Os
fogos do Ano-Novo, desde o extremo oriente, passam por este aprazível Planalto
Central Brasileiro e continuam até o Meridiano Internacional de Datas. São sons
ariáveis e luzes cintilantes de todo o arco-íris, sinais de fomento à
autoestima e da fé no próximo. Ah, que bom se fossem repetidos algumas vezes
nos próximos meses!
Neste
Planalto de Goiás e adjacências, berço das águas e de uma diversidade biológica
das mais ricas, onde se ergueu e se manteve por milênios o Cerrado, plantou-se
Brasília para a Integração Nacional. Mas com as benesses vieram os vícios. A
moralidade proposta pelo regime de exceção, mantido por militares patriotas e
que agraciou uma nata civil inimiga da sofrida Nação Brasileira... essa
moralidade esvaiu-se no ralo da longevidade do regime, contaminou-se das
facilidades das grandes empreiteiras para desaguar, três décadas após o retorno
dos civis ao poder, no mar de indecências que marca fortemente as
retrospectivas de 2017.
Lamento
muito a omissão sobre os feitos de boa qualidade. A ciência biológica, a
medicina e a tecnologia eletrônica, as inovações nas práticas e a engenharia,
as realizações artísticas e um sem-número de grandes feitos permanecem no
silêncio do anonimato. É triste!
Em
Goiás, ficamos distantes, em boa dose, das mazelas que maculam a vida nacional
em grandes centros, como o Rio de Janeiro, o Rio Grande do Sul, Minas Geral e
outras unidades da Federação (nem o novo estado apelidado, ainda, de Distrito
Federal, escapa). Não escapamos da crise, vivemos a escassez de contingentes
nas polícias, não conseguimos – sem a participação da União e dos Estados
igualmente envolvidos – combater o tráfico.
A
longa lista de malfeitos deste ano remete-me ao dia 20 de setembro de 1990,
quando a insanidade na cúpula brasiliense ordenou o fechamento abrupto e
estúpido da Caixa Econômica do Estado de Goiás, a Caixego. Mais de três mil
servidores foram lançados no campo estéril do desemprego, e vários eram os
casais (e mesmo casos de pais e filhos) que, sem o direito sequer de sacar seus
salários – era dia de pagamento – viram-se desnudos de sua dignidade
individual, de seu ganha-pão, do respeito que se angaria na sociedade quando se
exerce com lisura e afinco sua obrigação profissional.
Como
uma ilha entre os feitos desagradáveis, destaco eu um feito e uma figura: o
resgate do respeito e da dignidade de quase dois mil trabalhadores, vítimas
daquela falseta “collorida” praticada a pedido não se sabe ao certo de quem –
só se sabe que o propósito era agredir o governador Henrique Santillo, cujo
grande erro era a sua autonomia, já que não se curvou ante o rigor da ditadura
e certamente não aceitava cabrestos políticos.
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Alencar, o guerreiro. |
Agora,
a figura: Antônio Alencar Filho, o popular “Alencar da Caixego”. Ele foi
diretor administrativo e de RH, eleito pelos colegas e nomeado por Santillo.
Insatisfeito com o fechamento do banco e mais ainda com a pecha que se
atribuiu, negativa, à massa trabalhadora da Casa, empenhou-se fortemente,
nestes 27 anos, por resgatar a citada dignidade de seus pares e sua volta ao
meio operacional.
Nesse
propósito, e após dois períodos de indiferença dos maiores mandatários por oito
anos, Alencar encontrou eco no perfil político-administrativo do governador
Marconi Perillo. O resultado, citei-o nas linhas acima. E o efeito, neste
momento, é o realce que vejo e reconheço na luta incansável desse guerreiro do
bem, o colega Alencar.
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Marconi Perillo entre os funcionários resgatados da Caixego. Mão de obra qualificada na gestão pública de Goiás. |
A
ele e ao governador Marconi, o meu preito de reconhecimento. Acredito que a
vida se marca de grandes atos, não apenas de longas estradas e gigantescas
usinas. Hoje, são mais de três mil famílias beneficiadas ante a justa aceitação
pública de seus entes maculados negativamente naquele 20 de setembro, há 27
anos. Destes, o Estado aproveita a experiência e a competência de 1.800.
E a
História os terá, Marconi e Alencar, como heróis de uma causa elevada.
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Luiz de
Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.