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quarta-feira, agosto 30, 2006

Sons das ruas

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Uma campainha que toca repetidamente enquanto um portão de garagem se abre e permanece aberto e se fecha; latas e vidros chocando-se em agudo que assusta; caminhões da coleta de lixo em marcha forte acelerada, além do bater descuidado de tampas metálicas das caixas de lixo (e o pior: de madrugada); motores que roncam enervantes e pneus em silvos longos no atrito com o asfalto; betoneiras, serras metálicas, carros que anunciam roupas e outras liquidações imperdíveis, e verduras a varejo no caminhão, a pamonha quentinha apimentada...

Em Goiânia, os carros de som, irritantes, são um presente dos vereadores aos cabos eleitorais que não conseguiram empregar na engenhoca pública. E, nos anos pares, estes das eleições, o ganha-pão fica mais suculento. Não dá, sequer, para se decorar os jingles dos candidatos, tantos que são! E a tevê, como os jornais e as revistas, os rádios e as esquinas, têm como manchetes, nestes últimos dias, a "qualidade" da quadrilha desbaratada em Rondônia, formada até de deputado presidente da Assembléia, candidato a vice-governador (na chapa da situação), desembargador, juiz... A nata da nata! Não fosse a constante troca de escândalos, este seria "o do ano". Mas nenhum brasileiro aposta mais em escândalo como "o maior" nem em miss como "a mais".

Pois é, quem diria! Até presidente de tribunal vai em cana, algemado. Se a moda pega... Mas alguns estados da União ainda estão longe disso aí. Existe aí prefeito que não liga nem mesmo para o irmão morto, retalhado numa mesa de necrotério: importante é encher o avião de dinheiro e mandar para o juiz que julga seu pedido de cassação, tsc, tsc, tsc...

E o som das ruas impede nossa paz. Mas, em algumas cidades deste Brasil, há autoridades atentas aos sons da rua.

Bem... Em termos. Essas autoridades estão de mãos dadas com os fiscais de posturas, aí pelo interior, para punir exemplarmente os comerciantes que "abusam dos limites permitidos para som ambiente". E as leis municipais estabelecem limites baixos, de modo a facilitar a ação dos fiscais que, por terem "fé pública", anotam em suas planilhas a medida que lhes aprouver. Em seguida, o comerciante é intimado; do promotor, ouve acusações humilhantes, é chamado de "criminoso" e outros impropérios, ameaçado de prisão e outras limitações.

E então, o sujeito, que gera empregos e impostos, vê um breve facho de luz, oferecido pelo promotor: um acordo que lhe concede pena alternativa: adquirir material de construção a ser usado no novo prédio da Justiça. Mas o "faltoso" tem de se comportar pelos próximos cinco anos, porque esse 'benefício" é único no período.

Enquanto isso, garotões malhados, com bonés ridículos, abrem o volume de seus sons "automotivos" de modo a disparar alarmas e estremecer a lataria dos carros ao lado e o fiscal não se dá conta. É que esses imbecis dos automóveis barulhentos geralmente não têm sequer o carro em seu nome nem dinheiro para ajudar na obra pública que se constrói sem verba suficiente.

Claro que o fiscal, o promotor e o juiz não vão perder tempo com pé-rapado. Além do mais, esses moços podem ser drogados, gente que não liga a mínima para as sanções sociais; já os trabalhadores bem empregados e os pequenos comerciantes, estes têm de andar na linha. Ou...

domingo, agosto 27, 2006

Tempos e hábitos

Pensei em usar latim no título destas linhas, mas não me atrevo. Tentei me exibir ante o poeta Gilberto Mendonça Teles e errei a escrita... Que mico, siô! E o pior é que o portentoso professor sequer me ensinou o modo certo de escrever o que tentei... Ah, vou lhe cobrar essa! Só espero que ele não me cobre (em pecúnia, claro). Mas a frase latina que pensei em usar no título é “Oh tempora, oh moris”. Será que agora eu estaria certo? Sei não... Com isso, acumulo duas para pesquisar. A outra: “Quid abundat non nocet”.

