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domingo, agosto 13, 2006

Tudo muda... Muda?

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Ventos estranhos, os que sopram o planalto em agosto. O ar é seco e se aquece fácil sob o sol, na ausência total das nuvens filtros. Respira-se mal, o ar entra como brasa nariz narinas brônquios adentro e traz o pó das ruas e das construções, do chão vermelho de origem básica, derrame de lavas em falha tectônica muito antiga, dizem.


O ar, que assegura a vida, invade e queima. E traz problemas, porque não chega puro e não nos dá defesa. Para quem vive entre velhos livros, o ar contém poeira velha, sedimentada com ácaros e outros mínimos organismos nada benfazejos. E vêm as dores, a febre, o mal-dormir e não-querer agir, quando em vigília. Fico passivo, quando assim. E leio coisas engraçadas, como mensagens inúteis que infestam a Internet. Já pedi, não adianta, continuam enviando-me mensagens otimistas de auto-ajuda, de elevar auto-estima... Nessas ocasiões, valem breves frases ditas no ímpeto da impaciência: se conselho fosse coisa boa, não viria de graça. E, em sua versão mais recente, diante da sofisticada tecnologia dos medicamentos: Viagra? Só para a mulher habitual; com as outras, é totalmente desnecessário.

Com base nisso aí, refuto os tais de pê-pê-esse que me mandam com piadinhas sobre o baixo nível cultural do presidente Lula, sobre a auto-dispensada erudição do ex-presidente FH, enfáticas montagens envolvendo o vocativo de retórica “todas e todos”, comparando-o ao patético “brasileiras e brasileiros” do ex-presidente (mas sempre amigo do poder) José Sarney e o menos chato de todos, o “minha gente!” do defenestrado Fernando Collor.

Coisas chatas do quotidiano (posso escrever “cotidiano”, mas prefiro a forma tradicional). Um libelo em defesa dos animais e da natureza, tentando convencer que cães são como crianças. São mesmo? Ah, tá! Cão não é sequer um animal natural, é descendente de lobos e adaptados à vida doméstica, claro. Neste caso, os cães são como nós, brasileiros: resultantes das incontáveis misturas de raças. E os cães modernos são, como os modernos atletas, frutos de experiências genéticas em laboratórios. Aliás, esses cães antecipam os atletas e cientistas do futuro, segundo a doutrina daquele médico alemão que teria feito experiências mil com meninos judeus e que foi preso no Brasil... Mengele, é isso?

Ocorreu-me que os animais não morrem de fome senão quando o ser humano se interpõe na sua relação com o habitat. Ou seja, os animais, em suas condições normais, não carecem de nossa proteção. O homem mata animais por prazer; e mata seu igual para lhe tomar comida, dinheiro, bens, terras e parceiras. Sim: a mulher era propriedade. Ainda existem, e são muitas, as que acham que é isso mesmo, que só serão felizes se arrumarem um “dono”. Mas existem as mais evoluídas, as que se sabem dotadas de alma (ao contrário do que a Igreja afirmava até há alguns séculos) e, em lugar de propriedades, passaram a ser algozes de seus machos. Assim, como as fêmeas de gafanhoto, comem-lhe as cabeças após o coito.

Sinal dos tempos, da modernidade tecnológica, da época em que justamente os mais moços não se cansam de dizer “hoje em dia”, como se o passado fosse tão diferente. Salomé pediu uma cabeça; Cleópatra metamorfoseou ao menos dois impérios; Joana D’Arc fez uma revolução e reencarnou sua garra em Anita Garibaldi; Messalina...

E nós ainda morremos contaminados pela prosaica poeira suja, condicionada em ar seco!

3 comentários:

Anônimo disse...

Tudo muda. O ar, as pessoas, o clima, a tecnologia, a civilização . Mudou principalmente a mulher que depois de conseguir o direito do voto mudou o mundo. Só os poetas não mudam. Continuam questionadores do "quotidiano" como voce bem escreveu, do passado, do presente e do futuro. Questionam o amor,a dor, o ar seco, a chuva, a sombra, a saudade. Por isso a vida continua valendo Luiz meu querido, porque tudo muda, mas os poetas como os de Aquino, continuam iluminando nossas almas e
fazendo-nos pensadores melhores. Homens e mulheres melhores.
Adoro ler você. Sempre.
Maria Luiza Vieira
Salvador_Bahia

Luiz Alberto Machado disse...

Prezado Aquino, muito bom seu espaço, estarei indicando nas minhas páginas.
Abração
www.luizalbertomachado.com

Anônimo disse...

Ao Poeta Luiz de Aquino

A sensibilidade e a percepção da palavra escrita de Luiz de Aquino , colorindo ou somente formatando a Comunicação , referindo-se a temas precisos e claros , pareceu-me pretender o despertar,o esclarecimento e o pensar do leitor.

Levantar opiniões e/ou chamar atenção para o inevitável , que aos olhos comuns dos homens não vêem , aprofunda-se ou não,às causas / fatos do cotidiano com o desejo da melhora ,da suavidade das vidas e ao acalanto daqueles que ainda conseguem respirar ares pesados .

Em minha simples e modesta percepção de mulher do povo , “senti” que ...“E nós ainda morremos contaminados pela prosaica poeira suja, condicionada em ar seco!”.....

A vida não mudou ,reflete-se o tempo mais antigo e vão aprimorando o de atualmente.

Percebi , nesta crônica, que somente nomes e endereços mudaram, porque formas, falas, atitudes e ÁCAROS mantiveram-se ocupando seus lugares e continuam a nos fazer muito mal !!!!!!

Com o seu sempre dizer a linguagem brasileira , culta e popularizada ao mesmo tempo , o Poeta Luiz de Aquino representa o expoente de saber e de consciência , tanto popular, quanto política , chegando a nossos olhos, a nossas vidas , apresentando-nos e presenteando –nos , todas as semanas com a sutileza de falar das dores e dos amores , sugerindo a parada , a reflexão e a discussão .

Ácaros nos fazem muito mal....... ...” E nós ainda MORREREMOS contaminados pela prosaica poeira suja, condicionada em ar seco!”

As eleições serão em outubro deste ano !!!!!