


As folhas do pequizeiro enfeitando minha casa
Viagem de pensamento – coisa que pratico desde sempre em mim. Dia desses, defini para alguém que não tenho passado, pois passado é tudo o que havia no tempo antes de mim. Desde que nasci, vivo o presente – por sequência, sei que o futuro é tudo o que virá após a minha morte. Futuro é um trem abstrato, remoto, é tudo o que não vou conhecer em matéria. Futuro é um tempo em que hei de reencarnar noutra forma, outro corpo, outra mente, apenas este espírito que é meu agora, que já me fez homem ou mulher (quantas vezes?), bom ou mau, distinto ou delinquente, amoroso ou assassino, sei lá! Não quero meu passado, não – pode doer muito mais que me envaidecer; e não quero o futuro, só o terei quando a Vontade Superior determinar-me nova missão.

Meu tempo é um, pois! E é neste tempo que amanheço, desperto-me, alongo-me e levanto-me para novas ações sob o sol, como ouvir notícias, ler outras, curtir as cores e os movimentos – de asas e folhas, de algum carro ou moto passando lento na rua em frente. Olho as estantes, os livros, velhos cadernos, a resma de papel e a lembrança de ter escrito, um dia, acerca do desafio da folha de papel em branco – e era o tempo de eu-datilógrafo, escrevendo cuidadoso para reduzir as vezes em que copiaria tudo de novo até acreditar que dava o texto por pronto.



Adalberto de Queiroz, da Literatura
Goyaz - Antologia 2015.

Ademira Hamo - poeta vascaíno
Rossana Jardim, artista de tanta ternura.

Três antologias no ano recém findo: Histórias de Ternura, organizada pelo poeta Ademir Hamu e pela artista sensível Rossana Roriz da Veiga Jardim; Literatura Goyaz – Antologia 2015, organizada pelo poeta Adalberto de Queiroz; e, do Rio de Janeiro, Ao Pedro II Tudo ou Nada? (Vol. 4), com organização de Mírian S. Cavalcanti, Paulo Rubem de Souza Valente e Fernando Antônio Quintella Ribeiro. Ou seja, não publiquei obra individual.

A memõria do Colégio, em seu Volume 4

Fernando Quintella, CPII 

Paulo Rubem (CPII) com o
netinho vascaíno

Mirian S. Cavalcanti, nossa editora.



Ah! Como esquecer? Mais de cinquenta crônicas e artigos publicados na última página do DM, aos domingos (alguns esporádicos no caderno Opinião Pública
(Diário da Manhã) e no blog: http://penapoesiaporluizdeaquino.blogspot.com, além de incontáveis páginas de ternura, carinho, amizade, contestação, crítica, deboche, cordialidade, preocupação cívica e compromisso cidadão em tópicos aos milhares nas redes sociais da Internet.


Minhas atas, quase no ponto...


Mas nada se compara às manhãs dos sábados! São 52 a cada ano e gosto de sentir que, mesmo despertado pelos raios do astro-rei, posso demorar-me lendo, ainda na cama, tomar o café sem pressa, alinhar algumas canções para ouvir enquanto escrevo e me reafirmo neste meu viver-presente que se estica por 70 anos e quatro meses.

Bom dia, Sol! Boa dia, Natureza! Bom dia, Amores amigos, amantes, filhos, irmãos, tios, sobrinhos de três patamares, primos e companheiros de tantas jornadas de letras, de trabalho formal, de ensino e aprendizagem...

Bom dia, Anjos!


***


Luiz de Aquino é professor, jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.

4 comentários:

Rosy Cardoso disse...

Amigo Aquino,sei que gosto de te ler,sei que gosto de te ouvir. Você disse que todo tempo de sua vida é presente... presente é viver e gostar de viver, sinto você amar a natureza, os amigos, família, contemporâneos, passarinhos... O presente é um presente!
Luiz De Aquino Alves Neto, Adorei a crônica. Como todas. Um presente!

Jô Sampaio disse...

Doçura, doçura, doçura. Prosa poética.

Mirian da Silva Cavalcanti (escritora e editora) disse...

Luiz, de tudo de bonito que li vindo de você, esta página foi se abrindo ante meus olhos com uma beleza incomparável, com a grandeza luminosa que só as coisas simples têm. Bendito quem tem o merecimento de ter esse dom de assim escrever. Beijo!

Mara Narciso disse...

A sua maneira de ver o passado, presente e futuro são únicos, e sua rotina é transformada em algo doce, pois assim melhor agrada ao paladar.