O Guia de Meia-Ponte repete o da antiga capital, Vila Boa. |
Primeiro, o da Cidade de Goiás, antiga capital, histórica, saudosa e sempre amada Vila Boa de Goiás; agora, o de Pirenópolis, a outrora Meia-Ponte que o modernismo de 1890 preferiu trocar por Pirenópolis. Até o momento, meu amigo Elder Rocha Lima produziu dois livros com nomes tão aparentados quanto o são as duas cidades, berços da colonização, da política e das práticas culturais de Goiás: Guia Afetivo da Cidade de Goiás (publicado pelo IPHAN, 14a. Superintendência Regional, em 2008) e Guia Sentimental da Cidade de Pirenópolis (datado de 2010, mas lançado no dia 25 de fevereiro de 2011, no histórico cinema).
As mesmas medidas, o mesmo número de páginas em ambos. |
Há, desde séculos atrás, uma rivalidade política e cultural entre as duas cidades, ainda que sejam, ambas, povoadas pelas mesmas famílias. Ciúme bairrista, sem agressão prejudicial, mas com a disputa acirrada por privilégios e destaques. Se Pirenópolis tem as Cavalhadas na Festa do Divino Espírito Santo, a Cidade de Goiás tem a Procissão do Fogaréu; uma foi capital da Província e do Estado, a outra orgulha-se de ter (sem vencer a rival) belíssimo elenco de artistas de várias áreas e políticos notáveis.
Procissão do Fogaréu, em Goiás, e... |
,,,Cavalhadas, em Pirenópolis |
Rivalizam-se também pela culinária, pelo artesanato e pelo gosto incontestável pelas boas coisas da vida, desde a cumplicidade com os recursos naturais até as impagáveis e amorosas serenatas em que o forte sempre foi, em cada uma delas, as canções compostas por seus nativos. Uma tem a Serra Dourada, a outra, os Picos Pireneus; de uma é o Rio Vermelho, da outra o Rio das Almas. Cora Coralina reinou em uma; Santa Dica na outra. E assim seguem os afagos aos próprios egos.
Por isso e, como contou em seu discurso no ato de lançamento da obra, fugindo de possíveis reprimendas dos de Vila Boa, o Guia Sentimental tem o mesmo tamanho do Guia Afetivo: 144 páginas. A diagramação é do mesmo feitio (e da mesma artista gráfica, Genilda Alexandria). Com isso, desfaz-se do esperado ciúme. Ou espera que sim.
Na contracapa, textos de muita semelhança, ele explica Pirenópolis, como antes explicou a Cidade de Goiás:
“Para construir esta Meia-Ponte não foram convocados artistas, arquitetos, urbanistas e outras figuras importantes (e, às vezes, arrogantes), para planejar, desenhar e definir esses espaço construídos. Ao contrário, foi o povo que fez a cidade sem planejadores e sem máquinas e com poucos instrumentos. Foi feita à mão por pretos, mulatos, caboclos, brancos, travestidos de mestres-de-obras, pedreiros, carapinas, entalhadores, ferreiros, pintores, e tantos outros necessários para levantar as nossas moradas, nos abrigar das intempéries, criar meios de preparar nossa comida, propiciar nosso repouso, acolher nossa vivência amorosa e criar nossos filhos”.
De Elder Rocha Lima, já se falou: é o que se pode chamar de artista completo. Vila-boense pelo nascimento; meia-pontense por origens; goiano pela plena identidade; cidadão do mundo porque seu coração recusa-se a ser uma pedra à beira do rio. Arquiteto, poeta, professor, desenhista (de arte), aquarelista... ainda não o vi no exercício da música, em canto ou instrumento; mas não duvidarei de encontrar um virtuose.
E gosto de registrar que, na festa desse livro, brilharam também a superintendente regional do IPHAN, Salma Saddi, incansável na preservação e na valorização do patrimônio histórico e artístico, mas com o talento de “farejar” qualidade – daí a ocorrência, sob os auspícios de sua repartição, de tantos feitos. E marcar, também a presença alegre e feliz do artista Pérsio Forzani. Este, sozinho, consegue fazer vibrar a alma poética de Pirenópolis.
Estou certo de que Salma e Pérsio, como Elder, são também guiados pelo coração.
* * *
Eu com Pérsio Forzani e Elder Rocha Lima; na parede, aquarelas de Elder (na festa de lançamento do Guia Sentimental). |
9 comentários:
Poeta:
Você é muito generoso. Se pessoas como você continuarem me tratando com tanta benevolência,
acho que vou ficar metido a besta.
Com relação ao seu desfio de compor peças musicais, não se surpreenda se isso acontecer. Letras
para serem musicadas já andei ensaiando.
Me comoveu particularmente o final de sua crônica. Tenho dito aos familiares que meu desejo é ser
enterrado de cabeça para baixo, de tal maneira que meu coração fique acima de meu cérebro.
