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terça-feira, maio 19, 2009

Um artigo de Jávier Godinho

Pois é... A população envelhece, preservando as qualidades individuais, mas os jovens administradores preferem expurgar os velhos do mundo. Será que, aos 70 anos, essas pessoas escolherão o suicídio? Leiam esse artigo do jornalista e pensador Jávier Godinho, meu amigo. L.deA.



Universidade contra maiores

de 70 anos é contra o saber



Jávier Godinho



Quem tem o slogan lindo: “O conhecimento a serviço da vida” não pode sumariamente colocar no olho da rua aqueles cujo crime é haver completado 70 anos.


Quem leu e refletiu no apelo “Fim das demissões aos 70 anos na UCG!”, estampado em outdoors distribuídos no centro de Goiânia, a princípio se surpreendeu. Se procurou se inteirar da realidade e constatou, como nós, a procedência daquele clamor da APUC - Associação de Professores da Universidade Católica de Goiás e do SINPRO-GO -Sindicato dos Professores do Estado de Goiás, ao espanto inicial acrescentou a apreensão, a tristeza e o protesto.

Vai além da burrice e do desperdício. Deve ter enlouquecido quem, numa instituição superior de cultura, ciência e arte, cujo maior patrimônio são os conhecimentos, a título de economia, manda embora ou força a saída daqueles que atingiram, com o aprendizado, a dedicação e a experiência em tantos decênios, o apogeu do saber em sua área de estudos e ensino. Quando a juventude e a sociedade mais precisam desses cérebros, e eles estão aí, prontos, aptos e disponíveis, melhor preparados e lúcidos, os dispensa por preconceito de idade, tão odioso quanto todos os demais preconceitos praticados contra a espécie humana.

“Queremos o fim das demissões de professores (as) aos 70 anos, sem justa causa. O modo como tem agido a instituição, nesses casos, atinge aos/as professores/as como um tratamento desrespeitoso e degradante, desprezando a história de vida de quem deu o máximo de si para a construção de um projeto de universidade” – destacam a APUC e o SINPRO-GO.

Uma universidade, principalmente com o histórico, a importância, os serviços prestados e a tradição da UCG, deve ao mesmo tempo ser amada por todos e amável com todos. Ela pertence ao povo de Goiás, que dela se orgulha e a tem como uma das principais referências da sua educação e cultura.

A UCG é originariamente cristã, católica, comunitária e filantrópica, mantendo, inclusive, um curso destinado a pessoas na terceira idade, chamado UNATI – Universidade Aberta da Terceira Idade. Tudo isso a induz ao respeito à dignidade humana, amor no tratamento a homens e mulheres em todas as fases de sua vida, sendo o amor o fundamento maior da educação, na definição de Pestalozzi.

Quem tem o slogan lindo: “O conhecimento a serviço da vida” não pode sumariamente colocar no olho da rua aqueles cujo crime é haver completado 70 anos. Mais grave ainda, entre os demitidos ou pressionados a pedir demissão, nessa circunstância, estão ex-padres, ex-freiras e cientistas, responsáveis pela fundação e reconhecimento de diversos cursos da UCG, em pleno exercício de suas capacidades.

Os novos valores são imprescindíveis, o rejuvenescimento de toda organização humana é uma exigência das leis da vida mas, nesse contexto, os detentores do maior conhecimento serão sempre indispensáveis.

O outdoor, inteligentemente, chama a atenção para alguns que a humanidade contempla deslumbrada, por haverem sido ou continuar sendo gênios na sua atividade, consagrados mesmo depois dos 70 anos: Albert Einstein, Madre Tereza de Calcutá, Dom Helder Câmara e Nelson Mandela. Nesta relação incluem-se o próprio papa atual, Bento XVI, e Oscar Niemeyer, com mais de 100 anos, ainda consultado para construção de grandes obras arquitetônicas do mundo.

Se tivéssemos contribuído na sua elaboração, teríamos sugerido mais nomes como, por exemplo:

Kant, o maior filósofo alemão, autor da sua Antropologia, Metafísica e Ética, aos 74 anos;

Tintoretto, que aos 74 pintou Paraíso, sua tela mais famosa, com 74 por 30 pés;

Verdi, aos 74 produzindo sua obra-prima Otelo; aos 80, Falstaff e, aos 85 anos, Ave Maria, Stabatt Máster e Te Deum;

Lamark, que aos 79 completou o seu maior trabalho na zoologia: A História Natural dos Invertebrados;

Oliver Wendell Homes, que aos 79 escreveu seu célebre romance Over The Teacups;

Catão, que aos 80 anos começou a estudar grego;

Goethe, que acabou de escrever Fausto, sua maior obra, aos 80 anos;

Tennyson, que aos 83 produziu Crossing The Bar,e Ticiano, que aos 98 anos pintou seu quadro histórico Batalha de Lepanto.

Procuramos e perguntamos à presidente da APUC, Lúcia Rincon, sua opinião sobre essa situação tão absurda e triste. Ela mais do que nos respondeu, falando com o coração:

- Temos sido desrespeitados como professores no dia a dia de nossos trabalhos e nunca interpelamos judicialmente a Reitoria da UCG. Temos sido submetidos ao medo constante. Temos consciência que a UCG não sobreviverá como uma ilha num mercado de bens simbólicos da educação superior privada brasileira. Mas não queremos ser usados como bode expiatório de nenhuma crise financeira, política ou institucional. É preciso voltar a sonhar que vale a pena lutar coletivamente para defender nossos direitos, por melhores condições de trabalho e de salários e por um ensino comprometido com a emancipação humana, onde a igualdade e a justiça sejam seus pilares estruturantes.




Jávier Godinho é jornalista, editorialista e articulista do Diário da Manhã, de Goiânia.

5 comentários:

Edificarte disse...

parabéns pelo blogger..

quando der visite o meu

deixe recados..

abraços. .

José Carlos Barbosa disse...

Luiz, gostei, e muito, mas estamos neste ano de 1965, você com 18 anos, eu com 26, será que seremos discriminados aos depois dos 60, (você), e depois dos 70, (eu)?
Abraço do Zeca

José Fernandes disse...

Caro Luiz, se você tiver o email do Jávier, me envie, por favor, pois pretendo parabenizá-lo, pois esta desgraça existe em todas as instituições de ensino superior do país, inclusive as federais. Abraços, JF

Olavo J. de Andrade disse...

Caro Luiz de Aquino, muito feliz a sua iniciativa de colocar esse belo artigo no seu blog. Oportuníssimo! Boa sorte, sempre! Abr Olavo.

Sueli Catão disse...

É, Luiz, da PUC ainda se pode reclamar.
No serviço público não há chance.
Até no Supremo. Fez setentinha - EXPULSÓRIA.
A fila anda, e rápido.
Beijão