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sábado, junho 17, 2006

Do capelo ao sabre

Em hebraico, a palavra é “quipá”, que alguém haverá de escrever com K e, provavelmente, com um H no final; mas os caracteres judaicos não são os nossos; logo, escrevo como se pronuncia. Não sei os caminhos da palavra, mas deve ter passado pelo grego, pelo latim outras línguas até chegou a nós como quepe, capa, chapéu e ainda capelo. Capelo é muito solene: diz-se de capus (mais uma) de religiosos e do gorro com que se cola grau universitário e, também, grau de doutor.

Sabre? Bem, este eu não quero comentar: traz amargas lembranças...

Apesar de jornalista e bancário, jamais me descuidei da condição de professor, por tão pouco tempo exercida. Já falei aqui sobre a excelência (na época, diga-se bem) dos colégios da Polícia Militar. Meu filho Lucas, agora na sexta série, e meu neto Luiz Henrique, na quarta, são alunos de uma escola do SESC. Portanto, fica claro que acredito em instituições que invistam na Educação.
Mas não concordo com a militarização do ensino, temeridade a que se propõe Goiás. Já sugeri que se incorpore o Instituto de Educação à Universidade Estadual de Goiás, que se tornaria um centro de referência pedagógica, preservando-se sua estrutura de ensino atual como escola de aplicação e fui criticado por professores de lá (entenderam que eu propunha seu fechamento). Insisto nessa tecla, mas as pessoas envolvidas no processo não se dispõem a uma conversa aberta e franca (por que será?).

Agora, sou informado de que o Colégio José Carlos de Almeida será transferido para a Polícia Militar. Isso me entristece. A Secretaria da Educação será desativada? Será transformada em setor especial da Diretoria de Ensino (ou algo parecido) da PM? Ou seja: os que não podem pagar escolas particulares, terão, forçosamente, de cursar estabelecimentos militares, preparando-se para não ter outra profissão que não a de policial militar? Ou isso, ou... Qual é mesmo o propósito?

Fui informado, também, que os professores do José Carlos de Almeida já concordaram, em massa, com a mudança. Não que vejam, aí, algo em prol da melhoria de ensino, mas, sim, em aumento de R$ 250 para professores, R$ 700 para coordenadores e R$ 2 mil para diretor. Perdoem-me, mas a esse argumento eu daria outro nome; e não o escrevo aqui para não ofendê-los; meu propósito é chamá-los à razão.

Educação é uma coisa; disciplina militar sobre toda a população infanto-juvenil de uma, digamos, casta (impossibilitada de arcar com os altos custos do ensino que o Poder Público deveria oferecer com qualidade), outra. Existe, e já ouvi isso de pessoas consideradas bem formadas, a crença de que os colégios da PM impõem disciplina e, assim, realizam bom ensino; existe também a crença, por parte de pais menos aptos ao exercício da educação familiar, de que a PM impede seus filhos de se envolverem com drogas e vandalismo (ou seja, existem pais que outorgam aos oficiais da PM a missão de educar seus filhos). Ora: a escola é o complemento socializante da educação, e não o seu único elemento.
E, estranhamente, essas medidas se fazem em segredo. No começo do ano, estive com a professora Eliana França (ela era a secretária) e questionei-a sobre o futuro de estabelecimentos como Liceu de Goiânia e Instituto de Educação, e as respostas foram um tanto evasivas. A imprensa nada noticiou sobre a militarização de algumas escolas.

Segredos assim não inspiram confiança. Que a professora Milca Severino nos esclareça, pois continuo preferindo o capelo ao sabre.

5 comentários:

Anônimo disse...

MIGO
Tenho a declarar que dois dos meus tres filhos estudaram no Colégio Policial Militar daqui de Santa Catarina e posso afirmar com muito orgulho, que a disciplina militar, de ordem e respeito ao próximo foram bem ensinada a eles, dando-lhes muita dignidade e sabedoria.
Muito pelo contrário, nenhum dos dois quizeram seguir a carreira. O Colégio lhes deu base segura para ingressar na Universidade Federal de escolha e graças a isso, hj são dois profissionais bem sucedidos, um engenheiro de automação e outra pedagoga.

Osair de Sousa Manassan disse...

Concordo com sua preocupação, Luiz e, da mesma forma, questiono os rumos do nosso sistema educacional. Bom ter alguém que fala sobre o assunto, questiona e tenta estabelecer o "confronto" em busca de um ensino mais adequado. Parabéns.
Quando tiver um tempo, visite meu blogue.
http://manassan.blogspot.com/
Vou colocar, lá, o link para o seu.
Abraços.

Herondes Cezar disse...

O assunto é polêmico e merece amplo debate da sociedade. Eu, que estudei apenas em escolas públicas até à universidade, e que fui professor de colégio público, não gostaria que a educação de meus netos (minhas três filhas já são formadas) fosse entregue à Polícia Militar. A PM tem competência e importância para outros fins. Quase sempre, a meu ver, sua ação é requerida justamente para solucionar problemas decorrentes da falta de educação. Além disso, não passa de mito essa idéia de que filhos de policiais nunca se envolvem com drogas ou outros problemas típicos da juventude.

Anônimo disse...

Finalmente vejo alguém tratar com bom-senso e muita lucidez o assunto. Pobre sociedade civil tão facilmente ludibriada, perde e pensa estar ganhando.Causa estranheza a postura dos profissionais da educação, tão alheios. Essas idéias equivocadas podem tomar dimensões enormes, a História resgistra casos terríveis. Aqui na Bahia está ocorrendo o mesmo.

Luiz de Aquino disse...

"Anônimo", fico feliz que minha crônica, escrita há quase dois anos, ainda repercuta e encontre eco. Obrigado pelo comentário. Mas você não assinou (se foi intencional, por favor, fale comigo pelo e-mail: poetaluizdeaquino@gmail.com).
Luiz de Aquino