Graças!
Belíssimos
dias estes, os primeiros da nossa estação chuvosa! No domingo, dia 2, choveu!
Minha crônica daquele dia, evocando um céu acinzentado que nos presenteasse com
chuva, parece que virou prece. Como as simpatias da infância para chamar chuva
e, mais antigamente, as danças indígenas e as orações religiosas com o mesmo
propósito. Feito pedidos do mesmo feitio.
Para
pedir chuva, fui buscar os versos de Geraldo Azevedo em “Dia branco”; agora,
hora de agradecer ao céu – não o céu geográfico, de azul costumeiro nos dias de
estio e de nuvens alegres de tons alvacentos; não o céu dos aviões e dos
pássaros, nem o céu profundo dos astronautas desde Gagárin, esse lá mais ao alto onde transitam,
sem se chocar, centenas ou milhares de satélites artificiais, essas engenhocas
complexas da mecânica, da eletrônica, da cibernética – máquinas que nos
permitem comunicar e espionar.
Hora
de agradecer aos céus, mas céus aqui vem a ser o habitat dos anjos e dos
santos, dos espíritos que alcançaram algo perto da pureza pela evolução; não
falo, pois, dos céus dos astros, mas dos céus sagrados, morada dos virtuosos.
Em momentos assim, entendo Deus como um maestro a reger o Universo, determinar
instantes e sincronia entre tudo o que vive e se move, morfomizando relevos,
tonalizando cores, determinando a intensidade e a velocidade dos ventos,
depurando os ares, renovando as águas...
Choveu!
Bendito sejam todos os fatores da chuva, benditos sejam seus resultados que
mudam paisagens e nos ensinam paciência, tolerância, obediência aos desígnios
inexplicáveis. Há prejuízos, perdas, danos graves e até mortes – mas tudo isso
nos chega pela ação divina que, juntas e harmonizadas, chamamos de Natureza.
Agora, sim! O cerrado ganhará o verde; nossos caudais ganharão volume d’água; nossa
atmosfera se faz respirável; nossas plantações ganharão vida e nos darão
flores, frutos e grãos. Amém!
Enquanto
isso, ao tempo em que festejamos as primeiras chuvas, enquanto o cheiro doce
que vem da terra molhada nos alegra a vida, os noticiários nos dão conta de
algumas tragédias, mas também de algumas vitórias contra o imprevisível e
também no que se faz de bem.
Gostei
de saber que quase nove toneladas de drogas mortíferas foram incineradas em
altos fornos no Porto Seco de Anápolis. Em contraponto, uma ação criminosa
reforçou alguma quadrilha com mais de cem armas e muita munição roubada numa
empresa de segurança. Uma moça de vinte anos morreu ao cair da garupa da moto,
sob forte chuva, e ser tragada pela enxurrada, em Goiânia. Um menino de 15 anos
foi apanhado em flagrante na porta de um banco ao tentar, com um revólver
municiado com balas explosivas, roubar quatro mil reais de dois irmãos.
O
escritor e professor Kleber Adorno, secretário de Cultura de Goiânia,
capitaneou o lançamento de 183 novos livros, sob o patrocínio da prefeitura de
Goiânia. Paulo Garcia, o prefeito que enfeita Goiânia de passarelas ainda mais
floridas e bucólicos caramanchões (agora, chama a isso “gazebo”; prefiro o nome
anterior, tem um som mais aportuguesado), presidiu a festa.
Esse
foi mais um ato da Revirada Cultural, que se encerra no próximo dia 14, com um
total superior a duas mil e quinhentas atrações num intervalo de 65 dias!
E
a cidade que vibra de sons musicais, desde o simplório sertanejo de duplas
iniciantes e de seus ícones internacionais, passando por um enorme contingente
de MPB, de rock, de riperrope, de sons folclóricos e das bandas acadêmicas
(como a Banda Pequi), dos corais e das orquestras sinfônica e filarmônica,
encheu-se de livros vários, desde os técnicos aos de poesia, dos romances,
contos e crônicas aos críticos e até mesmo de auto-ajuda.
Semana
feliz, esta, marcando de ver esta Primavera goiana, planaltina... Do cerrado
ameaçado por incautos que não cuidam de harmonizar a produção com a preservação.
Mas
demos graças aos céus. Demos graças a Deus. Amém!
* * *
11 comentários:
Além de poético, profético. É bom ver o desabrochar do nosso cerrado diante das primeiras chuvas. Também as peço por aqui,em Montes Claros, pois no nortão bravo de Minas temos uma sequidão que dura de seis a sete meses, algumas vezes sem um pingo de chuva no intervalo. Aqui também choveu, umas três vezes, desde o comecinho do mês e isso nos faz felizes.
Olá, Luiz, boa-noite!
Como sempre, ótima crônica a sua. Uma revirada cultural, na verdade. Beijocas.
Lêda
A Chuva me faz sentir algo muito especial, como se fosse a identificação do ser. Aproveito a chuva que chove em meu rosto e choro lágrimas de saudade de quem me faz chover! Aproveito a chuva e choro!...! Talvez, porque esperei tanto de uma chuva, como se espera do amor... Dia-a-dia, contando nos dedos e aí, o céu escurece, os tambores do Universo rufam e a chuva de amor nos lava a alma. Mas, a alma é fugitiva, alucinada... Quado a chuva cai lentamente, dá vontade de dormir e nunca mais, acordar na sequidão do Cerrado! Muito emocionante, sua crônica. Mexeu e remexeu o sabão que fervia em meu tacho. Vou aprumar o fogo e volto.
"Agora, sim! O cerrado ganhará o verde; nossos caudais ganharão volume d’água; nossa atmosfera se faz respirável; nossas plantações ganharão vida e nos darão flores, frutos e grãos. Amém!"
Beleza de crônica! Parabéns!
Que bom que você voltou a olhar para o céu! Viu como ele te retribuiu rápido? Trouxe-lhe essa linda crônica (foi soprada por anjos). Trouxe chuva, verde, comida, frescor, cheiro bom de terra molhada...
Você passou das chuvas redentoras de outubro para as tragédias noticiadas. Mas passou batido por uma tragédia que me chocou, eu estava aí, um jovem casal que saltou para a morte de um apartamento que se incendiara com uma churrasqueira elétrica esquecida na tomada. Só foi notícia aí, mas me espantou, e ao repórter que foi cobrir o fato, que nenhum vizinho tenha tentado salvar a família cercada pelo fogo. Nem o porteiro. Que estranho. Não conheço isso na gente goiana, não conheço essa falta de solidariedade.
De fato, Romildo Guerrante! Omiti o incêndio do Setor Oeste, em que o rapaz saltou para morrer e a jovem mulher salvou-se,apesar da altura (12º andar).
Mas houve, sim, um ato heróico: a vizinha, de 76 anos, conseguiu apoiar o pai da moça - um homem de 49 anos - trazendo-o para a sua janela, apesar das chamas ameaçadoras e, mais ainda, da idade. Ela própria não sabe como teve força para isso.
Então... uma das coisas encantadoras do período chuvoso é a reação da natureza em festa, o dia amanhece com um brilho límpido, as plantas com um verde translúcido e as pessoas com os ânimos aflorados, apesar das tempestades das vidas mal vividas ou interrompidas. A vida é assim.
Ótima crônica, obrigada.
Bela crônica, Luiz. Repleta de sentimentos transcendentais e contagiantes. O Blog também está charmoso. Parabéns!
bjim
Luiz
Parabens,uma crônica extremamente original e poética.Obrigado.Abs.
olah, visitei seu blogg. agora visite o meu...
http://hospicio1972.blogspot.com
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