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Recato-me
Cada verso que brota
desse coração letrado e leve
(sensível)
mostra luz, lírica e sabença.
Houve um tempo
em que era tentado a voltar-lhe
outros versos, pobres (meus).
Bobagem!
Poetisa plena
dispensa a mão menor.
* * *
Era Cupido
![]() |
Ilustr. por Jô Acyole |
Noturno
A
noite é sempre bonita.
A noite é sempre minha
porque não tenho horários
nem pessoas à minha espera.
A
noite é motivo único
e derradeiro
para as mensagens todas
que eu quis mandar
e se perderam de mim mesmo.
A
noite é sempre bonita
porque na noite eu posso encontrar
quem me veja com olhos bondosos.
E
quando na noite você me encontrou
e me olhou desse jeito tão seu,
decidi dividir a noite
com seus carinhos.
Um dia
a gente se vê
por aí
e se olha nos olhos como quem não quer nada.
Um dia, depois, a gente se olha mais fundo
nos olhos
e sente uma coisa profunda a despertar desejos
de se ter.
E mutuamente a gente se entende
cúmplices
no silêncio de se amar demais, de se perder de vez
nos próprios olhos.
É então que começa na gente
esta coisa linda
que é se querer a todo instante e compartilhar
a mesma escova de dentes.
De
repente, um dia, sem perceber,
a gente se quer
para estar junto de vez e dividir a água
sob o mesmo chuveiro.
E é então que me encontro
pleno
porque te tenho assim
e porque te desejo pra mim
tão assim,
até misturarmos para sempre
a brancura de nossas cabeças
tão iguais.
* * *
![]() |
Página do livro De mãos dadas com a Lua (1984), com ilustração de Dineia Dutra. |
Nos teus dias
Eu
gosto de estar contigo
nos bares
e de caminhar contigo
pelas ruas,
de mãos dadas.
Eu
gosto dos sons de teus passos
apressados
e faço tudo para ser constante
nos teus dias.
Sou
presença permanente em tua vida
e morro de saudade em cada olhar.
−
Posso te fazer uns carinhos? Uma ternura... Assim, ter tua cabeça em meu colo,
meus dedos em teus cabelos, a suavidade deste momento e a sensação da
eternidade. O toque das peles excitantes, o eriçar do cio.
−É
um poema? Você está fazendo agora? Ou já é parte de um?
−
Apenas o que eu gostaria de te fazer ou dizer ao teu ouvido. Coisas de acender
vontades, despertar angústias e arrematar prazeres.
− Então, por favor, pare com
isso.
− Ah! Mas não me escapa a sensação
de calor e textura, a cumplicidade de olhares ternos e desejos incontidos. Há
um sonho, um desejo flamejante, uma ânsia de estar...
−
O duro é que você fala bonito, hem, Nego! Pó parar!
−
Acho que falo muito pior do que sou capaz de executar. A timidez na fala me
restringe, nos atos sou mais livre. Ah, que vontade de estar aí ao teu lado!
−
Mesmo? Muito lindo o poema.
−
Queria sussurrá-lo ao teu ouvido.
−
Arrepiei...
− Ter-te aqui, em frente! Sentir
teu hálito, sorver tua saliva.
−
...Para com isso.
−
Olha que eu digo o mais que imaginei... Posso?
−
Eu fico sem-graça.
−
Diga que não fica.
−
Não prometo; posso tentar...
−
Tenta... Quero beijar teus pés. Fazer de minha língua elevador em tuas pernas,
sentir o calor de tua virilha, de tuas nádegas, beijar toda a tua intimidade,
beber-te com a sede dos caminhantes...
−
...entrar em teu corpo por todas as possibilidades!
−
E teve jeito de não ficar sem-graça? É íntimo demais, mas ao mesmo tempo é...
lindo e gostoso de ouvir.
−
Minha língua vai fazer passeio em tua pele, explorar teu corpo como uma mata
virgem!
−
Estou ouvindo.
−
Quero encher minha boca com teus peitos, um a um, num revezamento agitado e em
êxtase!
(...)
−
Parou?
