Quando amo
É meu este defeito
de me dar inteiro. Quando amo,
digo tudo (o que me passa)
ao ouvido da Amada: digo em forma
de poesia minha dor, minha alegria,
fatos simples e banais,
feito a pura fantasia
das crianças, dos quintais.
Penso nela (quando amo) o dia inteiro,
vejo flores e vitrinas, lingeries,
absorventes, analgésicos,
cosméticos. Lembro dela o tempo todo,
sonho estrelas e carinhos, mãos roçantes,
beijos longos, pés ingênuos se tocando.
Quando amo dou-me tanto
que espanto a minha Amada.
O texto acima é uma decorrência de um belíssimo poema da saudosa Yêda Schmaltz, que transcrevo a seguir:
Yêda, que
virou estrela
CAVALO DE PAU
Quando amo, sou assim:
dou de tudo para o amado
- a minha agulha de ouro,
meu alfinete de sonho
e a minha estrela de prata.
Quando amo crio mitos,
dou para o amado os meus olhos,
meus vestidos mais bonitos,
meus livros mais esquisitos,
meus poemas desmanchados.
Vou me despindo de tudo:
meus crosmos, meu travesseiro
e meu móbile de chaves.
Tudo de mim voa longe
e tudo se muda em ave.
Nos braços do meu amado,
os mitos se acumulando:
um pandeiro de cigana
com mil fitas coloridas;
de cabelo envoaçando,
a Vênus que nasceu loura.
(E lá vou eu navegando.)
Nos braços do meu amado,
os mitos se acumulando,
enchendo-se os braços curtos
e o amado vai se inflando.
- O que mais lamento
e o que mais me espanto:
o amado vai se inflando
não dos mitos, mas de vento
até que o elo arrebenta
e o pobre do amado estoura.
(Nenhum amado me aguenta.)
(Do livro ALQUIMIA DOS NÓS - Yêda Schmaltz)
7 comentários:
O simples fato de amar assim já é a própria poesia.
Lindos os dois poemas.
Beijo,
Bella
Ser amado demais assusta???
Beijo,
Bia/Neca
Ficou tão linda essa poesia,
Sabe que até me emocionei.
Realmente quem sabe, faz na hora,
não espera inspiração, faz sem demora.
"QUANDO AMO", desperta na mulher que sabe o que quer, que hoje em dia o amor não diz adeus tão fácil...
Se começou ou se terminou!
Êle dá a certeza da realidade presente...hoje...agora, grande e infinito.
Muito bonita! Me apaixonei.
-urcilina-
Yêda Schmalts inspiradíssima, ousou brincar de forma criativa e inusitada com o amor, fazendo graça com o próprio exagero que o amor lhe trouxe quando a acometeu. E maior brincadeira se fez quando você Luiz recriou sobre esse folguedo, tal qual uma colagem bem-humorada. Aconteceu uma complementaridade bem sucedida, além da homenagem muito bem posta. Gostei!
Mara Narciso
Yêda Schmaltz em "Quando Eu Amo" ousou brincar ironizando o exagero do amor que a acometeu. A brincadeira ficou mais gostosa quando você Luiz, com muito bom-humor, recriou em cima da ironia dela, valorizando-a em sua criatividade e homenageando-a. Aconteceu uma complementaridade entre as partes, que me encantou. Gostei!
Mara Narciso
Os poetas quando amam são iguais e enefeitam suas horas com as fantasias do ser amado.
Os homens e mulheres quando amam são tão iguais, vivem as minúcias do amado, da amada, entregam tudo que têm e ainda inventam o que não têm para entregar.
E são tão diferentes. Um imaginando presentes, outros inventando futuros; um refazendo o dia, outro criando o tempo.
São sempre apaixonados, quando amam.
Os poemas dos dois seres tomados pela poesia inventam tanta beleza, tanta!
Luiz! O teu "Quando Amo" e o "Cavalo de Pau", da Yêda são poemas que só posso dizer: INCRÍVEIS! Volto a insistir: ser muito amado, assusta? Beijão, cheio de saudade! Bia/Neca
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