Páginas

domingo, novembro 12, 2006

Lágrima incômoda, esta...

.


No último dia 7, terça-feira, curti um aniversário triste: a partida para os Estados Unidos de meu filho Leonardo, o Léo. É que, desde então, vão-se já sete anos e ele não volta. Léo era daqueles meninos cheios de energia, o trivial. Com Fernando, o irmão ano e meio mais novo, aprontou todas na infância, na adolescência e na juventude, sem (graças a Deus!) os excessos que desesperam os pais. O equilíbrio, quem tentava era a mana mais velha, Elia Maria. O nome me faz morder a língua, Leda(ê) Selma: grafei Elia, com o som de Hélia, seguindo a grafia italiana do nome de minha mãe.


Bem, mas lá se foi o Léo. Saiu daqui já com a certeza de um emprego “bom”: entregar pizzas. Ora, ora... que estupidez! Melhor seria admitir, sem constrangimento algum, que queria viver outros ares, mas isso infringiria conceitos radicados na mente e no ideal do pai, nacionalista por formação, adepto do intercâmbio cultural e econômico, mas altamente desconfiado quanto à emigração de brasileiros.

Não, Marcos Caiado: não sou xenófobo. Sou, sim, desconfiando porque sei que a História do Brasil nos mostra que o homem ocidental (homem, aqui, vale por pessoa; digo isso para dar abrangência e evitar os ataques das feministas menos avisadas) escalona o valor da pessoa no “degradê” da cor da pele. Fizemos isso com os índios e os negros; e os norte-americanos e europeus o fazem com os negros e conosco, mestiços sul-americanos, sangue “impuro” que se mescla ao dos negros cativos e estúpidos (?) ameríndios.

Bem, o Léo é moreno, tem a cor de cuia da mãe; ou remonta aos genes de meu avô Luiz de Aquino, mulato legítimo e talentoso seresteiro da velha Meia-Ponte Pirenópolis. Ele nunca me diz, mas entendo que, na Califórnia, confunde-se com mexicanos. Mas, felizmente (imagino eu) para esses tais, o fato de terem um governador alienígena, embora um tanto tacanho de intelecto político, lhes dá certo alívio: tio-sam não é dos mais carinhosos com forasteiros, ainda mais se falam espanhol (para eles, português e espanhol são a mesma coisa) e têm pele morena.

Mas lá está o Léo, há sete anos, para minha tristeza. É ruim ter filho tão distante, longe das vistas... Bem: a gente se fala pela Internet, com voz e imagens: a tecnologia a serviço de amenizar a saudade. Mas nos falamos pouco, porque o tempo é gasto, mais, com trabalho. Mantenho, mais amiúde, contatos com a Ethel (ah!, eu não disse: o Léo está casado). Minha nora é uma pessoa antenada, mostra-se ora feliz, ora preocupada... Não, não é preocupada; cansada, eu diria. Porque cuidar de crianças não é brincadeira; ainda mais de crianças de língua diferente, o que exige atenção redobrada da babá.

Agora, Léo está certamente feliz: sua mãe arrumou a mala (e que mala: poderia ter ido dentro dela) e se foi para uma temporada de alguns meses. Não resistiu à saudade da cria. Se bem a conheço (e acho que a conheço; apesar de termos nos separado ainda nos anos de 1970, mantemos contatos; afinal, são três filhos e, na época, o caçula tinha apenas 8 anos); e, dizia eu, se bem a conheço, assim que apertar a saudade dos que aqui estão, ela voltará; e acabará inaugurando uma rota de idas e vindas...

Enquanto isso, o Léo me cobra:
“Pai, quando é que você vem me ver?”. Eu respondo, adiando, que só quando nascer um filho dele. Não, não, Donelena: não é omissão minha. Quero matar três coelhos numa só pedrada, isto é, rever meu filho, ganhar outro neto (Luiz Henrique, aos dez anos, ainda reina sozinho) e conhecer minha nora.

Ah, acho que está de bom tamanho, dentro do que é possível.

9 comentários:

Luiz de Aquino disse...

Recebi de LUCI, por e-mail:


Carissimo Luiz!


