Prof. Francisco Ferreira dos Santos Azevedo, dicionarista. |
Ferramentas da Língua
As
línguas, de qualquer povo e época, são verdadeiras engenhocas ricas e complexas
– umas mais, outras menos. divirto-me com os que, em ares geniais e conceito
simplório, diagnosticam: “A língua portuguesa é muito difícil”. Penso, no meu
modo de leigo pleno e assumido, que as línguas, de qualquer natureza e região,
têm graus similares de dificuldades. O caso é que, aprendendo rudimentos de
língua estrangeira, muitos dos menos esclarecidos pensam que a língua dos
outros é mais fácil que a nossa. Ledo engano, não é mesmo, Leda Selma? (Que a
Márcia Maia me desculpe, mas tenho sempre que citar a excelente poetisa,
contista, cronista e cultora-mor da Língua Pátria nestes casos).
Volto
ao tema: tenho pela Língua que falamos um amor tão grande que me condeno por
não sabê-la muito melhor. Sei que é uma máquina abstrata, repleta de peças e
juntas, rolamentos e bronzinas, pistões e molas, tudo azeitado em finíssimo
óleo de poesia, juntado com maestria e que, por vezes ou quase sempre, exige a
interveniência de alguma ferramenta – por vezes, a engenharia da gramática; e
quase sempre, o rigor feliz dos dicionários, e estes são tão variados quanto o
que contêm nossas caixas de ferramentas.
Os
dicionários vêm a ser as ferramentas mais usuais. Há os de sinônimos, os
ortográficos, os de traduções, os de regimes (de verbos, de adjetivos, de
substantivos...) e até mesmo os dicionários específicos de algumas profissões.
Dicionários
brasileiros diferem dos portugueses, dos de Angola,. Cabo Verde e Moçambique,
bem como de outras terras e povos lusófonos. E dos dicionários publicados no
Brasil, nós, os goianos, temos dois motivos de orgulho. O primeiro deles é o Dicionário da Língua Brasileira, do
padre Luiz Maria da Silva Pinto (goiano de Pilar). O livro foi publicado em
1832 e é o primeiro dicionário brasileiro. Tenho uma edição fac-similada do
livro, editado de modo um tanto apressado, de modo a parecer, inicialmente, um
caderno horizontal.
A
segunda peça é o Dicionário Analógico
(ideias afins), do professor Francisco Ferreira dos Santos Azevedo. Já
dispunha de um exemplar da primeira edição (segunda tiragem) e, agora, acabo de
ser presenteado com a novíssima versão da obra primorosa do Professor Ferreira.
O mimo chegou a mim pelas mãos de
um neto do mestre vila-boense, Geraldo Fonseca Júnior, que teve o cuidado de
colher um autógrafo de sua mãe (filha do autor), a Sra. Teresinha Ferreira
Fonseca.
Esta
segunda edição traz um carinhoso prefácio do compositor Francisco Buarque de
Holanda, famoso usuário da obra, que o recebeu de presente de seu pai, o mestre
Sérgio Buarque de Holanda. “Com esse livro” - escreveu Chico Buarque – “escrevi
novas canções e romances, decifrei enigmas”. E tem ainda um impecável prólogo
do lexicólogo Leodegário A. de Azevedo Filho.
Autógrafo da filha do autor, Sra. Teresinha F. Fonseca (o prof. Ferreira faleceu em meados da década de 1940; sua obra só foi publicada em 1950). |
O mimo de Geraldo Fonseca Júnior fez-me o Natal mais feliz, certamente! Se eu, antes, já era grato à memória do Professor Ferreira, agora estou agradecido a ele e a sua mãe, a Sra. Teresinha, por tão delicada dedicatória, expressa em caligrafia invejável. Deus lhes dê também um Natal feliz!
* * *
Ora,
se discorri linhas acima sobre a engenharia da Língua e suas ferramentas, quero
agora dedicar agradecimentos muito, muito cordiais aos que, sem medo de se
comprometer, comentaram minha crônica anterior – “Muito barulho por nada” -, em
que teci críticas e sugestões a
propósito da pirotecnia em torno do cumprimento de uma obrigado legal (ainda
que muito pobre), que é o pagamento do piso nacional aos sofridos professores
da rede estadual de ensino de Goiás.
Meu
abraço fraterno, agradecido e solidário, pois, a Jô Sampaio, Klaudiane
Rodovalho, Fátima Rosa Naves, Ivonildo F. Duarte, Tatiele (professores em
Goiás), Sueli Soares (RJ), Fernando Quintela (RR) e Mara Narciso (MG). Suas
opiniões estão no meu blog – penapoesiaporluizdeaquino.blogspot.com – e vale a
pena lê-las!
Além
dos comentários acima referidos, muitos leitores (grande parte, professores) dirigiram-se
diretamente a mim pelo Facebook. Não sei se alguns escreveram diretamente para
a editoria de Opinião do DM, pois nem sempre o espaço comporta todas as cartas
recebidas de leitores, daí a minha manifestação neste espaço.
Só
não se expressaram as assessorias da Secretaria de Estado da Educação e da
Governadoria do Estado.
* * *
3 comentários:
Obrigado Luiz de Aquino, eu e minha mãe ficamos tocados por sua palavras. Um feliz natal para vc tambem.Geraldo Junior e Teresinha Ferreira e sua ex aluna Ana Maria Dias Fonseca
Luiz, parabéns pelos dois textos, "Muito barulho por nada" e "Ferramenta da Língua". Sobre a educação pública, não faço parte, mas aprendi através dos ensinamentos de Carlos Gonzáles Pecotche, que o simples fato de fazer o bem já é uma benção de Deus, e que são muitos os que se desalentam quando os fracassos sobrevêm, muitos os que se desmoralizam e esmorecem por essa causa, e que não devemos nos sentir incomodados se, alguma vez, recebemos ingratidão pelo bem que fizermos. Sei que por ser uma das poucas pessoas que defendem a educação neste país, deve com certeza receber muitas pedras, mas não se desanime. Segundo Pecotche, as pedras nos oferecem a oportunidade de transformá-las em flores. "Não se deleite nunca com as flores que o elogio prodigaliza, porque, se em busca delas você receber de vez em quando alguma pedra, por pequena que seja, ela lhe parecerá enorme e, sem dúvida, você aumentará muito o dano sofrido. Essas flores fazem adormecer, produzem atordoamento. As pedras, pelo contrário, despertam o que é de melhor?... Sem dúvida que as pedras, porque nos oferecem a oportunidade de transformá-las em flores formosas”.
Luiz, seu trabalho a favor do social é maravilhoso, por isso é um ser respeitado por aqueles que te conhecem. Ainda segundo Pecotche, “A dignidade outorga ao homem a prerrogativa de ser respeitado, e não apenas em um momento de sua vida, senão em todos. A dignidade deve ser a inalterabilidade do eterno. Ela é serena; demora a reagir e o faz sempre sem violência”.
Você me inspira muita simpatia, pelo ser bom que demonstra ser.
Abraços fraternos.
Adoro a Língua Pátria, e mais deveria saber dela. Sinto-me tão ignorante quando leio alguns autores. Os dicionários estão aí e são amigos silenciosos, que nos socorrem em todas as horas. Outro ainda é o Google, para detalhes além da grafia e significado. Agora, com tantas facilidades não temos mais como dizer que não deu tempo de verificar e que por isso escrevemos errado. Pelo menos continuamos tentando. Obrigada pela menção do meu nome, Luiz.
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