Epígrafe do livro Isso de Nós (1990):
* * *
Poeta Luiz de Aquino
Epígrafe do livro Isso de Nós (1990):
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Poeta Luiz de Aquino
Falar do tempo
Falar do tempo,
das flores e dos ventos.
Das cores da chita, das rugas
em tecidos anarrugas,
dos pelos nas peles
de mamíferos exóticos.
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Ilustr.: Roos |
Falaram-me coisas
também que não cabem
nos poucos conceitos
que me foram ditos, como
a textura do pomo
do pecado que mora ao lado,
a inconveniente semente
da coisa incoesa
do amor, essa incerteza.
Futebol, desemprego, ruas
e becos, política e preços
nas estantes, folhas
de livros e arbustos,
a vida dos outros, a vida
que não nos é dada
e por isso é mistério...
Conversa de bar.
Falas vazias para evitar falar
de amor e carência.
* * *
Poeta Luiz de Aquino, da Academia Goiana de Letras.
Cancioneiro
A letra A não tem meu nome,
Raul. Sou de virgem
Penso sons, faço imagens.
É que me valho de imagens alheias
forjadas no pó
do passado fenício.
A letra, Chico, eu tiro de gol:
só sei chutar quando escrevo.
Ou falo.
Falo... Falo? Ou cérebro.
Dizem de mim
que não penso: “Mente”.
(Conservatória, RJ, 28/04/07)
* * *
Luiz de Aquino, poeta. Da Academia Goiana de Letras.
Inconsciente
Olha,
fugir desta chuva
é buscar incertezas.
Fugir deste olhar
que criei pra você
é perder-se demais.
Momentos nossos,
surgidos do íntimo de nós dois
são pedras estranhas
em meio ao cascalho
quase inútil.
Existir outro alguém
é mero acidente.
Meus braços, cheios de abraços,
estavam aqui, sob a chuva e o sol
e a frieza dos dias só se quebrava
ao calor de meus olhos
à busca dos seus.
Agora,
quando você se perder
entre outros braços, quando
o sumo de um falo estranho
espumar em seus lábios,
cuidado!
Pode ser que aconteça
de meu nome surgir
num esgar de orgasmo,
gerando conflitos
desagradáveis
Poeta
Se eu tiver,
minha amiga,
que dizer num momento
a essência de tudo o que vi
e vivi
nos dias todos da angustiante existência,
pode ser que engane
ao definir problemas
ditos existenciais.
— De
repente,
existo entre tantos
escolhidos pela sorte
para serem felizes.
Eu, com
as limitações todas
da vida humilde,
tive de ser um dentre muitos
a sobreviver.
Talvez
seja isso
o mistério indizível
de me tornar poeta
menor
pra cantar madrugadas
sem colunas
sociais.
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Ilustração: Dinéia Dutra, 1984 |
O amor, bolas!
Olhem só a ostentação! Por nímia gentileza do saudoso poeta e artista plástico francês M. Yvan Avenas, meu poema Eu te amo ficou assim:
Moi je t'aime
Moi je t'aime
de la façon innocente
de celui qui se sent poupée de chiffon
quand je te caresse
quand je te berce
pour faire dormir les petits mensonges.
Moi je t' aime de rêves
et d' espoir, je r aime éveillé
et orné de ta présence
dans les heures tristes,
pour qu' elles soient moins tristes.
J' aime ta voix et tes yeux
et tes mains amies,
et celles fraternelles que je refuse,
d' amoureuse tendresse,
d' affection et de passion.
Je t’aime distante
dans l' image-désir
d'être toujours proche.
Je t' aime en comptant les jours,
les jours qui manquent
pour que tu sois réelle : en couleurs,
en touches et en odeurs.
Moi je t' aime trop,
moi je t'aime beaucoup.
Et encore plus.