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domingo, setembro 28, 2014

O que se vê na tevê

O que se vê na tevê


“Um posto de combustíveis às margens da rodovia”. Ouço frases assim e parecidas todos os dias, várias vezes, na tevê – e se escrevo “tevê” é porque está em qualquer canal, e não apenas na TV X ou na TV Y (essa sigla TV, só a uso antes de nome oficial; no genérico, prefiro a grafia de quatro letras). Ora: de que tamanho será esse posto para estar dos dois lados (margens) da rodovia, hem? Alguém precisa explicar que existe “margem”, singular, que se refere a um dos lados...

Margem, originalmente, se aplicava aos rios e queria dizer literalmente os dois lados do curso d’água. Dando-se as costas para a origem (montante), temos a margem direita à nossa direita e a margem esquerda à nossa esquerda, naturalmente; podemos nos referir aos pontos cardeais para especificar as duas margens das rodovias; ou o sentido do percurso: “À margem direita no sentido Goiânia-Anápolis” (por exemplo).

E o que gaguejam nossos coleguinhas? Estranhamente, os repórteres são mais desembaraçados, ainda que violando regrinhas básicas de concordância e regência: “Quando a família chegaram (sic) na (sic de novo) cidade...”. Ou ainda “A moça que ele gostava” (engoliu o “de” antes do “que”).

Mas deixemos em paz nossos coleguinhas desligados do léxico. Os pecados maiores ficam por conta de políticos. Nossa! O que ouvi num telejornal noturno acerca do péssimo estado de um Centro de Atendimento Integral à Saúde (CAIS) numa cidade da Região Metropolitana de Goiânia estarreceu-me! Primeiro, o prédio que já devia ter caído (sem qualquer providência por parte das autoridades, ainda que o secretário da Saúde local declare que dispunha de três milhões de reais desde o começo do ano para corrigir aquilo lá...) foi tomado literalmente por baratas. Milhares delas! Muitos milhares de baratas tontas, evidenciando que foram desalojadas de seus esconderijos por um forte inseticida que enojou e afastou de lá os usuários.

Que desrespeito ao usuário!

Em seguida, a apresentadora contou que o Ministério do Trabalho interditou o local por absoluta falta de condições gerais de trabalho. E então – pasmem! – aparece o prefeito a dizer, com todas as letras, que não acataria a determinação e que aquela decisão tinha “propósitos políticos”.

Para agravar, o prefeito acusa a autoridade federal de “desrespeitar” o direito das pessoas necessitadas de socorro de usufruírem daquela unidade de saúde. Ah, nem! – pensei eu, de modo goianíssimo – não acredito no que estou ouvindo! Quem é mesmo que desrespeita o usuário do CAIS? O órgão fiscalizador, que age rápido ao saber daquilo lá, ou o prefeito que, mais que sabedor do péssimo estado de uma repartição de sua estrutura, preferiu ignorá-lo? Cadê os três milhões de reais que o secretário nomeado por esse mesmo prefeito diz ter para resolver aquilo lá?

E essa gente, nas campanhas, vem com cinismo e pose de bom-moço pregar lisura e pedir votos!

Eu, hem?



* * *

5 comentários:

Nádia Maria Vinhas disse...

Olá Luiz, gosto muito do que escreves, pois faz com que vejamos a situação atual que se encontra a saúde em nosso país, onde a hierarquia das irresponsabilidades caem em cascatas, onde o Prefeito põe a culpa no Governador e este ao Presidente da República, pois sabem que com esse jogo de vai e vem, confundem a população, e esta que não tem prá quem entulhar seus sofrimentos os remetem para Deus, e assim caminha a nossa sociedade, em uma sequencia de joguetes; e como escrever é voar...voei...essa semana meus pensamentos me levaram ao passado, (ando saudosista demais), onde uma música em francês que aprendi nos tempos idos e vividos do colégio, me remeteu boas lembranças, e essa me fez fazer uma ponte, como os nossos políticos agem, a música diz: Quand trois poules s'en vont aux champs, La première s'en va devant, La seconde suit la première, La troisième va derrière, (quando três galinhas vão ao campo, a primeira vai a frente... a segunda segue a primeira ... e a terceira segue atrás), uma lógica simples, isto é uma simples fila, mas colocada dessa forma faz um pequeno embrólio para brincar com as palavras, assim são nossos políticos, onde Prefeituras, Estados e a União se embolam na cabeça das pessoas, que pouco sabem quem são os responsáveis diretamente pelas mazelas que sofrem..
Amigo, sou apenas uma leitora, (um tanto ousada talvez) que ao ler gosta de expor também o que pensa, então seja generoso, quando encontrar dentro do meu escrito, algumas aberrações hehehe, passe os olhos e siga a leitura, só gosto de participar. Um abraço!!!

Zanilda Freitas disse...

Suas crônicas sempre nos ensinam e mostram o seu interesse pelas causas político sociais. Esta é uma aula e uma chacoalhada nos incompetentes homens públicos. Parabéns!

Escritor Leonardo Teixeira disse...

Muito bom, Luiz! Abraço
Leo Teixeira

Mara Narciso disse...

A linguagem informal das reportagens, ainda que informal exige o falar correto, mas os repórteres se metem a inventar. Os políticos primam pelo erro e pela mentira. Pobres de nós.

Adriano Curado disse...


Excelente texto, caríssimo escritor. E já está publicado na nossa página: http://www.aplam.org/ .