Dia que chega discreto nos primeiros segundos,
abrindo devagar a porta da madrugada para, então, raiar de aurora e de luz ante
meus olhos que se abrem não assustados, mas perplexos: toda luz é bem-vinda!

Não gosto também de ouvir coleguinhas da
imprensa oral dizendo “estavam juntos havia dez anos”. Não gosto também quando
seccionam a imprensa em “escrita, falada e televisada”. Sou mais da escrita e
oralizada, quando se faz necessário dividi-la. Mas sobre os da escrita, não
gosto de notar que colegas que deveriam ter informações fundamentais para bem
informar e para bem escrever contentam-se em mal-saber e, assim, mal-escrever e
mal-informar.
Gosto
do dia que chega. Gosto de ouvir “Dia branco”, de Geraldo Azevedo: “Se você vier
/ Pro que der e vier
/
Comigo... // Eu lhe prometo o sol
/ Se hoje o sol sair
/ Ou a chuva...”.
Gosto de dar bom-dia ao Sol e de tratá-lo em
maiúscula, porque é nome de astro, e assim me foi ensinado e não entendo porque
minimizar o tratamento ao Sol, à Lua ou meu país, Brasil – ainda que até mesmo
empresa que se oferece para produzir cultura menospreze em minúsculo um nome
tão belo e ímpar.
Olho as ruas molhadas de luz, mas a umidade do ar é baixa, desejo chuva e ar macio que não me fira os olhos, a pele e as narinas. E olhando as ruas do alto, convido ao meu peito um mundo de amigos e parentes, penso nos que se foram, encho-me de Deus e peço bênçãos para todos.
“Se a chuva cair / se você vier”... Bem-vindos
serão os pingos, bem-vinda será você! “Esse tanto / esse canto e amor”... Há
saudade, muita... Saudade porque tudo é distante, saudade porque é passado.
Saudade de um tempo em que aqui fazia frio, um tempo tal que chovia uma vez ao
menos em cada mês da seca, e havia árvores de matas, e havia o cerrado antes
que tanto se queria, tanto se desejava que fosse, que seja, que soja...
Que merda! Pela soja que rende a grana, perdemos
o ar de respirar e o verde de dar alegria. Jatobá, mangaba, murici, guariroba,
gabiroba, bacupari – tudo some, até o pequi, porque o petróleo se raleia e
custa caro, é tempo de bacana plantar cana; não para a doçura do açúcar, só
para o fazimento do álcool de abastecer automóvel que enche as ruas, superlota
estradas e rende dinheiro e rende acidentes de aleijume e de mortes que
entristece os próximos, enluta famílias e pesa na previdência social.
Dia ainda triste, o ar com apenas 20% de
umidade. O cerrado triste em castanho, as árvores vestindo-se de verde precoce,
acreditando que chuva já vem, as flores das buganvílias enfeitando os campos,
os jardins e os canteiros das avenidas – mas é imprescindível chover, e logo!
Meus dias precisam ficar brancos, cinzas e, depois da chuva, azuis.
Sendo assim, acredito que o Brasil do cerrado e
da caatinga se vestirá de alegre, voltará a sorrir para renovar sonhos e
esperanças. Enquanto espero, conclamo à paz tão sonhada, ao sorriso nas
esquinas, ao toque de mãos e abraços nos encontros, ao beijo do conluio e
àquela intimidade de amantes.
A esperança existe, mas um tanto adormecida; a
paz tem sido um sonho, a violência que vulgariza a morte teima em se
institucionalizar, tal como os desvios de verbas e o apadrinhamento político,
as greves decretadas abusivas e os abusos que não ganham adjetivos porque os
que julgam resolveram fazer greve.
O dia é branco; e o céu, azul.
Que o céu deste “Dia branco” esqueça por uns
dias o anil, faça-se de branco por um momento; que se acinzente e se derrame em
lágrimas sonoras para os poros ressequidos da terra, dessedentando as raízes,
reverdecendo as folhas, vivificando flores. Amém!
*
* *
11 comentários:
Encantada com a poesia deste texto impregnado do sentimento goiano, que pede a descida da água,o esverdear do cerrado,a alegria da vida.Gosto muito de seus escritos!
Amei....tudo que li! linda poesia, texto profundo, incrivel mesmo, maravilha!
Luiz...
Suas palavras são "gôtas" de alegria para nós, habitantes do deserto central.
Um abraço, direto de Brasília.
Poeta Luiz De Aquino,
Domingo bom de primavera,chuvinha mansa caida aos pouquinhos e essa crõnica maravilhosa!! Tanta poesia,tanto sentimento! Sr poeta,hoje o mundo ganhou mais alegria!
A Primavera, ainda antes das chuvas, faz o broto. A natureza pressente a água e verdeja. E com ela vem a inspiração poética, o sonhar, o cantar e os incômodos da saudade. Olho o dia lindo e ensolarado e costumo dizer: " que dia lindo, meu amor!", ao meu filho. Quando eu ainda não falei, ele me remeda. O tempo se vai, vamos perdendo pedaços, um amanhã cada dia mais curto, um ontem cada dia maior, e uma vontade de viver com intensidade o que temos, que é o hoje. Bela crônica em prosa, parecendo os seus versos.
Obrigadaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!
A chuva chegou aqui,Anápolis) num banho revigorante, farto.
Choveu mesmo, toda a acidez das nuvens caiu por terra, deixando o ar possível.
Um abraço.
Rida
Bebi cada gota...
Lindo!
Lindo demais...Estou ainda aguardando o meu... Bjosssssss
Que bonito, Luiz!... Eu adoro essa música, lembra as férias que eu passava no Nordeste na época da faculdade.
Obrigada pelo comentário na Pausa do Tempo. Eu não sabia que o Vinícius tinha morado na Lopes Quintas!
Beijos,
Uma prosa poética poderia lhe dar uma boa descrição. Não sou tão certinha assim, então aproveitei ao máximo sua emoção para aprimorar a minha.
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