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sábado, julho 28, 2007

Aos pés imortais de Marta




Aos pés imortais de Marta

Loas e beijos aos pés imortais de Marta, a artilheira! Que bailarina! Que goleadora! Que atleta! E que time essa moça lidera!...

Imagino que um empresário, tendo nos quadros uma funcionária como a goleira Andréia, da Seleção Canarinho de Ouro deste PAN 2007, cuidaria logo de dispensá-la. “Ela não é necessária; veja só, neste campeonato, a moça nada fez!”. E eu, temeroso quanto ao aumento do índice de desemprego, tentaria lhe mostrar: “Mas nada fez porque não foi sequer acionada, ela sequer sofreu algum gol”. O possível patrão teria um argumento a mais: “Mas é o que lhe digo; não preciso dela. Se tenho zagueiras tão eficazes e atacantes que decidem tudo lá na frente, devidamente interligadas pelas do meio de campo”...


Pois é! Eu estaria em vias de perder a discussão. Mas o interessante é fazer, no futebol, metáfora com uma empresa; geralmente, fazem o contrário. Cansei de ouvir, nos meus vários empregos como professor, bancário e jornalista, as comparações triviais de “não se mexe em time que está vencendo”, ou “goleiro pega bola com a mão dentro da área e não comete pênalti”, dentre outras.


Nos dois primeiros jogos de futebol feminino, os locutores já brincavam: “Mandem a Marta para a Seleção do Dunga, que não tem um bom camisa-dez”. E aí, vieram os meninos da Seleção Subdezessete, masculina, com aquele vexame: deixaram que um time desconhecido e anônimo, como a Seleção do Equador, lhes tomasse a chance de participar do torneio Pan-Americano. É claro, eu não sofri por isso; e, parece-me, nenhum torcedor tradicional da camisa amarela sofreu: tínhamos as garotas de Marta, a melhor do mundo.


E que alegria que nos dá essa Marta! Ela se desloca, se desmarca, dribla com graciosidade (lembra Garrinha), desvencilha-se, rodopia, cria, chuta e... É gol! E faz jus ao beijo do famoso José Alves de Moura, o beijoqueiro que dribla qualquer segurança. Ao final de Brasil - Estados Unidos, nesta quinta, após aquela ventania da véspera a preceder em Goiânia a garoa paulistana, lamentei não estar no Maracanã. Não como torcedor lá longe, na arquibancada: queria ser um repórter, enviado pelo DM, só para traduzir a emoção de ver, pela primeira vez, uma mulher pôr no cimento a marca de seus pés de ouro PAN, ao lado dos de tantos homens que fizeram a história do esporte mais popular no Brasil. Agora, passou a primeira: outras mulheres virão a pôr seus pezinhos delicados e perigosos na Calçada da Fama.


Faz falta, pois, neste Brasil de bola e gramado, um solene campeonato brasileiro de futebol feminino. Desta vez, as mulheres deixaram lições: vencer é possível, sim; talento e valor não dependem, necessariamente, de alta remuneração (coisa que nós outros, profissionais de qualquer atividade, sabemos de sobra). Senti-me de volta às Copas de 1958, 62 e 70, quando os atletas da bola tinham outros valores em que se firmarem, em lugar do dinheiro: talento e vontade, juntos.


Os mais exigentes, ou os mais pessimistas, hão de me contestar, alegando que não houve adversários à altura desse grande time de mulheres campeãs. Será? Ora, elas cresceram e evoluíram por conta própria. Nos Estados Unidos, os pais levam as filhas às escolas de futebol, aqui, as meninas enfrentam o preconceito em família. E nas Olimpíadas de Atenas, nossas garotas perderam o ouro justamente para as norte-americanas.


Competência e lealdade: neste PAN do Rio, a partida de final, com duas das mais valorosas equipes do torneio, termina com uma goleada (o time vencedor ainda se deu ao luxo de perder um pênalti), mas sem baixas por expulsão ou contusão. E o árbitro sequer precisou esticar o tempo regulamentar.

Vendo isso, dá na gente uma vontade de mandar recado:

– Dunga, dispense a rapaziada! Convoque as meninas de ouro do PAN!


14 comentários:

Marial disse...

Luiz de Aquino
Veja como ainda somos preconceituosos. A mulher infelizmente não tem muita vez no Brasil. Ótima sua crõnica sobre a Marta.
Vamos lutar!!!!
maria lindgren

Anônimo disse...

