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quarta-feira, janeiro 12, 2011

Crônica do poeta Valdivino Braz

Recebi, do escritor Valdivino Braz essa jóia, apenas para agradecer-me o envio que lhe fiz de um filmeto (enviado pelo coleguinha Edmar Oliveira): http://www.youtube.com/watch?v=Gi_P8XwrSCU&feature=player_embedded. 
Vai daqui a minha admiração e a justificativa: eu apenas lhe enviei o filminho... 
Agradeço, envaidecido, seu comentário e faço já a correção (porque - por que), esclarecendo que Mary Anne, minha revisora de plantão, já o corrigira, mas ao postar passei o erro; e vi também, em sua crônica, duas ocorrências de espaços no meio de palavras (essas pequenas traições que nos fazem os computadores). 
Enfim, um elogio seu a trabalho meu! Crítico que nada assina declarou, certa feira, em entrevista, que você, eu e  Delermando Vieira vivemos trocando elogios; este é o primeiro seu que recebo, com quase dez anos desde a denúncia leviana do tal crítico; e não me recordo de tê-lo elogiado por aí afora, apesar de seus inegáveis méritos.
Abraços, meu poeta!

L.deA.



Poeta Valdivino Braz
Uma mão e um mamão

Valdivino Braz (*)


O jornalista, escritor e poeta Luiz de Aquino repassa-me e-mail com endereço eletrônico que me leva a um primor musical, um emocionante tributo a Van Gogh. Na honrosa “presença” e com a licença do possível leitor, de público me dirijo e dou retorno a Luiz de Aquino.


Caro Luiz, é, com efeito, uma belíssima música, esta que você me indica, repassando-me a chave de acesso pelo Youtube. “Vincent (Starry Starry Night)”, de Don McLean, música tocante, valendo aqui o trocadilho. Letra bem feita, profunda melodia, verdadeira e bela poesia, tendo como pano de fundo e ao mesmo tempo legendando as telas de Van Gogh, um gênio com a sua arte e sofrimento. Arte grandiosa, sofrimento de lucidez e fixação do belo; e o belo, às vezes, também machuca. Grato pelo envio da canção, dela eu não sabia, e recebo-a como um presente.

Agora visito o seu sítio (http://penapoesiaporluizdeaquino.blogspot.com) e me deparo com assuntos pertinentes, sobre os monumentos de Goiânia, sobre a educação de qualidade e sobre os bens da cultura.

A Cartilha Sodré, dos bons tempos...

Coincidência (em sua matéria sobre educação): dos nove para os dez anos de idade, fui-me do sertão para Goiatuba e daí para Uberlândia, em agosto 1950, e só em 1951 (como você) iniciei estudos primários, no Grupo Escolar Coronel José Teófilo Carneiro, mas já então lendo e escrevendo, ensinado por tia Rosa, em casa, com a “Primeira Cartilha”, do Theobaldo Miranda Santos. Isso me rendeu um adiantamento escolar: vendo-me já sabendo ler, a professora me levou até a diretora da escola e disse a ela: “Esse menino não pode ficar no primeiro ano, ele já sabe ler e escrever”. A diretora, Maria Aparecida Lomônaco, me deu para ler a “Cartilha Sodré”, de Benedicta Sthal Sodré, e fui lendo tudo, só titubeei ao ler “A vaca é malhada”, engrolei-me com o “lh”. Passei no teste, ganhei a cartilha e transferência pa ra classe mais adiantada, ou direto para o segundo ano.

Fui até o fim do quarto ano sem levar bomba, ou tinta, na gíria de hoje. Na solenidade de entrega dos diplomas, ganhei de presente o livro “A Princesa de Bambuluá”, de cuja autoria não me lembro e não sei se é o mesmo livro (deve ser), mas sei que o seu xará de prenome, Luís da Câmara Cascudo, coletou um conto com esse título e este foi editado para o público infanto-juvenil. Penso (logo...) que o livro deve ser o mesmo. Por essas e outras “proezas”, com o dom de uma saliente sapiência, é que, modéstia à parte, sem falsa modéstia e aqui mandando a subserviente humildade às favas, sempre fui um menino inteligente. Pode?! Ou, como diria o nosso humorista Nilton Pinto: Tem base? (Risos).

