
Hiroshima e as nossas favelas
“Hiroshima, 63 years later”... É, trata-se de uma seqüência de belíssimas fotos da cidade que os americanos detonaram em 6 de agosto de 1945. Bem, o que se detonou


Bem, a amiga que me enviou a mensagem apenas a repassou, e eu não passei adiante; se o fizesse, acrescentaria um comentário cáustico: a autora da frase após a última foto devia ir morar lá. Ela escreveu “No mesmo período o Rio de Janeiro

Não gosto de gente assim. São pessoas que passaram pelas escolas, mas não sorverem bem o que as escolas poderiam lhes ensinar. São pessoas que vêm as favelas, mas nada fizeram no sentido de melhorar a vida dos outros. São pessoas que reclamam da segurança, apavoram-se diante da violência, das balas perdidas e das mortes nos tiroteios, mas continuam consumindo as drogas que sustentam o tráfico.
Maus cidadãos. Sem dúvida alguma, são maus cidadãos. Não direi que são maus

E aí, virão algumas leitoras puxar-me a fralda da camisa: “Você é venenoso. Você é cáustico. Você critica todo mundo”. Isso é muito interessante: elas me criticam como bem entendem, mas criticam-me por criticar. Eu sei, eu sei: o problema é que, ao traçar um perfil como o dessa mulher que adora as fotos de Hiroshima e admira a garra dos japoneses, fatalmente eu as qualifico. As que me criticam não gostam de se sentir retratadas e mesmo que seus nomes não apareçam nas minhas linhas escritas, elas vestem a carapuça.
O lado triste das favelas vai muito além do visual, minhas queridas. Aquele amontoado de pequenas habitações, aquele presépio sem santidade abriga sentimentos e talentos. As favelas não são apenas quartéis do tráfico; as favelas não são uma boca-de-fumo em cada barraco. As favelas são, muitas vezes, habitat da poesia, da música e da criação plástica que encanta o mundo. Melhor seria se o Brasil tivesse as benesses que se deram aos japoneses após aquela guerra de fogo e sangue, mas aquele foi o preço pago, antecipadamente, para que a dondoca pudesse, sessenta e três anos após, encantar-se ante as fotos e morder o próprio rabo, como serpente desavisada.

Nestes 63 anos, o Brasil interiorizou-se, cresceu social e economicamente, espargiu energia e luz por todo o seu território, criou veias de asfalto sobre o chão dos sertões. Leiam-se umas poucas páginas da nossa História para melhor se informar e não sair por aí, usando o que há de mais sofisticado em comunicação para falar besteira.
Há problemas, sim; e muitos! Mas há também uma gama enorme de bons brasileiros que, devagar e com tenacidade, com competência e fé, vêm corrigindo o rumo e retocando a paisagem dessa nossa História. Claro que essa senhora não se inclui; mas é possível que, surpreendentemente, de sua prole surjam seres capazes de aliar-se aos que bem trabalham, sem menosprezar o feito dos nossos.

Luiz de Aquino é escritor e jornalista, membro da Academia Goiana de Letras. E-mail: poetaluizdeaquino@gmail.com
7 comentários:
Luiz, meu querido amigo!
Vou engrossar a fileira dos que falam bem deste País! Tenho orgulho de ser brasileira! Sou uma brasileira vivendo com AIDS , como tantas mulheres - como eu - que vivem com AIDS neste mundão de Deus! Sou uma ativista e luto pela vida das pessoa como eu... E vi heroínas das favelas, salvando vidas, dividindo comida, socializando afeto. Mas, te disse que me orgulho do meu País? E sabes a origem deste orgulho?!O Brasil é o único País do mundo que dá medicamentos gratuitos para portadores de HIV, inclusive para estrangeiros que estejam ilegalmente no Brasil! Por que aqui, a VIDA é ainda mais valorizada do que o lucro. Aqui, o ser humano doente de AIDS recebe o seu tratamento, simplesmente por ser uma pessoa doente e, só depois, se-lhes cobra a cidadania e a legalidade de sua presença no Brasil! E te asseguro, amigo querido, ISTO SÓ OCORRE AQUI NO BRASIL! Em nenhuma outra parte deste mundo! Tenho mesmo de me sentir orgulhosa em dizer: SOU BRASILEIRA! Que prevaleça a vida...sempre! O resto a gente corre atrás...
Luiz querido,
Foi uma porretada e tanto!!!!!!!!!!!!
A suposta pobre senhora (porque como você disse não há de ser uma senhora pobre) deve estar correndo até agora pelos campos gritando cainhaim, cainhaim, cainhaim!!!!!)
Mas acho que a porrada foi merecida.
bjs
Iraci
Sem dúvida, não há como comparar o Japão e o Brasil. O primeiro, por sua cultura anterior à nossa própria imaginação e o nosso, por sua diversidade cultural que, infelizmente, ainda não se mesclou em um povo brasileiro (basta ver as divisões tão em moda, que visam ao retorno à colônia, quando éramos três ou quatro povos distintos).
Creio também ser importante pensar na diferença essencial: o Japão viveu várias guerras e a mais terrível experiência que nenhum outro país sofreu, como você lembra neste artigo.
O Brasil, se vive em guerra, é pela incompetência ou pelo desinteresse de seus governantes no sentido de cumprir as obrigações para as quais foram eleitos.
Não entendo o que Hiroshima tem a ver com as favelas brasileiras, tendo em vista que são exemplos opostos, não da virtude dos seus cidadão (ou dos seus erros).
Para mim, Hiroshima e as favelas brasileiras têm em comum justamente uma diferença, se se pode falar em diferenças comuns: a ação ou a omissão de seus dirigentes; a diferença essencial entre aqueles que respeitam seus cidadãos e estes que usam os cidadãos como escravos.
Os brasileiros e o Brasil são admiráveis justamente por conseguirem erguer um país tão maravilhoso a despeito de quem nos governa (?).
beijos
Parabéns, brasileiro, poeta, cidadão!
Comungo de sua opinião, pois para mim, o Brasil é o melhor país do mundo e caso não o seja, cabe a cada brasileiro fazer com que seja. De críticas e idéias pessimistas estamos até o pescoço porque há muitos brasileiros de meia-pataca que jamais ouviram falar em patriotismo, civismo e por isso desconhecem o peso e a importância do adjetivo BRASILEIRO!
Muito, muito bom! Pau nessa gentinha que ainda não entendeu que da sua classe consumidora da cara cocaína é que saem coisas como as favelas!
Urda.
Olá querido Luiz,
E eu entendo com perfeição o que diz! Minha família de imigrantes espanhóis estanharam a nossa terrinha e alguns até resmungavam... Mas agora, não há quem os tire daqui. E ir para a Espanha? Apenas para visitas e passeios, porque logo voltam para cá com saudade dessa terra linda e povo maravilhoso. Meu Brasil é cativante e possui um sorriso inigualável em seu coração gravado no sul do mundo.
Quem fala mal da casa que os acolhe ainda não percebeu a grandeza do Cruzeiro do Sul.
Beijos.
Tema espinhoso e uma maneira nada simpática de abordá-lo. Gera desagrado de ambos os lados defender uma nação e um povo em detrimento de outro. Há motivos e motivos para gerar cidades avançadas e favelas. É tema por demais complexo, e é de bom tom, evitarmos jogar bombas e confetes desavisadamente.
Falar do torrão natal, especialmente sem conhecimento de causa é muito feio, além de anti-ético. Nosso país tem muitas coisas boas, que aconteceram nesses 63 anos. Vamos alardear também os nossos feitos. Merecemos!
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