Vai longe, no tempo e na minha memória, a frase
“Carnaval era bom mesmo antigamente” (e suas variações). E lá pelo meio desse
tempo, quando eu atravessava a minha década de 40, descobri que o “tempo bom”
era apenas o da memória de cada um. Hoje, tenho provas e convicções de que
acertei: as marchinhas que me encantaram lá pelos anos 50 e 60 são citadas,
hoje, como coisas daquele tempo bom. E divirto-me recordando o som das falas
dos mais velhos, remetendo-se cada qual à sua própria mocidade.
“Se você fosse sincera, ô ô ô ô... Aurora” / “Tem,
tem, tem um amor em cada porto” / “Menina vai! Com jeito, vai! Senão um dia, a
casa cai”. “Alalaô ô ô ô, ô ôô...” Tempo bom era aquele! Sempre o que se passou
dez, vinte ou muito mais anos atrás!
E no próximo sábado, nas ruas de Nazário – sim,
Nazário, Goiás! Pertinho de Goiânia – um grupo de mais ou menos 125 vovós e
similares, gente da própria cidade e de Claudinápolis, desfilarão, no começo da
tarde, cantarolando marchinhas daqueles tempos bons – e aposto que os tais
tempos bons serão retratados sonoramente por canções bem cadenciadas dos
carnavais das décadas de 30, 40, 50 e até 80 do Século em que nascemos!
Mas não estarão sozinhas: elas têm o apoio de uma
equipe muito dinâmica e dedicada, liderada pela primeira dama Dinair Souza
Lemos (Luciene França, Adriane Novais Mendes, Gláucia Aguiar, Maria Luiza de
Carvalho, Elenice Socorro, Flávia Bueno...
Tudo começa quando essas senhoras juntaram-se em torno
de projetos de artesanato, de convivência e de atividades variadas que lhes
proporcionam bem-estar e sociabilidade. Elas se reúnem nas sessões do projeto
Colcha de Retalhos, nas de caminhada e, uma vez por mês, nos bailes promovidos
especialmente para esse grupo. Nas últimas semanas, as atenções voltaram-se
para a concepção de figurinos de fantasias, escolha de marchas e outras
motivações típicas do carnaval. Em síntese, o desfile promete: o grupo vai se
dividir em alas – Colombinas, Melindrosas, Odaliscas, Carmem Miranda...
Mas apenas reunir-se para recordar é muito pouco,
ainda, por isso as vovós de Claudinápolis e Nazário envolveram também seus
netos nessa festa – do que, presumo eu, há de resultar o envolvimento das
famílias e da sociedade locais.
Converso com a primeira-dama Dinair, tento sacar mais informações,
mas ela se recha num sorriso radiante e feliz, fazendo suspense. E apenas
sintetiza: “Sim, haverá surpresas... Mas deixemos que tudo isso fique dentre
desse objetivo, o da surpresa”.
Respeito-lhe o capricho e já me preparo. Hei de estar
também por lá para testemunhar essa movimentação saudável que deve ser
observada, avaliada e adotada por todas as nossas comunidades. A população
envelhece, mas não quer se entristecer. Os netos são sempre um aceno de Deus a
nos lembrar que a vida continua e havemos sempre de zelar para viver com
intensidade todo o tempo de nossas vidas.
Afinal, quando menos esperamos já nos tornamos pais e
mães, e num descuido mais profundo, nossos filhos se tornar-se-ão avós também!
* * *
Luiz de Aquino é escritor e jornalista, membro da Academia
Goiana de Letras.
2 comentários:
Com certeza há de ser um carnaval para que geração nenhuma se esqueça!
Que lindo Poeta! O carnaval destas senhoras com certeza vai servir de ponto de partida para que outras vovós venham a seguir este exemplo. Parabéns a você que sempre tem a informação oportuna! Se eu fosse por lá iria me fantasiar de Fada!
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