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terça-feira, julho 21, 2009

Uma canção Belkiss

Uma canção Belkiss


Luiz de Aquino


Três jovens jornalistas, recém saídas das salas de aula e cheias de imaginação, criatividade e vontade de render. Três mulheres decididas, dispostas a viver e deixar marcas – assim são Dalcione Gomes, Fernanda Ramos e Paula Sampaio. No decorrer de 2008, elegeram o tema de seu trabalho de conclusão de curso, o famoso TCC que fecha a grade curricular da formação acadêmica, ou seja, o projeto que se tem como o décimo quarto verso do soneto... Seu título: “Eu Kiss para sempre uma canção”.

Fernanda, Dalcione e Paula


Foi Dalcione quem me provocou. Contou que a musicista, pesquisadora, professora, escritora e multiacadêmica Belkiss Spenziere Carneiro de Mendonça seria o tema de sua monografia. Empolguei-me! Há décadas confessei, de público, o meu amor por Belkiss, e tratei logo de publicar em vários textos essa confissão. A cada nova notícia que eu punha no jornal, meu telefone tocava e, do outro lado, a voz jovial e firme da mais importante mulher goiana em todos os tempos me repreendia docemente:

- Seu exagerado... Muito obrigada, eu não mereço.

Não? Quem merece, então? Belkiss é um símbolo quase perfeito, exemplo de mulher a ser seguido por todas, principalmente as que ainda pensam que feminismo é queimar sutiã. Para ela, a ocupação do espaço e a assunção aos direitos implicava tão-somente o aprendizado, a criatividade e o trabalho, no que sempre foi ímpar, quase única.

É sabido que a avaliação de um TCC não se dá apenas na apreciação dos textos, na forma impressa adequada às normas da ABNT, às exigências de professores. A escolha do tema e a ótica com que se conduz a pesquisa, a linguagem (criativa às vezes, às vezes inovadora), a seleção de fontes de pesquisa e informação, de entrevistados, a edição de texto e imagens, tudo isso é o conjunto de critérios escolhido pelos autores, de modo a contemplar algo de novo ante os olhos dos mestres que, por sua vez, orientam e cobram para, ao final, consagrar a vitória dos novos profissionais.

Foi assim, imagino eu, que Dal, Paulinha e Fernanda atuaram. E listaram-me entre os entrevistados, com base em crônicas por mim publicadas sobre a Diva da música e das artes em nossa terra, aquela que transpôs fronteiras desde a verde adolescência, com realce justo durante seus estudos no Conservatório Nacional de Música, no Rio de Janeiro.

Nas três jornalistas egressas da Faculdade Araguaia, achei mais um detalhe que merece ser citado: o cuidado em retribuir gentilmente, com gestos de fina educação, aos que contribuíram com sua missão. Dalcione e Paula vieram à minha casa entregar-me cópia do DVD, tal como o conceberam para mostrar à banca de professores que lhes deram o grau acadêmico. O gesto é nobre, diferente do costumeiro entre estudantes de má índole (desses que, se os conhecemos estudantes, tememos quando os vimos profissionais). Essas moças têm educação formal e social, sem perder a jovialidade. São profissionais que, certamente, sempre terão boa recomendação, mas independem de terceiros porque talento e dedicação lhes dão a base justa.

Confetes? Flores? Jogo, sim. Elas merecem. Lamento que um trabalho como esse acabe condenado às gavetas e estantes, numa época desta sociedade em que só escândalos, violência e falta e caráter ocupam a mídia. Se formarmos 20% de jornalistas com a visão dessas jovens, certamente os jornais, tevês e rádios terão outras faces e o nosso tempo será ocupado com coisas de valor maior do que os trambiques de congressistas, executivos, maus empresários etc.

