“Meu
mais novo velho amigo”
As
mensagens de Ano-Novo – que a gente já chamou também de Ano-Bom – são
repetitivas, giram em torno dos prenúncios de uma felicidade sempre sonhada,
jamais sentida no presente e constatada somente quando passado o tempo. Mas continuamos
a sonhar com dias melhores, alegrias imaginadas, encontros desejados. Ah, e com
dinheiros extras também – e sempre em grande soma!
Há quem
deseje saúde, para si e para os outros. E amores. E colóquios, e compromissos
para a vida toda, na saúde e na doença. E a gente aplica as simpatias
conhecidas, procura com boa atenção novidades do ramo, compra roupa nova,
escolhe adereços especiais (verdadeiros amuletos infalíveis) – enfim, aos
sonhos aliam-se gestos e danças, preces e provérbios, tudo em busca da
felicidade que, parece, jamais se teve!
De minha
parte, lá pela metade do tempo que vivi, ouvi a frase citada linhas acima a
propósito da felicidade. A pessoa me falava de como não sentimos a felicidade,
mas um dia constatamos que fomos felizes. Desde então, passei a observar melhor
os momentos, os eventos, as pessoas, o ambiente, as luzes e as cores, os
cheiros e tatos. E aprendi a sentir quando estou feliz. A soma dos desafios
dolorosos com o sentimento pleno da superação dessas dores, mais a paciência
indispensável para perceber as alegrias e os prazeres, a realização nos
encontros e na harmonia, a consciência do poder da amizade e, ainda, a
capacidade de apreciar tudo isso, com a competência de saber guardar na memória
– tudo isso nos faz sentir que somos felizes.
Não quero sonhar 2012. Quero, sim, encerrar 2011 nestas horas últimas, seja dia ou noite, do mesmo modo como faço há algumas décadas – apreciando o realizado como quem saboreia frango com pequi em Hidrolândia, ou acarajé com cerveja numa praia da Bahia. Quero sentir as bolinhas do espumante ao festejas as 100.000 visitas ao meu blog (http://penapoesiaporluizdeaquino.blogspot.com) justo no dia de Natal; quero o prazer de uma cerveja num boteco do Setor Universitário, desfrutando a boa prosa e as ricas lembranças de Fernando Antônio, que me saudou neste Natal como “meu mais novo velho amigo”.
“Mais
novo velho amigo”. Eis aí um título que nenhuma câmara de vereadores, nenhuma
faculdade, nenhum clube de serviços nos pode dar – somente um amigo! E Fernando
Antônio é esse amigo. Amizade que se consolida agora, pouco mais de quatro décadas
desde que nos conhecemos.
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Fachada do velho e saudoso Liceu: capa do cedê em MP3 |
Ele,
Fernando, foi meu alunos nos tempos de Liceu, antes do Y. Era um garoto de 15
anos, gordinho e feliz, que não gostava de ser chamado de gordo. Em casa,
desfrutava de um ambiente rico de livros e sapiências, proporcionado pelos
livros e cultivado pelos pais. Eu, professor, tinha 24 anos. A vida me tornou
escritor e jornalista; deve, fez engenheiro e especialista em “processamento de
dados” – nome anterior do que agora chamamos “informática”.
Já
contei aqui, há cerca de três semanas, do encontro de antigos estudantes do
Liceu no Bartolomeu Restaurante, de iniciativa, dentre outros, de Pedro Dimas,
Pedro Vasco e Fernando. Eles
convocaram os colegas, cutucaram alguns professores (que alegria reencontrar o
prof. José Maria e a diretora Teresinha Vieira, bem como Sônia França e Marieta
Cruz!) e deu-se a festa!
Aqueles
meninos, hoje grisalhos, calvos ou de cabelos tingidos, continuam especiais
para todos nós! Fernando foi quem levou uma camisa do uniforme da Banda daquela época (1969/71); eu empertiguei
meu uniforme de aluno; Pedro Dimas idealizou um cedê com músicas da época,
selecionadas por Fernando Antônio (cento e sessenta e cinco músicas nacionais e
estrangeiras! Uma audição de mais de seis horas; somente esse disco realiza uma
verdadeira “festa de arromba”, para usar o título de uma das canções).
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Nada menos que 165 canções (em MP3) para marcar bem o temo... |
Resumindo,
2011 foi um ano bonito, cheio de problemas e dificuldades que contornei ou
solucionei, caso a caso; alguns de tais item atravessam a fronteira da data, e
sei que serão igualmente findos. Angariei novos amigos, expurguei alguns que
escolheram posar de ex-amigos – e tudo isso me faz muito feliz. Talvez alguns
dos que, inesperadamente, entraram no meu coração venham a esvair-se na mesma névoa
que remove as más memórias, mas hão de me causar tanta alegria como quando
chegaram.
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Autógrafos de ex-alunos e ex-professores presentes |
Ficam,
pois, minhas boas vindas aos novos amigos, mas muito especialmente ao Fernando
Antônio e outros da mesma equipe (e estirpe) dos velhos tempos liceanos. Gosto
muito de ser seu “mais novo velho amigo”!
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Fernando Antônio e eu, com a camiseta da Banda (uniforme de 1970; acervo dele) |
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