A Hora dos Ruminantes, de José J. Veiga, editado pela Confraria dos Bibliófilos do Brasil e apresentado por Alaor Barbosa. |
Alaor,
confrade cordial
Num sodalício de
40 membros, nem sempre é fácil o convívio harmonioso, mormente por se tratar de
uma pequena comunidade de mentes criativas (ou criadoras). Refiro-me às
academias literárias, essa invenção platônica que, modificada pelos conceitos
renascentistas, ganhou gosto entre os franceses também, e do modelo instituído
pelo Cardeal Richelieu (em 1635), copiamos para o congraçamento dos escritores
nacionais no último decênio do século XIX.
Em Goiás, criou-se
em 1939 a Academia Goiana de Letras. E decorreram-se umas poucas décadas para
que a nossa Academia se completasse nas quarenta cadeiras exemplares. Seguindo,
pois, a Academia Brasileira de Letras, as vagas entre nós só acontecem por
morte de um dos membros e são preenchidas em escrutínio secreto, usando os
chapéus de Zoroastro Artiaga e de Altamiro Pacheco como urnas.
Devaneios à parte,
falo dos pequenos óbices à harmonia geral num colegiado assim. E vozes dirão de
surpresas, e os maledicentes (que os há em qualquer sociedade, por menor que
seja) dirão que mostro roupa suja; mas, não: mesmo numa família mínima, de três
pessoas, momentos há de conflitos de ideias e esses conflitos não implicam
ruptura, mas resultam sempre em aprimoramento das relações. E é este sempre o
meu princípio de convívio.
Há, contudo,
relações prazerosas mesmo em contatos que não significam, rigorosamente,
amizades antigas. Refiro-me especificamente a dois acadêmicos, não por acaso
irmãos, nem por acaso acadêmicos, posto que em ambos sobejam talento e
competência nas lides das letras – Eurico e Alaor Barbosa. Alaor é irmão mais
novo, mas acadêmico mais antigo. Ambos trilharam os passos do jornalismo, ambos
se fizeram notáveis por suas obras em livros e no ofício da advocacia, Eurico
se fez político e conselheiro do Tribunal de Contas, Alaor obteve, em concurso,
destacada função no Congresso Nacional.
Há quase vinte
anos, recém empossado membro efetivo da Academia, atrevi-me a sugerir Alaor
Barbosa para presidente – errei de irmão, pois Eurico se fez presidente duas
vezes, a segunda delas por ascensão estatutária. Mas dedico a ambos grande
admiração não apenas por suas obras, mas pelo perfil de cada um, de impecáveis
cavalheiros no trato cordial e no amor com que se dedicam a suas causas.
Eurico Barbosa |
A ambos sou
devedor de tal tratamento e de cada um recebi, em ocasiões diversas, mimos
especiais – Eurico presenteou-me com o volumoso e riquíssimo “Duelo no
serpentário – Antologia da Polêmica Intelectual no Brasil – 1850-1950”. O
gesto, disse-me ele, vinha de uma certa admiração pelo tom das minhas crônicas.
Não bastasse isso, ele propôs e o Rotary Clube, do qual é membro ativo,
honrou-me com belíssimo diploma de mérito.
Alaor Barbsa |
Alaor, que divide
sua vida entre Brasília e Goiânia, com incontáveis hiatos para viagens várias,
honrou-me com belíssimo exemplar, em edição mimosa em que assina a apresentação
com um nostálgico e primoroso texto. A edição é da Confraria dos Bibliófilos do
Brasil e se atreve ao luxo de vir ilustrada por outro goiano notável – Amaury
Menezes. A obra literária é o admirável e muito traduzido livro “A hora dos
ruminantes”, do nosso inesquecível José J. Veiga, cujo centenário, por
motivação minha, foi festejado no ano passado.
Se a emoção já me
embaçava a vista, quase ceguei-me com as lágrimas ao ler:
Ao escritor e poeta
Luiz de Aquino, um constante defensor da memória de José. J. Veiga, oferece o
Alaor Barbosa.
Balbuciei,
sozinho: “Obrigado, Alaor!”.
*****
Luiz de
Aquino é membro da Academia Goiana de Letras.
4 comentários:
Que a sua linguagem simples, clara e elegante sirva de modelo aos pobres e incompreensíveis vaidosos. Felizes os dignos das suas homenagens!
Li, e gostei. Abraço do Gilberto
Gostei demais. Generosa e bem escrita. Presente de aniversário, recebido as 6 da manhã. Abraço . Alaor
Oi, Luiz!
Fui ao seu blog, li e gostei demais da homenagem aos irmãos Eurico (por quem nutro um carinho especial, afeto profundo e admiração dimensional) e Alaor (a quem admiro bastante e dedico um gostar grande). Um belo texto, pontilhado de emoção, reconhecimento justo e boa literatura. Parabéns! Beijão. Lêda
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