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quarta-feira, outubro 08, 2008

O coração mede o tempo e o longe


O coração
mede o tempo
e o longe



Escolhi esses versos de Otávio Daher para a canção de João Caetano (a música foi tema da novela Pantanal, da Rede Manchete de Televisão, em 1990): “Meu coração já sabe que o seu não quer mais me amar / Não bate mais junto está na distância não sabe voltar”. Estes versos tocam-me muito. Primeiro, porque evidencia, com ênfase, o coração metafórico; depois, porque fala em distância... E distância, medida de espaço, às vezes nos remete ao tempo, também.
Sempre me pergunto quando, e em que circunstâncias, criou-se esse órgão virtual na história da humanidade. Algum apaixonado, certamente acometido de uma síndrome de medo ou de pânico ante a hipótese de perder a amada (sim: não terá sido uma mulher quem inventou a figura literária; as mulheres são mais fortes, principalmente nas questões do amor). O certo é que o coração passou a simbolizar as coisas do amor, e de modo tão intenso que não há necessidade de se explicar absolutamente nada: basta falar de coração e se tem a certeza de que o tema é o amor. Até porque o coração físico, esse é o órgão das coronárias e dos infartos.
Em muito mais da metade dos casos, as questões de coração e amor referem-se às relações românticas. Sobra amor de coração também para uns raros amigos, para filhos e netos e, às vezes, até para irmãos.
Interessante, mas tenho de abrir parênteses. Pode parecer estranho, mas o amor ao irmão é algo questionável, mesmo. É incrível que, quando queremos dizer a um amigo que ele é mais que apenas amigo (como se fosse pouco ser amigo), dizemos que ele é um irmão. Ou bróder, que até as meninas dizem “ela é minha bróder”. Mas dizer que um irmão “é meu amigo” também reforça a fraternidade, digo até que na mesma proporção em que se chamar o amigo de irmão reforça a amizade.
Dizia eu, pois, que a arrasadora maioria das vezes em que evocamos o coração como instrumento do amor, estamos falando de amor romântico. É quando lembramos Cupido, o anjinho peralta que, armado de arco e flecha, está sempre atento a desferir suas setas e colar decididamente dois corações.
Mas o coração metafórico comete, também, outras pancadas. A saudade, por exemplo, é forte parceira das retumbâncias cardio-amorosas, nem sempre por causa do amor. Nesta segunda-feira, 6 de outubro, meu coração festejou lembrança. E lembrança de coisa distante, fato de trinta anos idos. Era uma sexta-feira, entre fogos de festas. E era Pirenópolis. Foi lá, num 6 de outubro, que festejei a inauguração de minha vida em livro.
Coisas boas a memorar, portanto. Recordo o professor Gomes Filho, que me revisou os originais e produziu prefácio; e foi ele quem discursou para me apresentar a um público leitor, justamente a gente de tantos parentes na vetusta Pirenópolis que já foi Meia-Ponte de Nossa Senhora do Rosário. Naquela distante 1978, a cidade já cantava a canção de José Pinto Neto com letra da minha lavra. Eu me sentia, devidamente, um filho da terra. E preciso explicar que a festa deveria, sim, ser feita em Caldas Novas, meu berço; mas não havia ambiente, então; como, de resto, ainda não há. Caldas Novas não se volta para as coisas do espírito, mas apenas da pecúnia. Infelizmente. Era assim em 1978; continua sendo.
Naquele outubro de trinta anos atrás, Altamir Mendonça era o prefeito. Apoiou-me na iniciativa, com uma ajuda financeira; patrocinou a festa, que fez inserir nos festejos de aniversário (era a festa dos 251 anos) – enfim, proporcionou-me um grande evento, que, vê-se hoje, marcou minha vida e registrou-se como que bordado em cores na minha memória.
Há cinco anos, e incluindo a minha festa de Jubileu nos festejos de Goiânia nos 70 anos de sua Pedra Fundamental, reeditei o livro de estréia – “O Cerco”. Repeti, com breves cortes, o prefácio do professor Gomes Filho, que já havia nos deixado; inseri o prefácio de Brasigóis Felício, que o escrevera para a primeira edição, mas que, por um desvio do destino, não me chegou às mãos em tempo hábil; repeti também um breve comentário do saudoso amigo Roberto Fleury Curado e contei, de novo, com ilustrações de Jorge Braga (desta vez, ele produziu novas ilustrações para os mesmos contos, e o livro trouxe os desenhos todos, ou seja, os da primeira edição para serem comparados com a interpretação atual do artista).
Enfim, e concluindo a definição da festa no meu coração metafórico, quero confessar que, no início deste ano, pensei em produzir um novo livro para festejar estas três décadas. Mas não vejo em mim muitas novidades a expor, imaginei se não ficaria repetitivo e limitei-me à produção, duas vezes na semana, destas crônicas para o Diário da Manhã. Aqui, conto emoções novas ou fatos vistos ou vividos no quotidiano.
Hoje, pois, permitam-me esta reserva para falar do meu íntimo. Afinal, aquele livrinho de 1978 multiplica-se em mim. A partir dele, proseei mais, poetizei mais, viajei mais. Enfim, vivi mais. E pensar que, naquele tempo, eu já imaginava que morreria daqui a sete anos!
Tudo bem. É sempre possível que agora (hoje ou amanhã, ou daqui a sete anos) eu acabe acertando. Mas, agora, chega. Não me sinto bem falando só de mim. É que o coração sente o quanto é difícil bater junto quando a distância se perde...
Obrigado pela leitura de sempre. E pela tolerância também, uai!



