
Luiz de Aquino
Naquele tempo de eu-menino, uma pessoa já era quase velha na casa dos trinta anos. Talvez tenha vindo de Balzac a primeira defesa da mulher madura, por exemplo. Nos meus quarenta e sete anos, Bernardo Elis chamou-me de jovem e, ato contínuo, questionou-me se eu era ainda um jovem. Foi a primeira vez que me dei conta de que o envelhecimento estava adiado.
Manhã de quinta-feira, 23 de julho, Sandra me telefona e, entre soluços, tenta contar que Regina se foi. Sim, esclareceu ela, Regina Viana. Entendi que a amiga chegou ao ápice da dor, justo ela que vencera tantos outros momentos. Nenhum novo fato se deu para precipitar o desfecho, apenas o somatório das angústias superara o nível de tolerância.
Conheci-a durante a campanha política de 1982. Era a primeira campanha com sabor (ou consciência) de liberdade desde aquele fatídico primeiro de abril de 1964. Não nos bastava derrotar o regime do arbítrio, mas demonstrar a intensidade da insatisfação popular, e isso se deu. Deu-se também aqui em Goiás.
Desde então, firmou-se entre nós uma bela amizade. E amizade nunca vem só, por isso tornamo-nos um grupo amplo e feliz, com os percalços naturais nas relações entre as pessoas. E Regina era um pólo, ou o centro da circunferência.
Algumas vezes, descobríamos amigos comuns, como Cláudio André, o poeta pintor. Em Pirenópolis, que Regina e a mana Stela escolheram, achamos mais pontos de ligação de nossos passados em comum. Stela radicou-se lá, Regina também construiu sua casa... Por tempos, editou o jornal O Pireneus, onde publiquei boa parte das minhas crônicas (por estes dias, cuido de selecionar textos sobre Pirenópolis, com vistas a um novo livro). Foi também em O Pireneus que Lucas, meu filho, ao lado de sua amiga Clara Luna (ele, então, ainda infante, e ela no começo da adolescência) exercitaram-se como jornalistas mirins, entrevistando José Mendonça Teles.
Lucas, aos seis anos, encontrou em Pedro, então com doze, o primeiro “amigo grande”. Pedro, filho de Regina, mudou-se para o plano superior aos quinze anos. Desde então, a mãe se vestiu da tristeza da ausência, traje de alma de que mãe alguma se desfaz. As dores de mãe foram mais fortes que o advento do avonato: uma semana antes nasceu Lavínia, filha de Carol. As fotos estão no Orkut, em sua página que se mantém aberta e ativa, como Regina Viana. Ou seja, nem mesmo essa passagem precocemente forçada a afasta de nós.
Regina, você não esperou... Festejou a chegada de Lavínia, sim, fez belas fotos (copiei aquela das quatro gerações, entre outras) e partiu. Nem me permitiu levar o Gabriel para conhecer a futura namorada. Também não gostei da última visita, essa que lhe fiz naquele final de tarde, na capelinha onde você parecia dormir em paz (finalmente em paz), enquanto a dor se expandia em nós.
E você, recém chegada à casa dos cinquent’anos, tão jovem...
Enfim, Regina, ficamos todos com caras de patetas inúteis. Em mim ficaram muitas perguntas, muitas intenções de conversas inacabáveis, aquelas que desenvolvíamos em torno de bons goles de cerveja e boa verve. Espere por nós, então. Pouco a pouco, vamos nos reunindo outra vez, do lado daí.
Luiz de Aquino (poetaluizdeaquino@gmail.com) é escritor e jornalista, membro da Academia Goiana de Letras.