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domingo, junho 11, 2006

O sonho e a aversão

Ouvi de um jornalista amigo um comentário discretamente indelicado. Contava-lhe algo do meio literário, mais precisamente do âmbito da Academia Goiana de Letras, quando ele retrucou: “Ora, isso aí tem pouco ou nenhum interesse; o povo não quer saber de acadêmicos; nem intelectuais querem saber de acadêmicos”. Recentemente, ouvi de um engenheiro recifense, ávido por um papo, opiniões sobre uma praia que não era a sua. Ouvi-o tolerante.

Coisas de academias não interessam às pessoas que lá não estão. Talvez nem mesmo às que, num momento qualquer, interessam-se por romper a muralha desses clubes fechados (academia que se preze tem quarenta membros; menos, é aceitável porque pressupõe um crescimento gradual; mais de quarenta não é número acadêmico e a entidade caminha para ser um clube aberto).

Bem, o jovem engenheiro repudiava a Academia Brasileira de Letras por abrigar, entre os das letras, “pessoas como” (palavras dele) José Sarney e Marco Maciel. Dizia ele: aquilo é uma Academia de Letras ou uma extensão do Senado? Com paciência, expliquei-lhe que a ABL é um clube fechado e lá ingressam quem os 39 eleitores escolherem; a nós, que não somos membros, não nos cabe criticá-la. Parece-me que ele entendeu.

Também acho que as ações do Clube Militar não nos dizem respeito. Como as do Clube de Engenharia. Ou da Associação Médica (dos Conselhos de Medicina, sim, porque afetam nossas vidas). Tratando-se de letras, temos que vigiar os órgãos governamentais. Creiam: eu vi (ninguém me contou) órgão público adquirir livros infantis com graves erros de Português já na primeira linha (fazer o quê? O pai ou irmão ou marido ou mulher do autor é gente influente).

Bem, volto à Academia Goiana de Letras, essa instituição de que meu amigo jornalista não gosta. Direito dele, não gostar; eu também não gosto de muita coisa: igrejas caça-níqueis, por exemplo, não caem bem no meu paladar. Mas, com o povo ou o colega jornalista gostando ou não, haverá eleição, dia 8 de junho, para a Cadeira 31 da Academia Goiana de Letras, que era de Belkiss Spenziere, a Divina. Belkiss é a mulher mais importante da História de Goiás. E duas mulheres disputam a vaga: a escritora Maria Augusta Santana e líder feminista Ana Braga.

Já defini meu voto, e foi fácil: será para Maria Augusta. Ana Braga sequer me enviou carta. A que li, endereçada a outro eleitor (nesse momento, deixamos de ser escribas e viramos valiosos votantes), contém erros de linguagem e de conceito: ela quer a vaga de Belkiss, alegando amizade à minha ídolo falecida em 17 de novembro de 2005, mas quer mesmo é ocupar a cadeira 13, que pertence a Eurico Barbosa, vivo e ativo acadêmico.

Eu estranho dona Ana Braga pleitear uma cadeira entre nós, os da AGL. Soube que uma comitiva de acadêmicos, infringindo a ética, foi à casa dela sugerir-lhe a candidatura, o que soa mal ante sua concorrente, ilustre professora e historiadora. Dona Ana, há seis anos, mandou uma carta muito malcriada à AGL, no dia do sufrágio, desistindo da candidatura porque percebeu que seria derrotada por Leda Selma. E teceu agressões imperdoáveis e não condizentes com a verdade à sua concorrente, seguindo de entrevista grosseira a um jornal, dizendo ter desistido por não suportar a “sordidez humana”.

A sordidez, aí, ficou por conta dos acadêmicos da época (entre eles, Belkiss, de quem agora se diz amiga) e com sobras para a concorrente. Agora, ela própria telefona para Leda Selma e lhe pede voto. Pelo visto, só não pediu votos a mim. Creio que orientada pelos que a convidaram a candidatar-se: afinal, sou notório adversário do ingresso, na Casa de Colemar Natal, de candidatos não escritores.

8 comentários:

Anônimo disse...

Outro texto primoroso!
Seu blog já está nos meus "favoritos".
beijão,
Lílian

Anônimo disse...

Luiz,
Somente hoje tive consições de vir ao seu blog e, gostei muito!
concordo com a Lilian, suas crônicas~são primorosas. Aproveito para lhe desejar uma excelente semana. Beijos. Andréa Motta

Anônimo disse...

Luiz Por favor, onde se lê consições, leia-se condições. Andréa

Anônimo disse...

Oi Luiz,estou de pleno acôrdo com
Lilian Maial e Andréa Motta,suas crônicas são mesmo verdadeiros primores. Mas também não poderiam
ser diferentes, já que você é um primor de crônista e poeta. Te desejo muita paz , saúde, luz e
mais sucessos!

Beijos,
LG

Anônimo disse...

Amigo:
Parabéns e veja bem: quando o assunto é política, seja qq o nível e o segmento dele, sempre nos revela disputas desleais.
Política é uma ciência fascinante, o difícil é conviver com políticos q não sabem exercê-la com dignidade. Veja a situação nacional que vivemos ... cruel, porém realidade.
Bjs.

joão disse...

Parabéns pelas suas poesias.

Jo 3:16; Porque Deus amou o mundo...

wwwjosemalm.blogspot.com

Anônimo disse...

Bem, eu como sou um pouco suspeita a dizer alguma coisa desta pessoa que é um encanto, eu devo dizer que suas poesias são muito bem escritas com uma certa dose de humor misturado com a história a política e a politicagem deste país, mas parabéns meu grande amigo.Elizabeth Bonomi

Anônimo disse...

Oi Luiz,

Como sempre muito feliz na escolha dos textos. Tenho lido esporádicamente,mas por pura falta de tempo. Continue me enviando. Gosto de visitar seu blog.
Beijinhos,
Mell