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sábado, março 12, 2016

Alaor, confrade cordial

A Hora dos Ruminantes, de José J. Veiga, editado pela Confraria dos Bibliófilos do Brasil e apresentado por Alaor Barbosa.




Alaor, confrade cordial



Num sodalício de 40 membros, nem sempre é fácil o convívio harmonioso, mormente por se tratar de uma pequena comunidade de mentes criativas (ou criadoras). Refiro-me às academias literárias, essa invenção platônica que, modificada pelos conceitos renascentistas, ganhou gosto entre os franceses também, e do modelo instituído pelo Cardeal Richelieu (em 1635), copiamos para o congraçamento dos escritores nacionais no último decênio do século XIX.


Em Goiás, criou-se em 1939 a Academia Goiana de Letras. E decorreram-se umas poucas décadas para que a nossa Academia se completasse nas quarenta cadeiras exemplares. Seguindo, pois, a Academia Brasileira de Letras, as vagas entre nós só acontecem por morte de um dos membros e são preenchidas em escrutínio secreto, usando os chapéus de Zoroastro Artiaga e de Altamiro Pacheco como urnas.


Devaneios à parte, falo dos pequenos óbices à harmonia geral num colegiado assim. E vozes dirão de surpresas, e os maledicentes (que os há em qualquer sociedade, por menor que seja) dirão que mostro roupa suja; mas, não: mesmo numa família mínima, de três pessoas, momentos há de conflitos de ideias e esses conflitos não implicam ruptura, mas resultam sempre em aprimoramento das relações. E é este sempre o meu princípio de convívio.





Há, contudo, relações prazerosas mesmo em contatos que não significam, rigorosamente, amizades antigas. Refiro-me especificamente a dois acadêmicos, não por acaso irmãos, nem por acaso acadêmicos, posto que em ambos sobejam talento e competência nas lides das letras – Eurico e Alaor Barbosa. Alaor é irmão mais novo, mas acadêmico mais antigo. Ambos trilharam os passos do jornalismo, ambos se fizeram notáveis por suas obras em livros e no ofício da advocacia, Eurico se fez político e conselheiro do Tribunal de Contas, Alaor obteve, em concurso, destacada função no Congresso Nacional.


Há quase vinte anos, recém empossado membro efetivo da Academia, atrevi-me a sugerir Alaor Barbosa para presidente – errei de irmão, pois Eurico se fez presidente duas vezes, a segunda delas por ascensão estatutária. Mas dedico a ambos grande admiração não apenas por suas obras, mas pelo perfil de cada um, de impecáveis cavalheiros no trato cordial e no amor com que se dedicam a suas causas.

Eurico Barbosa

A ambos sou devedor de tal tratamento e de cada um recebi, em ocasiões diversas, mimos especiais – Eurico presenteou-me com o volumoso e riquíssimo “Duelo no serpentário – Antologia da Polêmica Intelectual no Brasil – 1850-1950”. O gesto, disse-me ele, vinha de uma certa admiração pelo tom das minhas crônicas. Não bastasse isso, ele propôs e o Rotary Clube, do qual é membro ativo, honrou-me com belíssimo diploma de mérito. 


Alaor Barbsa


Alaor, que divide sua vida entre Brasília e Goiânia, com incontáveis hiatos para viagens várias, honrou-me com belíssimo exemplar, em edição mimosa em que assina a apresentação com um nostálgico e primoroso texto. A edição é da Confraria dos Bibliófilos do Brasil e se atreve ao luxo de vir ilustrada por outro goiano notável – Amaury Menezes. A obra literária é o admirável e muito traduzido livro “A hora dos ruminantes”, do nosso inesquecível José J. Veiga, cujo centenário, por motivação minha, foi festejado no ano passado.




Se a emoção já me embaçava a vista, quase ceguei-me com as lágrimas ao ler:


Ao escritor e poeta Luiz de Aquino, um constante defensor da memória de José. J. Veiga, oferece o Alaor Barbosa.


Balbuciei, sozinho: “Obrigado, Alaor!”.



*****



Luiz de Aquino é membro da Academia Goiana de Letras.

4 comentários:

Sueli Soares disse...

Que a sua linguagem simples, clara e elegante sirva de modelo aos pobres e incompreensíveis vaidosos. Felizes os dignos das suas homenagens!

Gilberto Mendonça Teles disse...

Li, e gostei. Abraço do Gilberto

Alaor Barbosa disse...

Gostei demais. Generosa e bem escrita. Presente de aniversário, recebido as 6 da manhã. Abraço . Alaor

Leda Selma, presidente da Academia Goiana de Letras disse...

Oi, Luiz!

Fui ao seu blog, li e gostei demais da homenagem aos irmãos Eurico (por quem nutro um carinho especial, afeto profundo e admiração dimensional) e Alaor (a quem admiro bastante e dedico um gostar grande). Um belo texto, pontilhado de emoção, reconhecimento justo e boa literatura. Parabéns! Beijão. Lêda