Páginas

domingo, fevereiro 27, 2011

A estátua seria outra


O molde, ainda em gesso (1999).
A estátua seria outra



De novo este tema – mas não fui eu quem o trouxe de volta, apenas li na imprensa. Sim, é a estátua equestre de Pedro Ludovico.

Continuo dizendo, teimando, que a sugestão mais a concepção do monumento somam-se num mesmo  erro. Qual? A evidencia histórica, já que Pedro Ludovico nunca foi cavaleiro. A imagem nos remonta a militares e desbravadores dos séculos XIX e anteriores, ou a fazendeiros e tropeiros das décadas do século passado que antecedem as rodovias e as carretas. Pedro era o cidadão fundamentalmente urbano, goiano de nascimento, mas carioca durante os estudos acadêmicos e refinado médico. Do cavalo serviu-se poucas vezes, como montaria, mas sua vida marcou-se mesmo pela política, exercida em gabinetes e viagens por trem, automóvel e avião. Bem que Bernardo Elis insistiu noutro conceito para a estátua, e a família do fundador de Goiânia incomoda-se com a imagem que se tenta impor aos pósteros.



Pedro: homem urbano
Errou-se, pois, no momento de se sugerir a estátua equestre, porque a ideia não foi exposta para discussão e... iluminação! Faltou luz histórica. A extraordinária escultora Neuza Morais concebeu a obra para um pedestal elevado, e as dimensões do cavalo e do homem fizeram-se sob regras de perspectiva, coisa minuciosamente calculada; e ao instalá-la, vinte anos depois da proposta inicial, escolheu-se o lugar errado e errou-se também ao se conceber o pedestal, que nos mostra proporções aparentemente distorcidas, um “erro” que se corrige com a instalação correta da obra.

Historiadores, jornalistas, publicitários, urbanistas, profissionais de turismo e muitos outros deviam ter participado desse esforço. E, principalmente, a Câmara Municipal deveria ter sido mobilizada, mas para isso seria necessário também que os vereadores tivessem a humildade de cercar-se de assessores com competência para enxergar e analisar a cidade em seu todo, e esse todo não pode ser apenas geográfico, mas também histórico, com os olhos voltados para além do horizonte e do tempo.
Nos primórdios... Esse obelisco foi injustamente demolido para dar lugar ao
Monumento 
às Três Raças; como se faltasse espaço em Goiânia.



Para ilustrar, recordo uma mesa-redonda provocada pelo saudoso professor Venerando de Freitas na Câmara, em 1979; o primeiro prefeito de Goiânia, que desfrutou da proximidade e da amizade de Pedro Ludovico, tentou evitar que mudassem o nome da Praça Cívica para Praça Doutor Pedro Ludovico Teixeira. De nada adiantou, os vereadores não quiseram ouvir Venerando nem seus assessores e votaram a mudança. Hoje, que ficou público o fato de que a Praça Cívica é território estadual, é provável que tal lei caia por terra, mesmo porque jamais entrou em uso: o povo só diz Praça Cívica.
Venerando de Freitas Borges, primeiro prefeito
 de Goiânia

Venerando, naquela ocasião, lembrou que Pedro Ludovico riscou seu nome da principal avenida na planta original da cidade em  projeto, substituindo-o, de próprio punho, por Avenida Goiás, declarando de viva voz:

– Vamos homenagear a minha cidade.

Naquele tempo, o Parque Agropecuário se chamava Pedro Ludovico; e também o Estádio Olímpico, na Avenida Paranaíba; já existia um bairro na zona sul da cidade e uma avenida, na parte oeste, com o nome do fundador (esta, em frontal desrespeito, é interrompida por três grandes construções, já contei isso noutra crônica).


 Busto de Pedro Ludovico no Palácio das Esmeradas


A estátua já rendeu o que devia; vem aí a esperada mudança de local e a pessoa que insistiu no cantinho de praça, o fundo de quintal do Palácio, este já deve ter fotografado e filmado para que seus bisnetos saibam que vovô, um dia, conseguiu interferir na vontade do Estado.




* * *




Luiz de Aquino (poetaluizdeaquino@gmail.com), 
jornalista e escritor.

7 comentários:

Pedro Du Bois disse...

Impressiona, Luiz, essas "homenagens" (sempre com o dinheiro público) aos políticos e, pior, as "mudanças" ditas históricas sempre em função da ignorância e da ânsia pelo poder. Lastimável que você tenha de gastar sua pena com esse tipo de coisa. Mas seu texto excede. Parabéns. Abraços, Pedro.

Maria Dulce L. Teixeira disse...

Luiz,
como sempre, muito boa. Ótima. O final então, está perfeito.
Assim que sair copiarei para meu blog.
Parabéns e obrigada.
Abraço

Maria Dulce

Carlos Abrahão Gebrim disse...

