Silvana, eterna companheira, e Luiz Antônio naquilo de que mais gostava - cantar! |
Adeus,
Luiz Antônio! A Deus...
Faleceu hoje, em Goiânia, onde se submetia a tratamento delicado de
saúde, meu primo querido Luiz Antônio Godinho.
Nos últimos 23 anos, ele lutou contra males do fígado. Por duas vezes,
chegou ao centro cirúrgico, num importante hospital de São Paulo, para
submeter-se a transplante – os exames mais recentes desaconselhavam o delicado
procedimento médico.
Todos os dias desse “calvário” uma personagem o assistia com zelo e
perseverança – sua mulher, Silvana. E na constante expectativa, no inevitável
sonho de tudo se resolver a contento, os filhos Mayra e Luiz Antônio Filho. Mas
não era só... irmãos e sobrinhos, o velho pai que a cidade e as gerações
chamam, com carinho, de Totó, aos 90 anos sempre foi, também, zeloso e dedicado
às preces pela saúde de seu primogênito.
Na infância, sob influência de nosso avô, o seresteiro e maestro Luiz de
Aquino Alves, Luiz Antônio aprendeu a extrair os sons do violão. A voz marcante
e de boa afinação fechava os quesitos que o credenciaram às serenatas e as
constantes rodas musicais. E foi dessas rodas que extraí a essência para compor
uma canção, musicada pelo amigo José Pinto Neto, estimulada pelos boêmios e
amantes da nossa amada cidade – a canção “Sentimento Pirenopolino”, que a
sabedoria local logo renomeou para “Manhãs Alegres”.
Ao lado de Luiz Antônio, e feito companheiro leal, cantei canções de
rodas boêmias e serenatas. Entre nossos sons de violão e cavaquinho,
despertamos as beldades joviais desde os primórdios da década de 60. Muito
recentemente, feliz por sentir restaurar-se lhe a voz, Luiz Antônio gravou
alguns vídeos (quem manipulava a câmera? Sua netinha de seis anos), tocando e
entoando suas preferidas – dentre elas, a minha citada canção, que somente ele
cantava com plena fidelidade ao meu texto. Vale dizer que Luiz Antônio foi quem
disseminou essa canção na cidade e a tornou conhecida!
Quando escrevi Concerto de Boêmios (Sob o Signo da Lua), pedi-lhe um
texto sobre nosso avô boêmio e seresteiro. Luiz Antônio atendeu-me, feliz por
experimentar a ocasião de se fazer escritor. Tínhamos planos para novas
obras...
Resumindo: nos últimos 40 anos - ou mais – compartilhamos muitas
alegrias enriquecidas por acordes e canções, sob o luar mágico de Pirenópolis ou
“ilustrados” pelas margens encantadas do Rio das Almas. Juntos, curtimos
noitadas várias, sempre cercados pelo cenário maravilhoso da velha Meia-Ponte
do Rosário.
Por iniciativa dele, nosso primo Eli de Sá propôs que a Câmara Municipal
me fizesse Cidadão Honorário. Mas nossa cumplicidade foi um pouco além. Não há
muito, o poeta e pesquisador Adriano Curado, presidente da Academia
Pirenopolina de Letras, Artes e Música propôs que meu primo fosse aceito na
Academia. Luiz Antônio Godinho foi eleito por unanimidade e, para sua alegria e
minha inevitável vaidade, Adriano havia, adrede, proposto e aprovado, numa
sessão a que não compareci, o nome de meu pai, Israel de Aquino Alves, patrono
da Cadeira que o cantador, ator e ativista cultural Luiz Antônio Godinho
ocupou.
O acadêmico Luiz Antônio Godinho foi, enfim, vencido pela teimosia
desses males que lhe atingiam o fígado e, há pouco, comprometeram-lhe os rins.
Nos últimos dias, sob coma, não demonstrou sofrer – mas também não falava, não
cantava, não ria seu riso de cativar carentes – feito eu. Feito todos nós.
Vá com os anjos. E cheio de música, meu primo!
***
Luiz de
Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras e da
Academia Pirenopolina de Letras, Artes e Música.
5 comentários:
Nosso saudoso primo, Luiz Antônio, que sempre fez parte de minha infância e adolescência e, que nos deixava encantados e maravilhados com suas serestas, nos deixou em profunda tristeza. Seus acordes e sua voz, sempre em perfeita sintonia, ficaram guardados em nossa memória e em nossos corações. Que Deus o tenha recebido de braços abertos em Seu Reino! E, que ao lado de nossos avós e tantos outros parentes que partiram, estejam fazendo uma grande seresta no plano superior!
Linda homenagem primo, mas vinda de você e para quem, eu já imaginava, beijos lindo.
Orgulho eterno de um Pai amigo, companheiro e protetor!!! Pai, o Senhor foi tão forte tão guerreiro, um exemplo de homem e de humildade, coração de ouro e alegria que contagiava! Vou ouvir pra sempre, lá no fundo do meu coração, o Sr tocar e cantar para mim!!! Te amarei pra sempre, tenha certeza que o Sr. cumpriu sua missão aqui conosco da melhor maneira possível. Obrigado por te sido esse Pai maravilhoso. Saudades eternas!!! ❤🙏🏻
Bravo, grande poeta! Você soube descrever a vida de Luiz Antônio com toque de requinte. Ao ler seu texto não pude deixar de me emocionar. A escolha dele como acadêmico da APLAM foi um grande acerto, pena que muito tarde. De qualquer forma, o pouco que participou foi o suficiente para contribuir com nossa entidade. Em reunião na casa do Pérsio Forzani, ele fez questão de assinar a indicação do nome do maestro José Joaquim do Nascimento. Por fim, quero lembrar que o Luiz Antônio fez um minucioso projeto sobre o trânsito de Pirenópolis, que infelizmente nenhum gestor público animou implantar ainda.
Luiz Antônio, Jorge e Fernando foram meus companheiros de infância e adolescência!
Jorge nos deixou ainda garotos, cheios de sonhos, ilusões e uma vida por desbravar.
Enfrentar sua partida fez parte deste desbravamento da vida, entender o inexplicável. Nos mostrou a dura realidade da vida que iríamos enfrentar.
Agora foi Luiz Antônio, por quem sempre tive muito respeito e admiração.
Tantos anos se passaram e ainda estamos aprendendo. Aprendendo a desbravar a vida, aprendendo a entender o inexplicável, aprendendo a viver.
À família, meus sentimentos. Que DEUS conforte seus corações.
E tenham sempre orgulho da pessoa que foi Luiz Antônio.
Eternas saudades!!!
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