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14 comentários:

Anônimo disse...

Adorei sua crônica,é o Luiz que eu gosto de ler,poetico,saudosista, amigo e amável Parabéns

Anônimo disse...

PARABÉNS! PARABÉNS! PARABÉNS! Luiz! Há 30 anos, então, a literatura ganhava um escritor/poeta de sensibilidade à flor da emoção e de grande talento. Por que comemorou sozinho, criatura? Virou "carmelita" é? Festejo com muita alegria esse marco que deveria, sim, ser destacado na AGL. Amanhã, na reunião, pedirei a palavra e direi a respeito.

Ah! Luiz, cadê o e-mail daquele jornalista (do HOJE?) que ganhou o troféu da AGL como cronista? Olhe, deu-me um branco antológico e não consigo lembrar o nome dele, pode? Sei que começa com S... Beijocas. Lêda

Anônimo disse...

Querido!!!!!!


Parabéns!!!! Parabéns!!!! Nós vamos cantar pra você nesta sexta lá no Grande Hotel!!!!!
Beeeeeeijos!!!

Anônimo disse...

Luiz...Luiz...amei,amei e amei. Adoro ler um texto que é escrito com a alma. Com tamanha sensibilidade que nos leva a um passado gracioso e belo. É fácil passar pela vida,simplesmente. O dificil é fazer história, ser parte dela e mostrar no futuro que vale(valeu) a pena. Parabéns pela gostosa lembrança que, além de informar me emocionou. Isso não tem preço. Rrsr Abraço

Anônimo disse...

"Meu coração/sem direção"...Ah, querido poeta,hoje,meu "orgão virtual" encontrou a direção e chega até aqui; para te dizer, que tenho lido suas crônicas e adorado todas, mesmo porque é quase impossível alguém não gostar do seu estilo limpo,romântico, amável e irreverente de escrever.Luiz, quem têm motivos para agradecimentos somos nós, seus leitores, pois você engrandece e enriquece a literatura com seu estilo "gostoso" e AQUINIANO de escrever.

Bem, a também escritora Lêda Selma tem razão,quando diz que "há Há 30 anos, então, a literatura ganhava um escritor/poeta de sensibilidade à flor da emoção e de grande talento".Concordo com ela também,
quando disse que você não é "Carmelita" e que não precisava comemorar às 3 décadas de escritor sozinho.Bom, mas agora que Lêda Selma e Marley Costa vão comemorar seus 30 anos de estréia, acontecimento e sucesssos na literatura, eu, estando distante, só posso, daqui de Rio Verde, te enviar vibrações positivas e dizer:
PARABÉNSSSSSSSSSSSS POETA LUIZ DE AQUINO,seja feliz e continue escrevendo não por mais sete anos, e sim, por muitas dezenas mais!
Beijos,

Lêida Gomes

Mara Narciso disse...

