Luiz de Aquino
Circula na Internet um vídeo em que a cantora Vanusa, que integrou o movimento “musical” chamado “jovem guarda”, nas décadas de 1960 e 1970, tenta cantar o Hino Nacional Brasileiro. A louríssima (ainda loura) começa imitando Fafá de Belém, mas é traída pelo talento, pela memória e pelo desapego. Pelo visto, ela sequer sabe torcer pelas seleções brasileiras de futebol e vôlei, ou pelos atletas olímpicos que, passo a passo, vêm consolidando o nome do Brasil como expressão esportiva.
A arrasadora maioria dos que se manifestam sobre a “interpretação” de Vanusa condena-lhe o feito. É sabido que preparar-se é missão de todo profissional, mais ainda de artistas músicos, atores e similares. Um agudo fora do lugar dói no ouvido. Um descaminho completo, como ela fez naquele evento de agentes públicos do Estado de São Paulo, é totalmente imperdoável. Os que a defendem inventam um mal-estar; os maliciosos falam em bebida alcoólica e até mesmo em drogas; e os inimigos do nome Brasil lhe dão razão, dizem
que a cantora fez um justo protesto contra o despreparo do presidente Lula, a corrupção institucionalizada, os descaminhos que os políticos cometem com o dinheiro público etc. e tal.Ligo a tevê e me desespero com as invenções dos apresentadores, especialmente os esportivos (mas sem perdão aos demais) que confundem a Nação com suas concordâncias errôneas e suas regências descabidas. Não fosse o bastante, ainda vemos professores universitários inventando novas terminações para palavras usuais. Lembra o personagem Odorico Paraguaçu, na novela e na série O Bem Amado, de Dias Gomes, a trocar desinências.
A publicidade, mais que o jornalismo, é responsável por inúmeros erros repetidos à exaustão. Lá pelos idos de 1984, quando da campanha “Diretas-já”, apareceu-nos um “Muda Brasil”, sem a pontuação correta. Isso se repete ainda e até mesmo a Secretaria da Educação já bancou uma campanha “Acelera Goiás”, no mesmo molde. Agora, vejo por aí afora um não-entender o que é acento agudo e o que é crase, como “á partir de “ (com acento agudo) e a expressão “sale” em lugar de liquidação, ou “30% off” em vez de “desconto” .
Agora, canso-me de ler “Disk Pizza” e “Disk Oração”. Pergunto-me: por quê? Aonde andam os professores da Língua? Ah, eu sei! Boa parte deles, com preguiça de refinar os estudos e atualizar-se com a gramática, jogam a culpa de tudo na Linguística. Quando não, viajam na própria baba e dizem tratar-se de “liberdade poética”.
Eu, hem?!
Luiz de Aquino – http://penapoesiaporluizdeaquino.blogspot.com - é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.
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3 comentários:
Luiz, continuo lendo suas crônicas. Todas. E penso, discuto comigo,
discuto com você, rio muitas vezes, ficou "injuriada" com tanta coisa
horrível que acontece, relembro-me de fatos, aprendo, analiso, viajo.
Leitura é isso.
Um grande abraço, menino.
Maria Helena
Grande Poeta. Se eu não me engano, foi Vinícius de Morais que disse, e neste ato, pego emprestado as palavras : " É sempre bom ter duas ou três crônicas reservadas no bolso." Penso e reflito comigo, que você não deve ter como prática maior esta já em epígrafe. Digo isso pelo fato de recorrer a assuntos atualizadíssimos, dos quais são tiradas conclusões que se fazem universais, cabíveis em uma obra célebre. Um clássico.
Você, meu caro, faz uma obra célebre a cada postagem neste blog, o qual é fonte jornalística e espiritual para cada um que o acessa.
Abraço
Luiz, o que a cantora Vanusa fez foi "estuprar" o Hino Nacional, doeu nos ouvidos, doeu na alma do povo brasileiro(bom).Ela não tem que se justificar, foi falta de preparar, foi medicação ,foi falta de organização dos agentes públicos do Estado de São Paulo? Não sabemos, só que o mal está feito.
“o Hino Nacional de cada povo expressa, em todas as suas gamas, o modo de ser da psique coletiva de sua gente. A identificação do povo com o Hino é mais do que necessária para que, ao ouvi-lo ou cantá-lo, se possa sentir ser ele, realmente, o porta-voz da nação, da alma do povo.”
È, você descreveu bem.Coisas, estão acontecendo que realmente "dói nos olhos e ouvidos", ferem o coração, massacram nossas almas.Ficamos atônitos, apáticos.
Parabéns pelo texto!!
Beijo,
Leida Gomes
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