Você, poeta Luiz Aquino, é meu amigo de infância, de mijar juntos, que conhecí recentemente.
Saudações meia-pontenses do
Elder
Elder,
Se eu tivesse competência para tanto, cuidaria de produzir a sua biografia em livro.
Peraí, eu não exagero, e vou lhe contar como isso começou: era fevereiro ou março de 1965 (no dia 22 de fevereiro, comecei a trabalhar no BEG) e, enquanto esperava o elevador, vi você observando detalhes do prédio aqui e ali, como quem busca defeitos ou procura corrigi-los. Perguntei a um colega mais velho e ele me ensinou - "É o arquiteto do nosso prédio". O edifício fora inaugurado a 18 de maio do ano anterior, com presenças de Pedro Ludovico, Mauro Borges e Iris Rezende Machado, certamente de Hélio de Brito e outros igualmente notáveis. Como se lembra, a cidade era ainda pequena, cerca de 250 mil habitantes, uma obra como aquela era algo de realce e o evento da inauguração deve ter significado, para a jovem capital goiana, como a ponte Rio-Niterói nos anos de coturnos altos.
Meu colega declinou seu nome; e naquele instante eu senti que deveria sempre recitá-lo inteiro - Elder Rocha Lima. Uma bonita sonoridade, uma rendilha menor. Acho que senti inveja do seu nome: caldas-novense de nascença, carioca de criação e com um orgulho enorme de ser goiano, o jovem bancário trazia a memória ocupada, quase toda, de informações escolares - talvez 70% de tudo o que eu pensava saber; e uma dessas coisas era a recomendação de professores de Português - "Consulte a gramática Rocha Lima".
Desde entao, passei a segui-lo, na medida do possível para, há menos de dois anos, ou 45 anos depois de vê-lo pela vez primeira, curtir o prazer de sua presença.
E tinha de ser Pirenópolis - mas igual seria em Vila Boa, as eternas rivais goianas, feito irmãs, ciumentas, mas ligadas por amor eterno - o cenário do nosso encontro.
Resumindo, Elder, quero dizer-lhe que esse pedaço de muro que é a minha crônica no jornal limita-me muito, em algumas ocasiões. Eu tenho sempre um pouco mais a lhe dizer porque fica muito fácil falar e escrever sob o êmulo da admiração emocionada.
Meu abraço afetivo, querido amigo de mijada na infância!
Luiz de Aquino
Guias de coração poeta (creio que é esse o título) corre pelos nossos
sentidos, pelo coração e pelas lembranças (agora, organizadas pelo
querido Luiz) e nos deixa amorosamente gratos a tanta coisa boa de nossa terra,
cantada por ilustres conterrâneos.
Bjs.
Maria Helena
Sempre haverei de reverenciar inteligências além do gráfico. É preciso ainda homenageá-las, para que sirvam de referência aos mais jovens. Estudo e trabalho precisam ser permanentes, mesmo para estes seres aquinhoados com neurônios mais eficazes.
Poeta Aquino,
Sua estrada asfaltada de conhecimento e frequentada por figuras ímpares nos dá a alegria e o orgulho de compartilhar de sua amizade.
Saudade do amigo e da "minha querida" Goiânia
Luiz Delfino
Simplesmente belo!
Amei...
Olá, meu querido Luiz, Luz, obrigada pelos votos de meu aniversário. Fiquei feliz. Minha casa está passando por uma pequena maquilagem, (pintura) e alguns remendos, pois as residências, como nós mesmos, necessitam, de quando em quando, uma renovação. Assim que as obras terminarem, o que acho irá demorar um pouco, pois o Antonio briga constantemente com os pedreiros e pintores, e já estamos na terceira leva deles, farei uma almoção para comemorar, não tanto o término da arrumação, mas o fim dos desentendimentos com a turma da cal, da colher e das tintas, e você é convidado de honra.
Obrigada também pela aula de História sobre Pirenópolis e Vila Boa. Valeu. Por este motivo o rebatizei de Luz. É verdade.
Abração e bjs.
Helena Sebba.
Luiz, esta sua crônica é de disparar o coração da gente. Pirenópolis é uma cidade que nunca deixa de mostrar novos valores, e esse Elder Rocha Lima é uma pérola rara, tem o dom de emanar poesia das imagens que retrata.
Elder Meu amigo.
A crônica do Luiz de Aquino desta semana “Guia de coração poeta’ é o reconhecimento da importância dos seus trabalhos sobre a Cidade de Goiás e Pirenópolis. E olha que a pena e a língua ferina desse cronista não costumam perdoar nem poupar os aventureiros das artes em Goiás.
Parabéns pelo seu sucesso, ou melhor, pelo seu êxito e mais uma vez lamento não estar presente para levar meu abraço amigo.
Amaury
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