Leio sempre, mas já cometi a grosseria de não comentar. Vejo que pelo menos um "oi" deveria ter dado.

Noto a total e completa falta de comedimento entre os políticos e os jogadores de futebol. Falam de si, e quando pouco, são os melhores do mundo no que fazem. Assim não vejo motivo para que você não fale de você mesmo e dos seus amores.

Mas confesso que me decepcionei um pouco com essa crônica, já que ameaçou uma revelação que não veio. Acabou depressa demais. Espero que tenha continuação e não se acanhe em dizer que é bom nisso ou naquilo. As palavras são a sua casa.

Só quero que seja péssimo em previsões: 70 anos não idade de morrer não. Hoje todo mundo vive 80anos.

Anônimo disse...

Luiz, parabéns pelos 30 anos de sua estréia literária! O tempo passa rápido e, quando vemos, lá vai ele, deixando-nos mais dias e mais noites para que continuemos com o ofício da nossa escolha: no seu caso, a literatura, neste momento lembrada, festejada, ressurgida na cidade de Pirenópolis, na festa onde você estava, inaugurando o primeiro livro e carregando todos os sonhos. A vida o festeja também agora.
Um grande abraço.

Maria Helena

Anônimo disse...

Eu tive, e tenho, o grato prazer em ser um dos primeiros a fazer parte dessa sua estréia ao comprar um exemplar e, diga-se, do próprio autor, lembra-se?
Abraços deste amigo de sempre, jcarlos

Unknown disse...

Luiz, boa tarde.

Parábéns! Não só pelos 30 anos de carreira, mas por este estilo tão seu de dizer o que sente. É sempre muito gostoso "ler você"!

A sua sensibilidade é uma coisa que impressiona! Sou tua fã, de verdade mesmo!
Um abraço carinhoso.

Anônimo disse...

Parabens...poucas pessoas tem o privilegio de comemorar, por tanto tempo, uma atividade que ame...Seja feliz...Abraços.

Anônimo disse...

"...Tudo bem. É sempre possível que agora (hoje ou amanhã, ou daqui a sete anos) eu acabe acertando. Mas, agora, chega. Não me sinto bem falando só de mim. É que o coração sente o quanto é difícil bater junto quando a distância se perde...
Obrigado pela leitura de sempre. E pela tolerância também, uai!".

- Wai? - Because I... gosto de seu O CERCO e sou sua amiga, uai, também!!!

Mas estou com saudade de CÉLIA, JOSÉ LUÍS BITTENCOURT E MODESTO.

Anônimo disse...

Parabéns...parabéns...parabéns... Você sabe que a vitória é nossa, seus leitores, mais do que sua... Muito obrigada por ter sido tão teimoso....rsrsrsrs...
Beijos.

Anônimo disse...

É ISSO AI MAS REALMENTE, GOSTO MUITO DE LER SUAS CRÔNICOAS, VISTO QUE VC ABORDA TEMAS DE RELEVÃNCIA NACIONAL, MAS TAMBÉM SABE VALORIZAR A CULTURA DO SEU ESTADO E EM ESPECIAL DA SUA CIDADES, É EXATAMENTE ASSIM QUE CONHECEMOS OS GRANDES HOMENS.

Madalena Barranco disse...

Querido Luiz,

Que saudade de você, amigo "broder" virtual!! Me perdoe a ausência... Você acredita que ao não receber mais seus avisos por e-mail sobre as publicações do blog, eu acabei me perdendo de você? Mas aqui estou e fui recebida por essa maravilhosa prosa, que me acaricia o centro de força cardíaco tão humanamente falível e poderoso ao mesmo tempo. Você fala em bordar em cores na memória (que frase linda e sugestiva!). Quanto à sensação que temos de estar sempre reescrevendo o que já grafamos... Eu concordo com você, meu querido - e essa é a melhor parte, porque de certa forma aperfeiçoamos algo temperado com nosso estilo.

Beijos, com carinho.
Madá