− Quero o calor do teu corpo, o
licor de tua intimidade, tudo em mim, em minha boca... Quero o cheiro mais
íntimo, minhas
mãos te explorando, achando mistérios, meus dedos entrando, atrás... Fala
comigo!!
−
É que estou meio... Nem sei como! Perdida? Emocionada? Brava? Ofendida?
Arrepiada? Nem sei...
−
Molhadinha? Fica... Plis!
−
...e muito sem graça!
−
Nada disso! Não vale! Toque-se... Sente como se fosse eu a te fazer excitada,
molhada, querendo...
−
Não dá... Tem gente aqui. Estão todos acordados!
−
Que pena... Beijos mil! Mas beijos para te fazer sentir onde ficar melhor.
Estou pensando em te beijar no íntimo, entre os pelos do púbis, no pulsar do clitóris, sorvendo teu
néctar de amor e desejo.
−
Você está querendo fazer o quê comigo? Para com isso!
−
Quer mesmo que eu pare? De coração?
−
De coração? Você me pega, hem? Mas quero, sim; tenho medo de estragar muita
coisa. Inclusive eu.
−
Não vamos estragar. Vamos deixar fluir essa torrente de desejos. Fico te
olhando em fotos e te desejando! Sonho com o momento de te raptar, te isolar do
mundo e te amar muito!
−
Você me deixou molinha de todo!
−
Quero ter-te comigo, levar-te à plena realização do sexo, do desejo, tudo com
muito amor...
−
Não espere isso, por favor!
−
Deixemos que o futuro cuide da gente. As coisas podem acontecer. Muitas vezes
independem de nós.
−
Sei disso, mas procuro ficar bem distante para evitar. Mandei um mail, não
sei se vai chegar...
−
Vai chegar! Gosto de te curtir assim.
−
Eu também...
−
Gostaria de ouvir-te...
−
Primeiro, eu estou meio assustada; depois, perdida... não sei o que dizer. Só
sei que não consigo desligar essa joça nem deixar de olhar para a tela!
−
Me conta uma coisa; é íntima, mas gostaria de saber. Você fica muito excitada?
−
Sim, mas mais arrepiada!
−
Que gostoso! Quero te arrepiar com minha língua, quero passear com ela pelo teu
corpo todo, beijar cada centímetro...
−
Não, vamos parar... Eu vou dormir, tá?
−
Quero saber coisas do teu corpo... Teus seios, coxas, nádegas...
−
Vou dormir, tá? Preciso! Um grande beijo...
−
Vai não...
−
Vou sim; deixa...
−
Por favor... Responde.
−
Estou respondendo! Me deixa ir dormir.
−
E os segredos do teu corpo? Mas tudo bem. Vai dormir, amor! Te quero muito!
−
Boa noite. Durma bem. Até amanhã...
Convite ao cio
Brincava de olhar,
de rir, de tocar.
Brincava de amar
mas brincava de sexo
(sem querer, eu acho).
Tinha um cheiro, a menina;
um cheiro maneiro
feito pele morena, quente
e de pelos.
Era algo rápido
a sacudir o sangue
e me erguia o falo pulsante,
pensante (evidente) na concha molhada
e quente, também; e convidativa.
Ah, mulher! Dá pra mim, vai!
Não sei onde andam meus gritos
Não sei onde andam meus gritos
nem os procuro na noite passada.
Não sei o que fiz
dos meus enganos
nem se os deixei ficar
por aí,
num canto de quarto.
Não sei o que fiz de meus problemas,
mas sinto que os esqueci
como quem não mais se lembra
de um parente morto.
Na noite,
o cintilar de estrelas vale mais
que a lua distraída,
perdida num céu, esquecida
da própria vista.
Não sei mais de nós dois,
mas encontro os espaços
do desencanto
e não lamento estar agora
tão leve de tudo.
* * *
Poeta Luiz de Aquino
SOBRAS
Eu queria te ver
me amando outra vez
como quando nos tínhamos
só pra nós dois.
No fundo da gente nasce um inverno
sem frio nem neve,
sem ventos.
* * *
Poeta Luiz de Aquino