Tudo isso para fazer um comentário besta: a mudança de hábitos através dos tempos. Na última terça-feira, fui ao Sesc da Rua 19, no Centro, para o lançamento de Todas as Fábulas, o quarto livro de poemas de Sônia Maria Santos. Uma festa à altura da autora, poetisa de texto límpido e enxuto. Estranhamente, não vi por lá aquele costumeiro batalhão de escritores em apoio à colega. Soube que estavam, quase todos, numa festa palaciana.

Eis aí uma nítida evidência dos tempos. Era comum, nos meses finais dos governos, os eventos ligados à equipe político-administrativa caírem no vazio. Mas, agora, vivemos o tempo de reeleição e isso acena com a possibilidade de o contrato de aluguel da Casa Verde de Goiás ser prorrogado por mais quatro anos. Sendo assim, e com os olhos no futuro...

Mas a casa estava cheia! Gente do mundo dos negócios, amigos de família e colegas que vêem no orgulhoso marido da escritora um líder consagrado: José Evaristo escreve com tinta forte seu nome na história comercial de Goiás. Abraço pessoas que não via há meses ou anos, cochicho com o escritor Miguel Jorge, troco beijinhos com a professora Moema de Castro e Silva Olival, rio com o poeta Gabriel Nascente. Ah, e me delicio no papo com Maria Eugênia, dignamente escudada pelo seu bem, o maestro Luiz Shcafin. Outro maestro, José Eduardo Morais, sempre bom de prosa e de música, curte mais uma bela interpretação de Saudade Brejeira, parceria sua com Nasr Chaul que, ao lado de Noites Goianas, vem a ser também um hino popular da gente de Goiás.

Brejeira também é característica da poesia de Sônia. Ela consegue, como também já fez Cora Coralina e ainda faz Adélia Prado, poetizar sobre coisas e fatos do mais aconchegante quotidiano, o ambiente de casa, como esse Invento ritos: “A beleza do rosto, / se flutua calma, / vai para a alma / pelo padecimento. / Não sei se creio. / Mas invento ritos: / desembaço vidros / espelhos / vejo-me / na luz de cada dia / e seu desenho”.

Sônia viaja desde a toalha de mesa até o copo de cicuta que nos leva a Sócrates; visita Borges, o poeta cego, e nos ensina a aprender com a vida. Recebe-nos com um sorriso, é carinhosa e generosa no autógrafo, consegue trazer para uma noite de coral e poesia centenas de admiradores de seus feitos. E, com isso, faz mais feliz a noite da gente.

Leio seu livro com quem viaja de jipe, fazendo paradas longas e percorrendo o trecho com velocidade baixa. Junto versos vários, faço nuvens de estrofes e me recolho outra vez. Vou ao Rio de Janeiro, rever amigos de décadas e passado feliz menino. Quando esta crônica chegar ao leitor, estarei, certamente, feliz por ter vivido um sarau lá no Grajaú.

Sendo assim... Depois eu conto mais.

quarta-feira, agosto 23, 2006

Terno

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Passeio meus dedos
nos seus cabelos,
e deles faço água de cascata
para encantar meu faz-de-conta.

Entendo seus olhos semicerrados
e a respiração ofegante,
a ternura da cabeça
em abrigo no meu peito

(almofada de pétalas para
aconchegar seus medos,
seus anseios, suas dúvidas
e seu repouso).

domingo, agosto 20, 2006

E o Grande Hotel, hem?

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Alguém precisa avisar o prefeito. Estão aprontando a mil nesta cidade onde a Primavera já teve doze meses e ele não sabe. Vejo-o solene na tevê, confundindo-se com os atuais pedidores de votos, mas chamando o povo a preservar a cidade, mantê-la limpa (tal como o foi outrora, num passando de bem poucos anos).

Alguém precisa dizer ao prefeito que pessoas com uniformes do poder público municipal derrubam criminosamente as árvores que ocultam com suas irritantes frondes umbrosas, os lindos letreiros dos estabelecimentos comerciais. Duvidam? No ano passado, gente da própria prefeitura derrubou uma imensa gameleira no pátio da Creche São Domingos Sávio. A gigantesca planta ocultava parcialmente o mausoléu de mármore branco que serve de sede ao escritório goiano do Tribunal de Contas da União.

