Dona Lilita, sob o talento do mestre Amaury Menezes |
Para
que não seja ausência
Eu escolhi não
escrever uma crônica, hoje. Esta foi uma semana ruim, pesada, cheia de nuvens
turvas, plúmbeas – não nos céus, o que nos alegraria muito por conter a baixa
umidade atmosférica, mas no cenário político, nos horizontes econômicos e,
inevitavelmente, na nossa esperança. Escolhi reproduzir uma crônica em que
homenagearia a condição quase santa da mulher – isso de ser mãe. Não apenas
gestar e parir, mas envolver-se, emocionar-se, aceitar a missão não só de
gerar, mas de formar os novos seres.
Nas páginas deste meu
blog, uma foto
especial entrou-me pelos olhos e sacudiu-me o peito. Sou sensível às boas
lembranças – essas a que chamamos de saudade, ou seja, o lembrar sem dor, o
recordar para se fazer feliz. E essa foto, escolhi-a para ilustrar esta crônica
(que decidi escrever).
Padre Alcides
celebrou uma missa no quintal de nossa casa, em Caldas Novas, era 22 de outubro
de 1994, a data em que, 50 anos antes, meus pais se casaram ante o juiz de paz.
Por razões daquele momento da história ou das circunstâncias locais, o
casamento religioso não se deu. Coube, pois, ao reverendo Padre Alcides,
merecedor da minha admiração especial, celebrar aquela missa em que, com propriedade,
ele falou mais ou menos assim:
– Não houve um
sacerdote para ungir este casamento, mas Deus o fez, ou os teria separado. Quem
sou eu, pois, um humilde padre, para negar o óbvio? Deus os casou, eu apenas O
referendo e celebro, neste aniversário de 50 anos.
E disse à minha mãe, Dona Lilita (nos papéis, Élia Borgese de Aquino Alves), que desse a Comunhão ao meu pai – e o gesto é claro.
Nesta sexta-feira
de maio, antevéspera do Dia das Mães, viajo a outro maio, 60 anos atrás. Fazia,
então, dois meses que eu chegara ao Rio de Janeiro para morar e estudar. Minha
avó Inês (ou Ignez, como se escrevia nos tempos de seu registro) acordou-me
cedo, no nosso sobrado histórico de Marechal Hermes:
Meus pais não
estão conosco. Inazinha também se foi, recentemente (17 de novembro, 2015, dois
dias antes de seu aniversário) e deixou dois filhos e netos. Sentirei a falta
de muitas outras mães neste domingo, dia 8 – como minha sogra e, há bem poucos
dias, a Adriana, cunhada caçula. Mas não estarei triste. Aprendi, com o tempo,
a aceitar a morte como a transferência da alma para o outro plano, pois a
matéria é perecível, tem curta duração. Tento, pois, guardar o que pude
apreender da essência de cada um dos meus queridos.
Padre Alcides, à esquerda; e Dona Lilita põe a Hóstia Santa na boca de meu velho
Israel na Missa de 50 anos.
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Fiquemos, então, com essa de minha mãe a oferecer a Hóstia Santa ao seu velho companheiro. Para mim ficaram os livros e os acordes que recebi na infância.
* * * * *
Luiz de
Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.
6 comentários:
A crônica que decidiu escrever, Poeta, encheu-me de alegria. Aqui se afirma que crônica, memória e Poesia andam juntas. Obrigado, caríssimo.
Também vou atrás das boas saudades que nos fazem felizes. O casamento religioso naquele dia de 1944 (Segunda Guerra Mundial?), foi um detalhe, pois o amor foi o bem maior. Gratas lembranças. Dia bom, mas também de algumas saudades doloridas e recentes. Não tem nada a ver com o tema, mas achei inexplicável na foto uma cara de homem em perfil bem maior do que as outras que estão mais perto. Seria uma imagem no espelho?
Espero ter o prazer de ler sempre Seu Blogger: Pena & Poesia. Parabéns pelo material e por me lembrar da nossa querida APLAM.
Muito obrigado amigo pelos informativos: Pena & Poesia.Parabéns pelos belos e verdadeiros artigos. Sensibilizado lhe agradeço de coração.
Que linda memória!
Contextualiza muitíssimo bem.
Bacanice, Luiz!
O mundo seria um lugar melhor com mais versões assim.
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