Já contei aqui de leitores que tentam me censurar por censurar autores de tramoias contra o erário e o povo pagador de impostos. Há também os que não gostam quando cito maus profissionais, pessoas que se empenham em ludibriar a clientela. Continuarei fazendo tudo isso, mas reservo-me para a água-benta também. Hoje, esparjo-a nesse trio de novas colegas no ofício da notícia, pois que elas sabem fazê-lo com arte e dignidade.

Luiz de Aquino (poetaluizdeaquino@gmail.com) é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.

14 comentários:

Rogério Lucas disse...

Que falta a doçura e delicadeza de Dona Belkiss faz a todos nós, não é mesmo?

Luiz de Aquino disse...

Sim, Rogério Lucas, Belkiss faz muita falta...

Continua sendo o nosso símbolo maior.


Luiz de Aquino

Efigênia Coutinho ( Mallemont ) disse...

Um convite seu, é algo imperdivel, e ainda mais para ler sobre seu TCC. "Uma canção Belkiss"

Que dizer ainda mais se você disse tudo no plural neste trabalho de conclusâo do seu curso!

BRAVO!!!
BRAVO!!!
BRAVO!!!

Fica o convite para conhecer minha netinha ISABELLA, em meu espaço literário,
beijos
Efigênia Coutinho
Escritora

Luiz de Aquino disse...

Ei, Efigênia!
Leia novamente... Não é meu TCC, apenas fui entrevistado.

Luiz de Aquino

Mara Narciso disse...

Pétalas para quem merece. Devemos sim, não nos furtar às denúncias, mas também valorizar quem faz bem feito. A cada dia bons e maus profissionais se formam. Que o grupo dos bons seja devidamente valorizado e encontre um lugar adequado no mercado de trabalho. A seriedade no TTC é um indício dessa caracterítica de bondade. Mais pétalas para o mérito.

Edir Meirelles disse...

Amigo Aquino

Continuo leitor de seus textos que muito me agradam. Primeiro porque é uma maneira de estar em contato com as coisas de nosso Goiás querido. Segundo, porque você possui os pés no chão e me faz lembrar de minhas raízes, me atualizar, sentir o cheiro e o sabor de nossas saudades.
Ademais, você escreve muito bem e possui algo muito importante: originalidade. Conhece o ofício e sabe da importância da crônica - um retrato do dia-a-dia de nossa gente.
Por favor, mantenha-me em contato com a goianidade.

Abraços

Edir Meirelles

Sônia Marise Teixeira Silva de Souza Campos disse...

Oi! Taí um verbo bem gasto, com quem merece. Belkiss, grande mulher, grande artista, uma figura especial. As jovens, criativas e educadas. O autor do texto, antenado e sensível. Uma judiação desperdiçar o vernáculo para apoiar as molecagens daquela estrela cadente do futebol, hoje moleque desbocado e inconsequente. Quem declara que "Deus é 10, Romário é 11, uísque é 12 e acima de 14, tô traçando..." , não merece respeito. Está malversando o patrimônio, deixando as aguas rolarem, sob a égide da lei...não quita pendências com vizinhos( e tome multa, juros, correção...) ; não entra com revisional de alimentos, para postular redução do valor da pensão....e ainda se dá ao desplante de desafiar as pessoas, com o cinismo de declarações tipo " Não fui eu quem matou Michael Jackson, não trouxe a gripe suina para o Rio, ou para o Brasil... e, querendo ou não, para o bem ou para o mal, sou uma pessoa importante no Brasil". Meigo, né? Sarney também é diferente, importante... Afinal, você gastou ou não tinta com esse cara? Não gostaria de vê-lo em tão má companhia....Com a Belkiss e com as moças, sim... Bravo!

um bj

Luiz de Aquino disse...

Gastei tinta com Romário, mas não para exaltar o não pagamento de pensão e, sim, contra o esforço da mãe dos dois filhos dele para ocupar espaços na mídia e continuar ganhando sem trabalhar.
Pensão de alimentos, naquele valor? Ah, tá!