Não bastasse o talento assistido, pensar na história de luta de cada uma dessas mulheres é de arrepiar.
E você disse muito bem: talento e vontade deveriam ser, naturalmente, o norteador de todos nós. Pena que os valores mudaram tanto.
Ainda assim, sempre me emociono com o hino brasileiro cantado e honrado pela vitória de nossos desportistas. Mas, dessa vez, cantá-lo teve um sabor mais que especial.
Beijos, Luiz!

Mara Narciso disse...

Nos Estados Unidos, futebol(soccer) é coisa de menina e por isso mesmo tem muito mais valor a nossa goleada. Porque enquanto lá as meninas são estimuladas a jogar, aqui elas são coibidas e mesmo assim vencem o preconceito e a falta de salários.E melhor, vencem lindamente as nossas mais fortes adversárias. A plástica do futebol feminino é outra diversa da do masculino por ser mais lenta, suave e graciosa. Assim concordo com Luiz quando escreve em tom de exigência que está mais do que na hora de termos um Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino. Temos a medalha que os homens nunca conseguiram ganhar e todos os pré requisitos estão para fazermos um belo torneio. A bola está lançada.
Mara Narciso

Rita Ribeiro disse...

Oh! meu amigo Luiz que feliz comentário o seu tão inteligente e feliz é o povo brasileiro por ter essas mulheres maravilhosas.
É o que eu digo sempre se o mundo tivesse sob o controle das mulheres tudo seria diferente.
"Muito melhor". rsrsrs
Um abraço.

Anônimo disse...

Li e gostei.Realmente temos um time que joga com a garra que está faltando nos times masculinos.O motivo delas,só elas sabem;mas o resultado,todo mundo viu.E fez ressurgir das cinzas o espírito canarinho na torcida brasileira. Avante Brasilsilsil!
Parabéns!

Marly Cassino

Anônimo disse...

Oi Luiz..Que prazer e satisfação que senti ao ler sua crônica "Aos pés imortais de Marta" e mais feliz ainda em saber que vc tem a mulher no mais alto nível despreconceitoso da maioria dos homens que acham que lugar de mulher é pilotando fogão e cuidando dos filhos.Parabéns e, em nome de todas as mulheres agradeço.O universo feminino ficou mais rico depois de sua crônica.Abraços...

Madalena Barranco disse...

É isso aí Luiz, a Marta merece todo o carinho e apoio do povo brasileiro! A começar pela transmissão dos jogos da seleção feminina de futebol!!! Eu nunca havia assistido um jogo das meninas - na TV somente passam os jogos masculinos!!! Se não fosse pelo PAN, muita gente não conheceria esse time de sucesso. Beijos.

Unknown disse...

Luiz
Você está certo, elas deveriam estar na Seleção do Dunga, assim teríamos como torcer pela nossa Seleção.
Parabéns para as nossas "meninas", nós temos que mostrar que não é só os homens que sabem fazer tudo!!!.
Eva Maria (ex-Pedroca)

Anônimo disse...

Luiz
Você tem razão o Dunga deveria prestar atenção nas "Meninas de Ouro". A Marta mereceu deixar a marca dos seus pés para sempre no Maracana.
Gostei muito da crônica.

Eva Maria (ex-pedroca)

Anônimo disse...

Luiz
Você tem razão o Dunga deveria prestar atenção nas "Meninas de Ouro". A Marta mereceu deixar a marca dos seus pés para sempre no Maracana.
Gostei muito da crônica.

Eva Maria (ex-pedroca)

Anônimo disse...

Caro Luiz,
Adorei sua Crônica sobre as "meninas do Brasil" e sobre a gloriosa MARTHA !!
Os homens ficaram nos devendo essa, monetarismos à parte,claro...
Abração
Lenita

Anônimo disse...

Luis, adorei" aos pés imortais de Marta ", humildade e valor são coisas muito preciosas, parabéns!!!!!....

Anônimo disse...

Valeu poeta, como sempre mandando bem. ÓTIMA A CRONICA AOS PÉS IMORTAIS DE MARTA.
PENA QUE O PRECONCEITO AINDA PREVALECE, OU MELHOR TRANSCEDE A NOSSA CULTURA.Principalmente contra as mulheres.´Precisamos de muitos Luises de Aquino para mudar este quadro

Anônimo disse...

valeu poeta maior, pena que o preconceito contra as mulheres ainda prevalece. Linda cronica