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domingo, novembro 30, 2008

Quixote de botequim







Quixote de botequim



Muito já se falou (e se escreveu) sobre o peso das palavras. Principalmente sobre as palavras escritas, porque entendemos de conceituar como documento a palavra escrita, seguida da assinatura de quem escreveu, dando ao texto no papel o valor das idéias. Bonito, isso. Mas há muita coisa também, escrita e falada, a respeito da palavra apenas falada; é aquilo que nossos pais e avós diziam a propósito de honra. Nesse particular, cometia-se uma injustiça para com as mulheres e os infantes, por serem imberbes, pois a honra era associada à barba (para a mulher, e segundo aqueles velhos conceitos, a honra não estava nos pelos do rosto, mas... ah!, é melhor não entrar em detalhes; basta dizer que era mais um conceito injusto).

Daquele tempo, ficou-nos um valor. É certo que este é o tempo de se derrubarem valores morais, mas ainda são muitos os que os defendem. E é possível preservá-los mesmo sem as pinceladas machistas das décadas idas. A honra de quem faz uso das palavras não é mais, portanto, algo que se atrele à barba. Inúmeras são as mulheres que superam o universo dos homens no tocante à dignidade que se preserva. Quanto aos jovens imberbes, podemos dizer o mesmo, até porque nada é tão valioso quanto aquela frase que já vai se tornando um provérbio: “Canalha também envelhece”.

Nós, os do ofício da escrita, somos os mais visados quanto à coerência, ou melhor, quanto a valores morais. Não é de boa referência estamparmos uma imagem na escrita e não corresponder a ela nas nossas ações e palavras faladas. Dia destes, li num importante jornal local uma crônica que me deixou estarrecido: o autor tecia loas exageradas (como é de seu feitio; nisso, ele é coerente) a uma pessoa sobre a qual, há bem poucos anos, me disse exatamente o contrário. E tenho testemunhas. Na peça, em gênero de crônica, exaltava os feitos da pessoa que escolheu homenagear exatamente em obra por ele antes questionada.
Poderia dizer aqui: não entendi. Só que eu entendi, sim. O autor é dado a homenagens dessa natureza quando o alvo de sua pena é detentor de poder de pecúnia ou de política, ou ainda se é capaz de bom tráfico de influências (e era o caso), ou ainda se lhe poderá render vantagens (e era, de novo, o caso). Nas entrelinhas, ele, o escriba, aproveitou para espinafrar escritores locais que, segundo ele, encastelam-se em suas igrejinhas e fazem pouco dos que não lhe são caros ou próximos. De novo achei engraçado: o autor definiu-se, de modo reflexivo, sim, senhor! Ele, sim, é useiro e vezeiro da prática, mas não se constrange em abusar dos telefonemas para pedir, aqui e alhures, artigos que o louvem. Sim, senhor, de novo: o homenzinho chega a orientar o companheiro a quem faz a encomenda: “Diga aí que eu sou isso e aquilo, que já fiz isso e aquilo etc. e tal”. Ele só não traz o artigo pronto para que o “amigo” assine porque não tem disposição física para isso. E aqui grafei entre aspas a palavra porque é bastante questionável o conceito que ele tem de amigo. Pelo menos, não bate com o meu conceito.
O leitor que tenha tido a paciência de chegar até aqui há de ter dois pensamentos: o primeiro (no caso de o leitor não ler entrelinhas) vem no sentido de entender que compro encreca (são muitos os que me qualificam assim, mas são esses os que mais me sugerem temas, quase sempre em proveito de algum interesse pessoal deles próprios); o segundo, dos que vêem mais longe, é na linha de questionar por que eu não pus nomes, aqui, como é do meu feitio.

Respondo: não tenho constrangimento algum em cometer denúncias, e quando as faço, costumo, sim, dar nomes. Mas a este coleguinha não darei o privilégio de pôr seu nome em letra de forma (aprendi com Carmo Bernardes que letra de forma não é para qualquer um; há que a merecer) porque ele é dos que só escrevem os nomes dos que pretende bajular. Aliás, isso me remete a 1990, época do presidente Fernando Collor. Lembro-me bem que ele se elegeu com uma bandeira: combater os marajás (mas não deu nome algum, e ninguém vestiu essa carapuça); depois, acusou um tal de “sindicato do golpe”, só não disse onde ficavam, nem quem eram seus membros e dirigentes (e de novo ninguém vestiu a carapuça).

A diferença é que o escriba em questão não teria, jamais, a coragem de Collor. O ex-presidente fazia figuras literárias, e se não era muito feliz nas figurações, é porque nunca foi literato; o escriba quer fazer política, e se não a faz bem, é porque não é do ramo.

Por que, então, escrevo estas linhas? Só para dizer que estou dormindo. Se for necessário, e se o colega insistir no mesmo diapasão, direi nomes e darei as minhas razões. E, nessa hipótese, o leitor será juiz.


Luiz de Aquino é escritor e jornalista, membro da Academia Goiana de Letras. E-mail: poetaluizdeaquino@gmail.com

Um comentário:

Mara Narciso disse...

Mais uma briga a caminho. A falsidade, assim como a esperteza, quando grande demais come o falso. Pessoas não confiáveis, e que têm a mídia a seu dispor são ainda mais perigosos. Nessas grandes guerras, os pequenos preferem ficar quietos. Veja você que ninguém se manifestou ainda, e já são 19h.