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sábado, dezembro 27, 2008

E chove outra vez!

E chove outra vez!

Luiz de Aquino

 Consta que foi na década de 1950 que um economista, assessor ou conselheiro do presidente Dwight Eisenhower, dos Estados Unidos, bolou a economia do desperdício. A tática é produzir algo que se desgaste em pouco tempo, não possibilite conserto, e sim, a sua imediata substituição. Com isso, ocupa-se a linha de produção, que depende do extrativismo, da transformação primária, da nova manufatura, da distribuição e do comércio, com tudo o que se faz de ligação entre essas etapas da tal linha de produção.

Estava instituído o consumismo. Afinal, era um após-guerra e uma tal de conquista espacial estava a caminho, com uma tal de guerra-fria já instalada. Reconstruía-se a Alemanha, refazia-se Londres e reinventava-se o Japão. Havia o roquenrou, novas danças entravam na moda com a velocidade dos novos modelos de roupas e calçados, a indústria de “bens de consumo duráveis” era algo que crescia a olhos vistos e até mesmo o Brasil, que mesmo naquele tempo já era ridicularizado pelos próprios brasileiros, que o chamavam de “gigante

 adormecido”, trazia novidades: construía-se a nova Capital, no

 coração do país, e nascia a bossa-nova.

Há quem diga que, há pouco mais de cinqüenta anos, o meio-ambiente não exigia tanta preocupação. Ledo engano: para mim, menino estudante naquela época, é bastante viva a memória das pregações dos professores em salas de aula. Falavam sobre os cuidados a se ter com os cursos d’água e com os lençóis subterrâneos; falava-se da necessidade de se preservar a vegetação e de se evitar a extinção dos animais. Mas, estranhamente, hoje, mesmo algumas pessoas na oitava e nona décadas de vida ainda teimam em dizer que “há trinta anos, ninguém se preocupava com ecologia”.

Ah, sim! Entendi... naquele tempo, não se usava a palavra ecologia (ao que sei, foi o jornalista Millôr Fernandes quem a introduziu no nosso quotidiano; era o tempo da ditadura e do jornal O Pasquim). Preservação ambiental é coisa de saúde pública, de sobrevivência da espécie humana e do planeta. E é preocupação não apenas de ambientalistas, mas de qualquer cidadão, profissional de qualquer área, que mereça ser chamado de profissional. Quem se opõe a isso deve ser chamado de bandido, antes mesmo que a Justiça o condene por qualquer coisa.

Um bom economista é, por natureza, ambientalista. Se Eisenhower não fosse um general, veterano da sangrenta II Guerra Mundial, talvez tivesse em sua equipe um economista voltado não apenas para o lucro imediato ou para uma vitória na tal da guerra-fria, aquela em que os EUA disputavam o domínio do mundo com a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, a temida URSS. Mas aquele era um imediatista, um caçador de resultados financeiros a qualquer custo. E o tal de ideal americano é um canto de sereia que seduz pessoas nos quatro cantos do mundo, haja vista a resistência que os tais “irmãos do norte” têm para com os esforços de melhoria da qualidade de vida sobre a Terra. Para atingir e preservar seus sonhos, violentam todo o planeta, e que se danem os nativos bobinhos dos outros cantos da Terra, principalmente se forem do que eles mesmos chamam de “terceiro mundo”

Então, fica assim: eles consomem, eles gastam, nós produzimos a um custo impagável, pois destruímos as fontes dos nossos recursos naturais, sujeitos a salários irrisórios, sem cobertura das mínimas garantias de vida digna, expondo-nos a contaminações irreversíveis. E eles, que manobram a economia, conseguem, milagrosamente, deter uma moeda forte sem lastro no seu tesouro nacional, com emissões monetárias de tal nível que, em qualquer país, equivaleria a uma inflação insustentável.

E aí, geram uma crise econômica sem precedentes e sacodem o mundo. E não precisava, pois os recursos não renováveis já estão comprometidos, enquanto a produção agrícola também está ameaçada porque as mudanças ambientais (a ênfase maior é por conta do aquecimento global) já comprometem o ciclo natural da água e, com ele, o complexo climático sofre transformações drásticas.

E aí...

Luiz de Aquino é escritor e jornalista, membro da Academia Goiana de Letras. E-mail: poetaluizdeaquino@gmail.com

5 comentários:

Anônimo disse...

Confrade e amigo Luiz de Aquino:

No seu artigo “E chove outra vez!”, no DM deste domingo, você se refere ao termo ecologia, acrescentando “ao que sei, foi o jornalista Millôr Fernandes quem o introduziu no nosso cotidiano; era tempo da ditadura e do jornal O Pasquim.”
Meu pai, o também poeta Benedito Odilon Rocha, foi prefeito de Corumbá de Goiás entre 1947 e 1950, tinha 30 anos quando assumiu o cargo e havia se iniciado em literatura muito jovem, quando integrava a primeira turma do Colégio Anchieta, de Silvânia. Ele, Hélio Lobo e José Sisenando Jaime foram os fundadores do jornal Voz Juvenil.
Voltando ao assunto ecologia: meu pai já fazia uso dessa palavra em textos escritos naquela época, na condição de prefeito, como relatórios e defesa de propostas. Encontrei o substantivo e os adjetivos decorrentes, como “condições ecológicas”, por exemplo, em mensagem à Câmara Municipal defendendo o cultivo de trigo no município.
Um brinde ao Ano Novo e ao Meio Ambiente. Um abraço do
Hélio Rocha

Anônimo disse...

Um bom dia, meu caro escritor Luiz de Aquino!


Quero com este e-mail parabeniza-lo pelo conjuto de sua obra que muito me encanta. A sensibilidade nela contida às vezes marejam os olhos. Sou assinande do DM e tenho acompanhado todas as suas cronicas/contos neste que tanto me encanta.

Obrigado por nos brindar com estas lindas historias.

Espero que em 2009 todos os seus projetos sejam realizados e que o Sr. possa ter a melhor decisao de vida possivel neste ano que se inicia.

PAZ e LUZ em 2009 para toda tua familia!

Grande abraço do poeta, Carlos Máximo

Mara Narciso disse...

Os bens renováveis do planeta Terra só comportam duzentos milhões de terráqueos consumindo como os norte americanos. Eles jamais cederão lugar aos demais. Se fôssemos nós, faríamos isso?

Anônimo disse...

Bem, Luiz, em 1971 (ou 1972), quando no curso cientíico, tivemos um semestre inteiro com a disciplina chamada Ecologia, no Colégio Pedro II, em Blumenau/SC. O professor chamava-se Alceu Natal Longo. Acho que vale a pena registrar.

Urda.

Irinéa MRibeiro disse...

Olha eu aqui!
Não dá pra ficar longe do seu blog, poeta! Significa ficar alheia aos acontecimentos do planeta-Brasil.
Gostaria de falar de um professor meu de desenho,(1962) que se denominava Fértil Esteta Artese, e que já falava sobre a necessidade de preservarmos nosso planeta.Achavam-no esquisito,mas eu consegui perceber o código e assimila-lo!
Acho que daí pra frente, passei a entender a natureza de forma diferente.
Como professorinha, repassei p/ minhas crianças esse amor.(fiz minha parte sem perceber a importância da essência recebida....)
Consciência ecológica é assim.
Ela já vem em nosso DNA,mas precisamos decodifica-la em nossa infância, para tê-la pra sempre em nossas vidas!
2009 será importantíssimo para fortalecer essa chama!
É o que eu desejo a todos no mundo.
Saudades...