Parabéns ao DM e ao poeta Luiz de Aquino pelo artigo publicado HOJE, 27/02, no nosso Diário da Manhã... E permita-me o nobre escritor Luis de Aquino, eu agora me ousar “na liberdade" de inserir o seu e-mail poetaluizdeaquino@gmail.com ao meu GRUPO SELETO ‘UM’ de e-mails onde EU ENVIO NOTÍCIAS MINHAS E DA AGOPE-TUR AINDA EM FASE DE “AÇÕES em PLANEJAMENTO” E TAMBÉM AÇÕES em ARTIGOS EXECUTADOS... Assim sendo, a partir de HOJE eu já considero o Poeta Luiz de Aquino como "UM DOS NOSSOS DA AGOPE-TUR E AMIGOS DO GEBRIM" SEMPRE RECEBENDO E-MAILS NOSSOS (...).
E NOVAMENTE dou PARABÉNS ao DM e ao poeta Luiz de Aquino pelo artigo publicado HOJE, principalmente PORQUE considero marcantes e “muito felizes” as palavras do Luiz de Aquino finalizando o 3º parágrafo: “...escolheu-se o lugar errado e errou-se também ao conceber o pedestal, que nos mostra proporções aparentemente distorcidas, um ‘erro’ que se corrige com a instalação correta da obra.”... SIM, ESSE FINAL DO 3º PARÁGRAFO do seu artigo "A ESTÁTUA SERIA OUTRA" já dá o recado que O EXECUTIVO precisa ouvir. SÓ ESSE TRECHO DA ESCRITA SUA JÁ DIZ TUDO O QUE PRECISAM OUVIR!!! ...e se já não bastasse tal recado, no último parágrafo do artigo, o Poeta Luiz de Aguino arremata muito bem ao afirmar que “A estátua já rendeu o que devia: vem aí a esperada mudança de local”... E MAIS UMA VEZ DOU PARABÉNS ao Luiz de Aquino, que teve o seu outro artigo do dia 28 de novembro de 2010 citado por mim EM UM ARTGO MEU DO DIA 19 DE DEZEMBRO DE 2010, ONDE LITERALMENTE “EU TAMBÉM MENCIONEI" O NOME DO POETA LUIZ DE AQUINO – É SÓ CONFERIR NA PÁG. 12 do DM em tal dia... E para finalizar, saiba o Poeta Luiz de Aquino que ainda hoje estarei enviando UMNOVO CONVITE EM “CONTAGEM REGRESSIVA” PARA NOSSO NOVO EVENTO EM FRENTE DA ESCULTURA DE PEDRO – AGUARDE, e CONFIRA!!! Sim, ainda no dia de hoje, “tal convite” eu enviarei ao meu GRUPO SELETO ‘UM’ de e-mails (que a partir de hoje VC - Luiz de Aquino - faz parte).
...e VCS - Luiz de Aquino e outros - receberão “tal convite” através de carlosgebrimpassarelacriativa@gmail.com, em razão do gebrim123@hotmail.com, (por exatamente ser “hotmail”), eu só consigo enviar e-mails e ‘convites’ de DEZ em DEZ, enquanto que no “gmail” sempre conseguimos enviar para 500 em 500 contatos...
Sem mais para o momento, eu muito agradeço a paciência de VCs ao ler minhas modestas, mas SINCERAS palavras de PARABÉNS ao LUIZ DE AQUINO e ao DM.

Carlos Abrahão Gebrim
Engenheiro da Agetop e Presidente da AGOPE-TUR
Associação Goiana de Pedestre e Turistas no Estado de Goiás – Fone: 9973-8735
e-mails: gebrim123@hotmail.com e carlosgebrimpassarelacriativa@gmail.com

Klaudiane Rodovalho disse...

Concordo com seu ponto de vista.
E faço aqui um elogio, como é bom ver um jornalista lutando pela valorização da História de Goiânia bem como pela postura coerente dos responsáveis pelo zelo da Memória de nossa cidade. Não desista, critique sempre estas situções que beiram o ridículo.
Esta situação nos dá a sensação de que o que importa não é a história, a cultura e a importância da homenagem. Há apenas o interesse de mostrar uma atitude políticamente correta para satisfação de alguns interesses particulares. Isso, definitavamente, não é e nunca será Resgate Histórico.

Mara Narciso disse...

É inaceitável que o homenageado sinta vergonha da homenagem. Pelo que conta da personalidade de Ludovico, ele não aprovaria a estátua equestre em nenhuma hipótese, já que não tinha ligação alguma com a prática de cavalgar. Não tenho sugestão alguma, apenas sei que está errado.

Romildo Guerrante disse...

Meu caro poeta, o Pedro Ludovico, ao criar Goiânia e durante muito tempo reinar em Goiás, teve a grandeza que não tiveram seus detratores de hoje, assim como não teve Antonio Carlos Magalhães ao longo da vida, permitindo-se nomeá-lo e ao seu filho em tudo que tem alguma expressão na Bahia. A quantas obras o criador de Goiânia deu o nome do filho Mauro Borges?
Eu, que cheguei migrante em na capital de Goiás em meados da década de 50, o via com respeito, e quase temor reverencial, geralmentelamente nas imediações da Rua 10 (acho que morava ali), se não me falha a memória vestindo muitas vezes um terno de linho S 120. Afinal, o respeito era mais que devido, Pedro Ludovico foi o homem que criou a capital e mudou a face do estado em que vivi boa parte da minha juventude, e onde aprendi grandes lições de civismo no Liceu e nas ruas.

Maria Helena Chein disse...

Oi, Lu,
você continua bem atento às questões de nossa comunidade.
Gosto de suas opiniões, sempre bem embasadas.
Saudades. Deus o proteja.
Beijos.
Maria Helena