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sexta-feira, julho 03, 2009

Representantes de quem?

Representantes de quem?


Luiz de Aquino


Ouvia maravilhas sobre Fernando Henrique, o (s)ociólogo; queria votar nele, mas o homem era político paulista. Quando se candidatou à Presidência da República, fiquei feliz. Mudei meu voto quando FHC assinou com ACM. É que, naquele ato, ACM era coerente (cuidava de estar no poder), mas FH, não.


A eleição de Luiz Inácio foi um marco: sertanejo de origem, operário e pobre... Como esperávamos, ele pôs em prática ações sociais e preservou o que parece indispensável na economia. Mas manteve a sangria tributária, onerando sobremaneira a classe média, tributando salários. Os mais ricos do sistema, os banqueiros, continuam com os privilégios instituídos por FHC, o acemista.


Com excelente jogo de cintura (ou, como dizíamos antigamente, “savoir faire”), Lula driblou os escândalos e elevou-se na preferência popular. Mas, sem se preocupar com a própria biografia, opina sobre o escândalo do Senado em defesa do “companheiro” Sarney, que não consegue explicar seus feitos corporativos e familiares contra o contribuinte. Tudo porque Luiz Inácio não quer que Marconi Perillo, seu desafeto, assuma a presidência do Senado e o PT não quer perder o apoio do PMDB para continuar na cumeeira.


Enquanto isso, na torre ao lado, o Conselho de Ética da Câmara livra o deputado do castelo brega da cassação. Vão lhe dar uma pena leve, como não se candidatar a presidências de comissões. Não precisa: a comissão de seu gosto não é aquele grupo de deputados que analisa projetos, mas a parcela remuneratória ilícita que, no Congresso, é algo sem importância no quadro ético.

No Rio de Janeiro, quatro estudantes morrem e seis ficam feridos em acidente com um veículo escolar ilegal. As autoridades locais não contêm o tráfico de drogas, o contrabando de armas, remédios e cigarros, como também não dominam as milícias.

E a gente brasileira continua “falando de lado e olhando pro chão, viu?” (como cantou Chico Buarque há quarenta anos). Os povos de Portugal e das demais nações lusófonas ignoram solenemente o “acordo ortográfico”, mas o Brasil cuida de cumpri-lo, apesar da arrasadora maioria contrária.


Se analisarmos bem, somente um segmento foi beneficiado com isso: os fabricantes e comerciantes de livros. E a nação, sacrificada com dois quintos (dos infernos!) de impostos, continua gastando, porque as autoridades agem na defesa do “bem maior”(conceito de Roseana Sarney sobre seu pai presidente eterno). No caso, o “bem maior” é a continuidade do enriquecimento sem limite dos que já são ricos o bastante.

Luiz de Aquino (poetaluizdeaquino@gmail.com) é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras. 

4 comentários:

Mara Narciso disse...

A conveniência do uso de um modo de pensar ou de outro exatamente oposto nos constrange e aborrece por ser a norma dos nossos políticos. Falam isso com o lado direito da boca para agradar o grupo A e o seu oposto com o lado esquerdo da boca para agradar o grupo B. Assim não há quem aguente tanta incoerência. Isso aparentemente, porque na verdade o governar/legislar em causa própria é totalmente coerente.

Antônio Americano disse...

Caro Luiz,

Bela crônica.
Sobre assunto política, aliás aproveitadores da política, pois ainda temos alguns políticos sérios, que infelizmente estão se extinguindo, você tem uma gama de temas para sua crônicas.
O que está faltando são novos lideres, honestos, que possam mobilizar o povo. Parece que nosso povo está todo alienado.
A propósito da processo de falência do jornalista Batista Custódio, acredito que mais deveria ser escrito e comentado sobre o responsável pelo pedido e os motivos que levaram a tal.
Abraços
Americano

Anônimo disse...

Caro Luiz
a ética no Brazil foi trocada a troco do oportunismo.
Eric

Simone Araújo disse...

Simone Araujo enviou o link de um blog para você:

Tem razão amigo , mas é assim,a política é mais porca que a verdadeira porca