Li o teu blog..a crônica para teu filho Léo.....confesso que fiquei com
saudade junto...e quase fui com a mãezona pra visitá-lo.! Parabéns pelas
textos que você tão lindamente escreve.... queria postar algum comentário,
maas...somente quando eu for poetiza. Hoje te mando somente estas linhas,
recheadas de abraços. Obrigada por n os presentear com coisas tão belas!

abraços

LUCI

Anônimo disse...

Luiz,

Que encanto essa crônica, tão intimista, quase como se estivéssemos na sua casa, conversando e tomando um cafezinho!

Conheço bem esa saudade que você nomeia, é minha companheira nos últimos tempos...

Anônimo disse...

Uma carta, sob a forma de uma crônica, ao seu filho.
Uma carta publicada em um jornal.
Uma carta postada em um blog na Internet.
O mundo está em rede na Internet.
O mundo terá acesso a sua carta.
Talvez uma forma de dizer:
- Mundo, cuide do Léo.
Até mesmo o Tio Sam, depois de lê-la, cuidará do Léo.
Pode ter certeza.

Anônimo disse...

ja li essa crônica, mas só agora senti vontade de comentar. É que o Tonton está no banho e bateu uma saudade danada dele, porque conversamos toda hora, é só cruzarmos que lá vem assunto, e, agora como ele está no banho eu senti saudade. Daqui um pouquinho ele vai pra faculdade, de lá para balada, aí só amanhã para retomarmos o papo, ou quiça quando ele chegar a noite, se vier embora quando terminar a aula, o que não é de praxe.

Anônimo disse...

Meu amigo!!!!!!!

Filho longe............
Aperto no peito..........
Lágrima que teima mesmo em cair toda hora.......
E qdo a saudade estrangula, faço como a mãe do Léo fez, arrumo as touxas e vou rumo a capital!
Apero ele muito, dou beijinhos mil no JV e tenho que voltar!
AMEI seus escritos!
É a SAUDADE do PAI!
BEIOJOS AMIGO E VÁ MATAR SUAS SAUDADES LOGO!
NÃO ESPERE O AMANHÃ!

Anônimo disse...

cada vez te conhecemos mais um pouquinho. Agora é o Sr. Coruja...rrsrs..nada de saudades e sim orgulho , de um filho que teve a coragem de sair do conforto certo e ir "descobrir o mundo" .
Vc só não teve a mesma coragem que ele, e não disse isso com letras mas nas entre-linhas...ta td orgulhoso!!! ótimo texto , bjs
Ana Maria Azevedo

Luiz de Aquino disse...

Ana Maria,

Engana-se. Não tenho orgulho algum por isso, logo não é, esta crônica, uma manifestação de pai-coruja. O que me moveu a este texto foi, sim, a saudade. Antes, pelo contrário, fico triste: não vejo razão alguma para a emigração de brasileiros. Só não me envergonho porque não costumo ocultar minhas falhas; e, neste caso, falhei como pai e educador.

Anônimo disse...

Muito feliz, rapaz Aquino, em seu comentário de hoje. Tão denso, profundo e belo. É assim que necessitamos discutir o mundo, e não o fim dele. Deus abençoe no intuito de nos brindar, sempre, com palavras tão belas. Jornalista de primeira, poeta singular. Tenho saudades de conversar contigo.

Edson Nuno

Luiz de Aquino disse...

Recebi, por imeio, de Alcyr Lintz (um brasileiro radicado em Miami, ex-aluno do CPII), e reproduzo:

"Caro Luiz!!
Interessante a sua cronica, Carta ao filho. Pensei, no momento que li, o que meu pai, um dia deve ter sentido. Ora, estou eu aqui, como seu filho, a entregar comidas, há quase sete anos e , comecei com as tão famosas pizzas, hoje comida chinesa. Mas que ironia, sinto eu a falta de meus filhos, aos quais deixei em nosso País, e que crescem sem a minha presença. O pai, partiu há dois anos, e eu aqui nem pude despedir-me.
Mas, sinto n'alma a vontade imediata da volta. E já começo o retorno. As lágrimas enchem os olhos.
Um grande abraço
Alcyr Maciel"