Por toda a cidade, Senhor Prefeito, terceirizados da Companhia de Energia põem árvores abaixo sem ouvir protestos do povo indignado. Há poucos dias, mongubeiras e palmeiras imperiais foram criminosamente arrasadas nas dependências do tradicional Instituto de Educação de Goiás. Logo ele, o IEG, que por pouco não virou quartel da PM.

Prefeito, funcionários da sua prefeitura erradicaram da cidade as coloridas flores que nos davam alegria e registro nacional. As flores nos canteiros das praças e avenidas eram a maquiagem de todas as horas da cidade-menina de que tanto nos gabamos. Agora, ficamos sem-graça quando, lá fora, alguém diz: “Ah, Goiânia! A bela cidade das flores!”. Olha, Prefeito, dá vontade de dizer aos adoradores dos nossos jardins que não voltem por aqui agora, pois estamos arrumando a casa, quem sabe no ano que vem?

Ah, mas o senhor precisa saber também que o trânsito não está tão bom quanto lhe dizem, não. Transformações de fluxo no Setor Oeste, sem a indispensável sinalização de placas, orientando os condutores de veículos, só causam confusão. Porque as administrações de Goiânia têm tanta aversão às placas, hem? O cidadão morador e o visitante agradeceriam, caso elas existissem.

Mas, prefeito, é incrível que não lhe tenham dito que a Secretaria de Obras ou a Comob não devem ir para o Grande Hotel. O edifício, um dos pioneiros da Capital, é um marco de memória, mas seus auxiliares estão furando paredes e passando cabos; farão de lá um imenso depósito de materiais que profanará gravemente a História de Goiânia. Ninguém lhe disse nada, Prefeito?
É muito desagradável, isso... Tal como foi desagradável a desfiguração da Avenida Anhangüera sob o pretexto das linhas de ônibus. As guarirobas que identificavam os 14 km da nossa principal artéria de tráfego foram sacrificadas em vão e a paisagem ficou mais pobre. Agora, que queremos a cidade enfeitada de ipês e buganvílias, as moto-serras põem abaixo as árvores.

Prefeito, defenda seu nome ante a História e demonstre seu amor a Goiânia, impedindo ações arbitrárias que só causam prejuízo à paisagem e ao meio-ambiente. Interfira com seu carisma e seu poder de líder, ou se terá a certeza de que, se Maguito for eleito, o Centro Cultural Oscar Niemeyer será transformado em estação rodoviária ou canteiro de máquinas da Agetop.

Ainda há tempo, Prefeito. Assegure à História de Goiânia o destino maior do Grande Hotel, ou o INSS ficará muito à vontade para tomá-lo de volta e, sabe-se lá, cedê-lo para se fazer ali mais um camelódromo.

Aí, prefeito... Só Deus!

quinta-feira, agosto 17, 2006

Que te ame apenas

Deixa, amada, que te cubra a testa
de sussurros apenas audíveis
que se confundem com beijos ternos.

Deixa que a ternura dos meus dedos ágeis
te explorem seguros
a pele morna do desejo aceso.

Deixa, amada, que te beije a alma
pelo vão dos lábios que me ofertas serena
e ao cingir-te o corpo nas palmas abertas
te sinta em posse incontestável,
mas também me entregue
por sentir-me assim tão teu
e certo da comunhão de orgasmos.

Deixa que te ame.
Apenas.

domingo, agosto 13, 2006

Tudo muda... Muda?

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Ventos estranhos, os que sopram o planalto em agosto. O ar é seco e se aquece fácil sob o sol, na ausência total das nuvens filtros. Respira-se mal, o ar entra como brasa nariz narinas brônquios adentro e traz o pó das ruas e das construções, do chão vermelho de origem básica, derrame de lavas em falha tectônica muito antiga, dizem.


