Guilherme com a mana Hariel. Amor imenso, admirável! |
A dor maior
Dia
puxado demais, esta segunda-feira! Dia de resolver problemas, de “correr
atrás”, de renegociar contas e partilhar, viver, sentir por mim e pelo próximo.
Coisas triviais, pois, não fosse a dor, esta que pego de empréstimo e não me
chega total – mas mesmo assim, como dói!
Já
vi muito de jovens morrerem, de crianças morrerem, de pais e mães que choram
sozinhos porque a saudade não escolhe lugar, ambiente nem circunstâncias,
porque a ausência é uma coisa estranha – um substantivo abstrato que pesa feito
concreto.
Eu
não estava no instante, mas meu irmão me contou que nosso tio Luizico olhou
fixo para ele, pôs-lhe no ombro a mão e disse: “Edmar, perdi meu filho Álvaro,
o Alvinho... Ele era da sua idade!”. Era 1972 e a idade era 24 anos. Lá dentro,
na sala, o corpo inerte cercado de flores e velas, lacrado num caixão porque
acidente de avião é sempre drástico!
Meu
avô contava dos filhos mortos de dois casamentos... Muitos amigos escritores
calaram suas penas por longos lutos, ou fixaram mensagens desse luto à memória
de filhos precocemente desaparecidos. Ah... Todos, com o passar dos anos,
colecionamos histórias de mortes e de mortos, de dores e vazios.
Iná e eu, em fevereiro, no Rio. |
Nestes
poucos dias, menos de uma semana, duas notícias assim sacudiram-me as saudades
e os sentimentos – minha prima Iná Meireles, dia 17 passado (dois dias antes de
seu aniversário) e o Guilherme, filho de minha amiga querida Heliany Wyrta,
irmão da Hariel, poeta promissora.A
tia, Iná-Mãe, aos 92 anos, resiste com uma força que lhe é peculiar, ao lado do
filho único Colombo (e foi ele quem me falou da força dela ante o infausto
desenlace). Mas sei bem do que sofre um coração de mãe, tantas acompanho nesse
martírio.
E ainda mal refeito desse susto, vem-me a história de Guilherme, cujo
coração parou justo no Dia de Luta Contra o Câncer Infanto-Juvenil (é isso
mesmo?) e machuca fundo os corações da irmã e da mãe – e do pai, vivendo
distante, na África de mistérios e outras dores.
Não
sei como contar, dizer, confortar. E por não poder dizer, fico quieto, ouço
músicas e leio casos vários. Visito meu passado de triste, que o de alegre
recolhe-se tímido para não atropelar as lágrimas.
Fico
quieto, sim. Envio-lhes beijos e calores, abraços solidários e não me aproximo.
Não quero somar minha tristeza às deles.
***
Um comentário:
Belíssimo texto, Luiz! Compartilho com vc do silêncio. Abraços meu amigo!
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