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segunda-feira, novembro 23, 2015

A dor maior

Guilherme com a mana Hariel. Amor imenso, admirável!

A dor maior






Dia puxado demais, esta segunda-feira! Dia de resolver problemas, de “correr atrás”, de renegociar contas e partilhar, viver, sentir por mim e pelo próximo. Coisas triviais, pois, não fosse a dor, esta que pego de empréstimo e não me chega total – mas mesmo assim, como dói!

Já vi muito de jovens morrerem, de crianças morrerem, de pais e mães que choram sozinhos porque a saudade não escolhe lugar, ambiente nem circunstâncias, porque a ausência é uma coisa estranha – um substantivo abstrato que pesa feito concreto.

Eu não estava no instante, mas meu irmão me contou que nosso tio Luizico olhou fixo para ele, pôs-lhe no ombro a mão e disse: “Edmar, perdi meu filho Álvaro, o Alvinho... Ele era da sua idade!”. Era 1972 e a idade era 24 anos. Lá dentro, na sala, o corpo inerte cercado de flores e velas, lacrado num caixão porque acidente de avião é sempre drástico!

Meu avô contava dos filhos mortos de dois casamentos... Muitos amigos escritores calaram suas penas por longos lutos, ou fixaram mensagens desse luto à memória de filhos precocemente desaparecidos. Ah... Todos, com o passar dos anos, colecionamos histórias de mortes e de mortos, de dores e vazios.


Iná e eu, em fevereiro, no Rio.
Nestes poucos dias, menos de uma semana, duas notícias assim sacudiram-me as saudades e os sentimentos – minha prima Iná Meireles, dia 17 passado (dois dias antes de seu aniversário) e o Guilherme, filho de minha amiga querida Heliany Wyrta, irmão da Hariel, poeta promissora.A tia, Iná-Mãe, aos 92 anos, resiste com uma força que lhe é peculiar, ao lado do filho único Colombo (e foi ele quem me falou da força dela ante o infausto desenlace). Mas sei bem do que sofre um coração de mãe, tantas acompanho nesse martírio. 

E ainda mal refeito desse susto, vem-me a história de Guilherme, cujo coração parou justo no Dia de Luta Contra o Câncer Infanto-Juvenil (é isso mesmo?) e machuca fundo os corações da irmã e da mãe – e do pai, vivendo distante, na África de mistérios e outras dores.

Não sei como contar, dizer, confortar. E por não poder dizer, fico quieto, ouço músicas e leio casos vários. Visito meu passado de triste, que o de alegre recolhe-se tímido para não atropelar as lágrimas.

Fico quieto, sim. Envio-lhes beijos e calores, abraços solidários e não me aproximo. Não quero somar minha tristeza às deles.


***



Um comentário:

Beta disse...

Belíssimo texto, Luiz! Compartilho com vc do silêncio. Abraços meu amigo!