No mais, concordo plenamente. E reafirmo minha aversão a ídolos midiáticos. Prefiro Manuel Bandeira, César Lattes, Sabin, Gagarin, Almir Klink, Piaf, Elis Regina, José J. Veiga, Fernando Sabino, José Lins do Rego, Afonso Félix de Sousa, Belkiss, Glenn Miller, Carlos Brandão, Gustavo Veiga, Chico Buarque, Milton Nascimento, JK, Marechal Rondon e Amaury Menezes, entre outros muitos. Refugo os "reis" que inventam por aí - desde o rei do iêiêiê, que agora querem que seja da mpb, o do futebol e o dos livros (ainda não lhe deram a coroa porque sabem que a intelectualidade vai gritar).

Beijos, Sonia Marise!

Julio Cesar Corrêa disse...

Não conhecia a história desta goiana famosa. Parabéns às formandas!
abração

Paula Sampaio disse...

Foi imensamente prazeroso fazer este documentário sobre Belkiss...
Sem sombra de dúvida ela habitará em nossos corações, apesar de não tê-la conhecido em vida, mas em relatos emocionantes de seus entes e amigos queridos..
Obrigada pelas palavras Luiz...

Maria Helena Chein disse...

Oi, Luiz, Belkiss lembrada como deve ser: com admiração e respeito.
Melhor ainda por ser tema de trabalho das três meninas, com inclusão
de seus depoimentos, querido amigo.
Muito boa também a crônica "Armazém de Valores". Infelizmente é a realidade.

Dalcione Gomes disse...

Querido poeta, é muito gratificante realizar um trabalho com o objetivo de destacar uma personalidade com grande importância, no caso cultural,para nosso estado, e ter reconhecimento. Ainda mais de você, com a visão crítica que tens. Nossos gestos não poderiam ser diferentes tratando-se da grande mulher que foi Belkiss Spenzieri.
Obrigada pelas belas palavras!

Dalcione Gomes

Blog do Lalio disse...

O documetário de Belkiss ficou ótimo é realmente uma pena que trabalhos como este fiquem engavetados nas prateleiras das universidades.
O fio condutor da hitória narra os acontecimentos tocando, ao fundo, as canções de Belkiss que emocionam até mesmo quem nunca a conheceu. Parabens Paula, Fernada e Dalcione!

Já era esperado um 10 dado com louvores pelos professores!

José Elias Fernandes disse...

LUIZ DE AQUINO

COMPARTILHO DE SUA OPINIÃO SOBRE A PROFª BELKISS. SEMPRE QUE TIVE OPORTUNIDADE, TAMBÉM ESCREVI CONSIDERANDO-A A MULHER MAIS IMPORTANTE DE GOIÁS. ELEVOU O NOME DO ESTADO JUSTAMENTE NUM DOS SETORES MAIS DIFÍCEIS E DE ELEVADO CONCEITO ARTÍSTICO, QUE É A MÚSICA CLÁSSICA.
CERTA FEITA, SUJERI QUE UMA BOA HOMENAGEM SERIA A EDIÇÃO, EM LIVRO, DE SUAS CRÔNICAS E OUTROS ESCRITOS, ESPALHADOS PELA IMPRENSA, AO LONGO DE SUA VIDA. QUANTA BELEZA, LIRISMO E TERNURA, NA SIMPLICIDADE DE SUAS COMPOSIÇÕES!
APÓS LER SUA CRÔNICA, TOMO A LIBEDRDADE DE SUGERIR-LHE O SEGUINTE:
VOCÊ, QUE É HOMEM PODEROSO NA ÁREA EDITORIAL, COMO AUTOR CONSIDERADO E CONHECEDOR DE SUA OBRA, TALVEZ PUDESSE LIDERAR CAMPANHA EM FAVOR DA EDIÇÃO DE SEUS TEXTOS EM LIVRO.
DE MINHA PARTE, O POUQUINHO QUE PUDER COLABORAR, ESTAREI ÀS ORDENS.

ABRAÇA-O

JOSE ELIAS FERNANDES.