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sábado, janeiro 01, 2011

A vez dos bens culturais

A vez dos bens culturais



Era final de maio, ou começo de junho de 2005; publiquei uma crônica com o título “Tempo de templos de cultura”, aqui nas páginas do DM:

Marconi só nos deve um item no leque de benfeitorias culturais: restituir aos artistas e intelectuais do Estado a Secretaria da Cultura, que nos foi tomada de modo truculento, injustificado. Vale anotar: um mês antes da eleição de 1998, num café da manhã com o candidato Marconi Perillo, apenas dois escritores compareceram, demonstrando acreditar no moço pretensioso que afrontava o cacique: Maria do Rosário Cassimiro e eu. Depois de eleito e empossado, ele deu mostras de boa intenção ao nomear Nasr Chaul e, ato contínuo, desencadear uma torrente de fatos e eventos que marcam bem estes seis anos e meio”.

Coincidentemente, na manhã do dia da publicação o governador Marconi Perillo e o presidente da Agência de Cultura Pedro Ludovico, Nasr Chaul, encontraram-se, em audiência, com o ministro da Cultura, Gilberto Gil; e nesse encontro, Gil sugeriu que o órgão gestor da política cultural de Goiás fosse uma secretaria. Ao sair da audiência, por ter lido minha crônica, Chaul telefonou-me, o governador estava disposto a atender ao que propunha o ministro (e que era também o meu pedido).

Mas razões políticas ou de orçamento, ou sabe-se lá de que natureza, impediram a concretização do nosso sonho antigo, frustrado numa canetada infeliz em 1991, com encenação de autoria por parte de um deputado chamado Prestes. Tivemos de engolir a transferência dos trabalhos de gestão de cultura para a pasta da Educação (a professora secretária tinha de autorizar até fotocópias), mascarada com um título pomposo: Fundação Pedro Ludovico. A independência só aconteceu em 1999, com Marconi no governo e Chaul na Funpel, com a elevada colaboração de Fernando Perillo e José Eduardo Morais. A Fundação, quando da reforma administrativa do Estado, transformou-se em Agência, mas no concerto dos órgãos culturais estaduais, há que se explicar, sempre, que em Goiás funcionamos com agência, e não com secretaria. Consta que, integrado à administração direta, o órgão tem mais funcionalidade que uma autarquia – coisas da administração pública.

Aqueles dois governos de Marconi, todos sabemos, marcaram-se por grandes realizações na esfera cultural. Fortaleceram-se o folclore, o cinema, a música e o teatro; na esfera dos livros, criou-se a feira que, na segunda edição, pretendeu-se bienal (fui contra; preferia ver acontecer por umas três ou quatro edições, antes de assim ser chamada; o governo seguinte deu razão aos meus temores, infelizmente).

Marconi deve, aos escritores, um empreendimento que atenda efetivamente o setor. É que a feira do livro é um evento para a confraternização de leitores e escritores, mas uma festa para os fabricantes e comerciantes; não beneficia, propriamente, escritores. A feira traz autores dos grandes centros, privilegiados pela mídia de grande alcance; esses escribas são regiamente remunerados para comparecer (e ainda lhes oferecem títulos de cidadania), enquanto os locais são pagos, quando inseridos nos programas, com cachês de 10% do que se dá aos forasteiros. Estes dados são apenas para ilustrar.

O que queremos é a Secretaria da Cultura de volta; a Agepel poderia, na hipótese da recriação da Secretaria, ser o órgão incumbido de gerenciar o patrimônio físico (histórico e artístico) do Estado, subordinada à Secult e transformada numa Superintendência de Patrimônio Artístico e Cultural, nos moldes do federal IPHAN.


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Luiz de Aquino é escritor, membro da Academia Goiana de Letras.  
E-mail: poetaluizdeaquino@gmail.com

2 comentários:

Heliany Wyrta disse...

Compartilho com suas aspirações, Luiz de Aquino, de ver criada uma Secretaria de Cultura.
Sou Goiana, nasci em Goiânia, tenho 38 anos, sempre estudei em escolas públicas estaduais durante meu ensino fundamental e médio.
E não conheci os artistas goianos nas escolas em que estudei.
Conheci apenas Miguel Jorge em 1986na E.E. José Carlos de ALmeida (e ele nem é goiano), mas foi o mais próximo que cheguei de um escritor "goiano" nos meus tempos de colégio.
Considero um absurdo essa prática!
Temos excelentes escritores, totalmente desconhecidos, totalmente fora do mundo educacional goiano!
Precisamos urgentemente ensinar nossas crianças e jovens a conhecer nossas riquezas culturais,
e os livros, para mim, é o melhor meio para isso!
Um livro fala de tudo e possibilita re-visitas infindáveis, e em cada re-leitura aprendemos um pouco mais!
Apaixonei-me pela antiga cidade Meia-Ponte (Pirenópolis) através das suas crônicas.
Quantas crianças, adolescentes e jovens não poderiam se apaixonar pelo que é nosso, se tivessem a oportunidade de conhecer nossa história através dos nossos brilhantes escritores?
Sou professora em escola municipal e não há nelas nenhuma estante dedicada aos escritores goianos, nem sei se existem exemplares de Bernardo Élis, José J. Veiga, Gilberto Mendonça Teles, Luiz de Aquino, entre outros, nas salas de leitura dessas escolas. (Visto que não temos bibliotecas nem bibliotecários nas escolas municipais! Um absurdo, né! Poís é! Vai entender!...)
Fui professora na rede estadual de 1993 a 1998, e também não vi nenhuma obra desses escritores nas escolas estaduais.
Penso que já é passado o tempo de termos uma Secretaria de Cultura, com pessoas que sintam na pele todos os problemas inerentes, que tenham coragem, indignação e determinação para fazer o que precisa e pode ser feito!
Não poderemos falar em formação integral do ser humano, se este não tiver a oportunidade de desenvolver-se plenamente, tendo acesso à educação, ao esporte, à cultura e ao lazer.
Há muito a ser feito!
Discutir sobre isso é o primeiro passo! Acredito que você, Luiz, não fugirá ao debate nem às ações necessárias!

Mara Narciso disse...

Os livros, especialmente os locais vão ficando sempre em último lugar. Então nos perguntam qual deverá ser a prioridade do Governo Dilma. Respondo sem pestanejar: educação. Imagino que quem seja educado acaba invariavelmemte tendo também saúde e quem não tem educação acaba sendo nada, nem ninguém. Espero que sejam atendidos quanto a Secretaria da Cultura.