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Especial para o jornal Tribuna do Planalto
Especial para o jornal Tribuna do Planalto
Viajar no tempo é algo de mágico. Fazemos uma viagem impossível, visitando o passado tal como o conservamos nos arquivos rotos da memória. E, nessa viagem, não nos é dado o percurso, de modo que não interferimos no trajeto: não jogamos lixo pela janela do carro; não molhamos nossos pés nos riachos; não descansamos à sombra de uma frondosa árvore. Viajar no tempo é apenas chegar. E ver o passado tal como o temos hoje, e nem sempre o temos como realmente ele era, mas como o lembramos.
Engraçado, isso. Mas todos nós visitamos nossos tempos anteriores, seja o ontem, seja o ano passado, seja a juventude ou, o que é sempre melhor, a infância. Gosto desse passeio. Gosto de me ver descalço, calças curtas, sem camisa, correndo pelas ruas de pó e cascalho da minha Caldas Novas pequenina e esquecida. Gosto de lembrar da escolinha, dos sinos da igreja, da sirena do cinema, da hora do recreio, dos quintais de muitas frutas, dos banhos de córrego, das férias... Ei! Por que mesmo precisávamos de férias?
Gosto de saber do que gostava: asa de frango, pequi, pamonha e de esperar dezembro. Antes: gostava também de setembro, por causa do meu aniversário. Mas dezembro era todo especial, porque todos, sem exceção, esperávamos o Natal. E Natal é aniversário de todo mundo. Por isso era bom. Não: era ótimo!
Agora, este dezembro de 2006 me parece meio que sem-cerimônia. Chega-me frio, sem a ansiedade gostosa dos dezembros antigos. E, parece, esse sentimento está se alastrando. Uma pena: podia ser só eu. As novidades ficam, todas elas, para janeiro. É que inventaram que os ditos Chefes de Executivo (governadores e presidente da República) tomam posse dia 1º de janeiro. Ainda que alguns tenham sido reeleitos, há a posse; e, após a posse, a nomeação dos secretários. Então, nós, a raia miúda, ficamos aí a esperar notícias, tentando saber quem será o secretário ou o ministro disso ou daquilo.
O governador Alcides Rodrigues promete, em Goiás, um secretariado com alta presença feminina. As saias ocuparão metade da equipe de governo. Mas as novidades que interessam mesmo não são apenas os nomes dos auxiliares diretos dos governos, mas, sim, suas ações. E cada cidadão atenta mais para o que mais lhe diz respeito. Sendo assim, preocupa-me, no meu Estado, o nome do (ou da) titular da Cultura. E, claro, suas ações.
Serão, então, quatro anos de muito trabalho, com o propósito de dar continuidade ao que se fez nos últimos oito anos. E, ainda, criar novos projetos. Antes mesmo que nos apareçam novos projetos, conto as minhas ansiedades: quero ver pronto todo o complexo do Centro Cultural Oscar Niemeyer, com o prédio das bibliotecas devidamente ocupado e atendendo; e quero, ainda, ver no cenário de Goiânia a estátua eqüestre do fundador, Pedro Ludovico Teixeira.
Atrevo-me, mesmo, a adivinhar que essa será uma das primeiras ações que o governador Alcides recomendará ao seu titular da Agência de Cultura Pedro Ludovico (se Pedro lhe cede o nome, merece da Agência de Cultura esse mimo: a instalação definitiva da estátua, que consumiu de modo triste os últimos anos de vida da escultora Neuza Morais).
Se isso se concretizar, o governador Alcides terá começado de modo altamente alvissareiro seu novo governo.