O ar, que assegura a vida, invade e queima. E traz problemas, porque não chega puro e não nos dá defesa. Para quem vive entre velhos livros, o ar contém poeira velha, sedimentada com ácaros e outros mínimos organismos nada benfazejos. E vêm as dores, a febre, o mal-dormir e não-querer agir, quando em vigília. Fico passivo, quando assim. E leio coisas engraçadas, como mensagens inúteis que infestam a Internet. Já pedi, não adianta, continuam enviando-me mensagens otimistas de auto-ajuda, de elevar auto-estima... Nessas ocasiões, valem breves frases ditas no ímpeto da impaciência: se conselho fosse coisa boa, não viria de graça. E, em sua versão mais recente, diante da sofisticada tecnologia dos medicamentos: Viagra? Só para a mulher habitual; com as outras, é totalmente desnecessário.

Com base nisso aí, refuto os tais de pê-pê-esse que me mandam com piadinhas sobre o baixo nível cultural do presidente Lula, sobre a auto-dispensada erudição do ex-presidente FH, enfáticas montagens envolvendo o vocativo de retórica “todas e todos”, comparando-o ao patético “brasileiras e brasileiros” do ex-presidente (mas sempre amigo do poder) José Sarney e o menos chato de todos, o “minha gente!” do defenestrado Fernando Collor.

Coisas chatas do quotidiano (posso escrever “cotidiano”, mas prefiro a forma tradicional). Um libelo em defesa dos animais e da natureza, tentando convencer que cães são como crianças. São mesmo? Ah, tá! Cão não é sequer um animal natural, é descendente de lobos e adaptados à vida doméstica, claro. Neste caso, os cães são como nós, brasileiros: resultantes das incontáveis misturas de raças. E os cães modernos são, como os modernos atletas, frutos de experiências genéticas em laboratórios. Aliás, esses cães antecipam os atletas e cientistas do futuro, segundo a doutrina daquele médico alemão que teria feito experiências mil com meninos judeus e que foi preso no Brasil... Mengele, é isso?

Ocorreu-me que os animais não morrem de fome senão quando o ser humano se interpõe na sua relação com o habitat. Ou seja, os animais, em suas condições normais, não carecem de nossa proteção. O homem mata animais por prazer; e mata seu igual para lhe tomar comida, dinheiro, bens, terras e parceiras. Sim: a mulher era propriedade. Ainda existem, e são muitas, as que acham que é isso mesmo, que só serão felizes se arrumarem um “dono”. Mas existem as mais evoluídas, as que se sabem dotadas de alma (ao contrário do que a Igreja afirmava até há alguns séculos) e, em lugar de propriedades, passaram a ser algozes de seus machos. Assim, como as fêmeas de gafanhoto, comem-lhe as cabeças após o coito.

Sinal dos tempos, da modernidade tecnológica, da época em que justamente os mais moços não se cansam de dizer “hoje em dia”, como se o passado fosse tão diferente. Salomé pediu uma cabeça; Cleópatra metamorfoseou ao menos dois impérios; Joana D’Arc fez uma revolução e reencarnou sua garra em Anita Garibaldi; Messalina...

E nós ainda morremos contaminados pela prosaica poeira suja, condicionada em ar seco!

quarta-feira, agosto 09, 2006

Vôo raso


Pele alva rósea,

apenas a renda moldura
o vértice, virilha e vulva.


De perto e alto, voleio

e vôo, vejo picos carmim
de mínimos montes.

Horizonte, a norte: olhos tênues

a encimar os lábios − estreita nesga,
convida o falo.

É perto, quase a toco.

Cheira a almíscar e doce,
moça mansa no ébano lençol.

sábado, agosto 05, 2006

Aliviar a alma

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Primeiro, foi Beth Luz, fonoaudióloga e professora, quem levantou esses versos de Vítor Martins para música de Ivan Lins: “Quero sua risada mais gostosa / Esse seu jeito de achar / Que a vida pode ser maravilhosa”. Ivonete deixou seu preferido, Gonzaguinha: “Viver e não ter a vergonha de ser feliz. / Cantar e cantar e cantar / a beleza de ser um eterno aprendiz” A chamada era essa aí, com esse título: aliviar a alma. Claro: quem canta seus males espanta − diz o ditado.