E aquele Luiz com cara de menino na fotografia, é a cara do Aquino. Refiro-me à fotografia de 1956, na sua matéria sobre a educação. Em tempo: já na matéria sobre os monumentos, no parágrafo em que você fala sobre “a dissonância entre o original e o atual” (perto da fotografia da Praça Latiff Sebba, com as imponentes e futuristas “agulhas” de Iris, como as chamo, e das quais gostei), você, que bem escreve, faz a seguinte pergunta: “Porque não aprender com a Europa?”. Veja bem (ide e vede), esse “Porque” aí não é separado: Por que (?). Um cochilo. Pois é. Ou sou eu que estou cochilando?

Escoteiros, e não soldados.
O mais interessante vem agora. Na matería sobre a educação, você ilustra com o antigo caderno “Avante”. Presumo que tenha lido meu romance “O Gado de Deus” e, de boa memória, sabia que que tal caderno trazia escoteiros na capa, com a bandeira brasileira, e não soldados na Segunda Guerra Mundial, como coloquei no referido livro, na parte intitulada “Caderno do menino Inocêncio de Deus Divino” (que era e sou eu, ainda). Memória minha me tem faltado feito maminha que se despenca e a contento já não alimenta. Gostou dessa? Tinha comigo que naquela capa de caderno havia soldados, e não me lembrava de nenhuns escoteiros. Caramba! Mais essa! Quero dizer que, como já vinha e venho dizendo, e para uma nova edição, “O Gado de Deus” é passível de reparos, em aspectos estruturais e de alguns excessos, cortes, ligeiros acréscimos e algo mais; rever, por exemplo, a técnica de algumas colagens que deliberei fazer no romance, consoante o espírito do mesmo, de glosa, de ironia (subliminar ou não), paródia e sátira; a tudo rever para melhor, além da malfadada revisão, cochilos meus e também culpa da editora, por razões que mal se explicam.

A confusão, Braz, é porque o escotismo, naquele
tempo, era pouco conhecido em Goiás (fui
escoteiro no Rio de Janeiro).

O bom do bom é que aquela ilustração do caderno, em sua matéria, vem-me como socorro, um reparo a mais que deverei fazer no romance em questão. Não sei se a propósito foi que, à fiel constatação de tratar-se de escoteiros e não de soldados, você colocou lá a ilustração, mas (pelo sim, pelo não) credito-lhe essa, meu amigo. Humildemente me prosto e agradeço com o meu abraço. Uma mão lava a outra, um pé imita o outro, a gente vai se ajudando e vamo-nos levando. Veja você que o destacado escritor Ronaldo Costa Fernandes, no romance “O Morto Solidário”, afirma que a ilustração do rapaz com o bacalhau nas costas é do rótulo do fortificante Biotônico Fontoura, quando na verdade é da Emulsão de Scott (o inesquecível purgante da infância), e daí publiquei, na Bula (revistabula.com), comentário crítico sobre a obra, e alertei para este detalhe. Como eu disse, ou direi agora, uma mão e um mamão. Vice-versa a mesma coisa.
Tradicional rótulo da inesqueível (rsrs) Emulsão de Scott...



* * * 


(*) Valdivino Braz é jornalista e escritor de poesia, contos, crônicas e romances.

3 comentários:

Mara Narciso disse...

Falhas da memória, ou falhas memoráveis? Parte-se de boas ideias, mas se comete erros. E depois de enviados ou publicados os textos fica-se mortifica-do pela falta de atenção, de conferência ou da leitura amiga de um revisor. Muitas vezes é possível sentir vergonha de um erro maior, por mais método que se tenha. Publicar a admissão do erro, junto com elogios de quem entende do assunto é meritório. Humildade admitida, ao lado de troca de elogios indicam empate técnico. Assim vejo a crônica do poeta Valdivino Braz.

Edmar Oliveira disse...

Uai, Aquino, que bom que o Braz gostou. Acho que você já conhecia a música, que fala de um gênio e seu sofrimento. Don Maclean estava divinamente inspirado ao compor Starry starry night, não é mesmo?
Abraço, companheiro.
Edmar

Romildo Guerrante disse...

Pequenos enganos, todos mais que justificáveis. A reprodução da capa do caderno Avante, que é a memória da minha infância no grupo escolar em São Fidélis, valeu o meu dia. Obrigado,Valdivino, a quem não conheço,mas louvo.