Lembrei-me de Orestes Barbosa: “A porta do barraco era sem trinco / mas a lua furando nosso zinco / salpicava de estrelas nosso chão”. Depois, de Braguinha, também conhecido como João de Barro, que poetizou para Pixinguinha: “Ah, se tu soubesses como eu sou tão carinhoso e o muito, muito que te quero”. Miguel veio de Raul Seixas e sapecou “Enquanto você se esforça pra ser um sujeito normal e fazer tudo igual. Eu do meu lado aprendendo a ser louco, um maluco total...”

“Eu queria ter na vida / simplesmente / um lugar de mato verde / pra plantar e pra colher” – lembrou Sílvia, de Gilson e Joram. E aí vieram Fernando (lembrando Bôscoli), Eneida (novamente Gonzaguinha), Corina (Vinícius e Tom), Bambino (cantando Bigorrilho... quem escreveu Bigorrilho, hem?). É uma roda, em ambiente de Internet, de cinquentões ex-alunos do Colégio Pedro II, os vovôs e vovós daquele baile de 3 de junho na AABB da Lagoa, no Rio de Janeiro. Memória é o que não nos falta, nem fatos de infância e adolescência; nós, filhos da lousa, do lápis e das canetas de tinta, agora fazemos do computador nossa ferramenta de reencontro. Mas somos daqueles que “endurecemos sem perder a ternura”, parafraseando o dito atribuído a Che Guevara.

Sim, somos do tempo que era preciso escrever uma carta para se comunicar à distância, porque o telefone era, ainda, um recurso restrito quase que só à própria comunidade próxima. Era o tempo dos carteiros, das cartas e telegramas; tempo em que o Correio era “Correios e Telégrafos”. Hoje, quem se lembra o que é um telégrafo? E Código Morse? E telex?

Havia as músicas: “Quando o carteiro chegou / e o meu nome gritou / com uma carta na mão”. Quanta emoção, gente! Havia o prazer de se receber uma carta, mas também o prazer de escrever. As gerações que nos antecedem curtiram bem isso. Conheci pessoas que se casaram “por correspondência”, isto é, conheceram-se trocando cartas em páginas de correio amoroso de jornais e revistas e, após dois ou três encontros, decidiram-se pela união “até que a morte” etc.

Mas, venhamos e convenhamos, o que mudou mesmo foi a máquina, não o hábito. Correio, hoje, não é mais, como já o foi, instrumento de comunicação pura e simplesmente. Esta semana, fui enviar encomenda (livros, como sempre); amarguei uma fila porque uma jovem senhora resolveu abrir mão da fila do banco e da lotérica para pagar suas contas no correio. E, no outro guichê, um cidadão pagava um montão de carnês do baú (o da felicidade do Sílvio, o grego da tevê).

Mas os hábitos, eu dizia, continuam. A gente gosta de cantar quando se faz uma roda de amigos; a gente gosta de citar versos em músicas e mesmo poemas de livros, desses poemas que não são letras de música. Existe, sim, este prazer também. E enquanto não é possível o encontro para o chope na roda, a gente conversa, e conversa, e conta casos e recorda coisas... Mas conversa escrevendo, como antigamente.

Só que sem caneta nem lápis; e sem papel. A gente escreve teclando à distância; e a roda junta gente de Roraima, Goiás, Paraná, São Paulo, Minas, Rio, Bahia...

quarta-feira, agosto 02, 2006

Namorantes

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A busca de espaços
na pele guia-se por ondas
de cheiro e calor.

Beijo pés sensuais,
sensíveis demais,
e sigo a estrada tépida:

carícias de beijos e mãos
percorrem pernas acima,
perdem-se no vão das coxas.

No vértice de Vênus
e pelos mornos,
abraço nádegas.

E as mãos, então, abrem-se
em asas lepidópteras,
atingem seios.

Ficante em meio corpo
ao sul, guardo saudades
dos beijos norte.