Escribas no Senado
Luiz de Aquino
Numa entrevista, cerca de trinta anos atrás, o poeta Aidenor Aires declarou, sem constrangimentos, que “se nós nos lêssemos, as edições dos nossos livros seriam esgotadas no lançamento”. E detalhou: o hábito eram tiragens de mil exemplares, e os escritores, publicados ou ainda na fase do sonho, éramos, já naquela época, muitos em Goiás.
Na última terça-feira, expressivo número de escritores lotaram um ônibus em Goiânia e, a convite do senador Demóstenes Torres, participaram de um encontro com colegas brasilienses na Biblioteca do Senado. O parlamentar goiano, um dos mais atuantes e respeitados em amplitude nacional, estimula o estreitamento das relações. Presidentes da Academia Goiana de Letras, Eurico Barbosa, da UBE de Goiás, Edival Lourenço, e da Academia Brasiliense de Letras, José Carlos Gentille, marcaram presença. Gostamos de reencontrar Flávio Kothe e outros velhos companheiros.
Habituamo-nos, especialmente escribas como Delermando Vieira, Brasigóis Felício, Valdivino Braz e eu, a nos municiar de livros para as permutas, em ocasiões semelhantes. Mas, desta feita, não encontramos entre os demais a mesma parafernália e retornamos com a carga. A alegria expandiu-se também, para nós, não só na iniciativa do senador Demóstenes, mas na eficiência de seus assessores, com ênfase para Nilson Gomes.
Estranhei, particularmente, a declaração do presidente da UBE Goiás, que entendeu ser essa a primeira vez em que se promove um encontro de escritores da Capital Federal com os goianienses. Em 1996, os brasilienses lotaram um ônibus e vieram a Goiânia para, em ação conjunta, fortalecer homenagem que a nossa UBE prestava a Carmo Bernardes. O passeio marcou-se por um almoço no restaurante Tacho de Cobre, visita à casa e à família de Carmo Bernardes, no setor Pedro Ludovico, e uma noite literária no Castro’s Hotel.
Em outubro do ano passado e em abril deste ano, o grupo de poesia Memento Mori, dirigido pelo poeta brasiliense Roberley Antônio, realizou encontros aqui em Goiânia, envolvendo poetas das duas cidades (outros encontros já estão programados e serão em Brasília). O primeiro destes, deu-se no Goiânia Ouro e o segundo, na Universidade Católica de Goiás. Ambos os eventos foram noticiados na imprensa e eu próprio cuidei deles em minhas crônicas.
Portanto, não se pode sair dizendo que “agora, vai!”. Esse “agora, vai!” já poderia ter acontecido se os escritores locais buscassem conhecer o que se faz por aí. Caso o fizessem, conheceriam melhor, por exemplo, Fátima Paraguassu, que, além de seu trabalho em música e literatura, atua como folclorista e notável defensora das tradições do Estado, com ênfase para Santa Cruz de Goiás. Ela estava lá, no encontro, sempre buscando divulgar seu trabalho.
Tudo isso me recorda, pois, a declaração de Aidenor... Constatamos que o moço poeta, naqueles anos finais da década de 1970, estava certíssimo. Os escritores não lêem o que os colegas, ainda que próximos, escrevem.
E arremato reafirmando a validade da iniciativa. Abraços meus de gratidão ao amigo senador Demóstenes e ao Nilson Gomes. Quebremos, pois, os bicos longos de orgulho e busquemos nos reaproximar, não só dos colegas brasilienses, mas também entre nós, os da casa. Se a família não se une, a união lá fora ficará sempre frágil.
Luiz de Aquino (poetaluizdeaquino@gmail.com) é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras e escreve aos domingos neste espaço.
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6 comentários:
O sistema de permuta permite evitar encalhe, além de propiciar maior entrosamento e crescimento literário. Atualíssimo o pensamento do goiano. Eu já estou praticando a leitura dos amigos, prestigiando sempre. E ainda não seguro um comentário. O sistema de pirâmide literária cresce de forma geométrica como as outras, mas gera concórdia, conhecimento e ainda por cima é legal.
O Encontro em Brasília promovido pelo Senador Demóstenes e pelo querido amigo Nilson Gomes foi uma oportunidade para avaliarmos nosso distanciamento um do outro. Cada um busca momentos para divulgar seu trabalho. É um grande empurra, empurra.
Tive o prazer de participar das duas Noites de Poesias “Goiânia/ Brasília” e a Noite de Poesia em Brasília realizadas pelo Portal Memento do grande escritor Roberley.
Tenho o prazer de trabalhar em prol da Cultura Tradicional de Goiás, principalmente minha Santa Cruz.
Diante da constatação do amigo Luiz sobre o distanciamento dos escritores, pensei nas seguintes hipóteses: “Tarde da Leitura Alheia”, ou ” Escambo Literário” evento em que será proibido alguém falar de si próprio; o leitor se transformara em leitor. Cada um escolhe o escritor que quer ler. Passamos horas alegres, conheceremos um ao outro, nos aproximaremos e assim teremos uma bagagem literária para estender estes eventos a outros Estados e/ou Municípios
Parabéns, Poeta. Oportuna sua abordagem. Abraço do amigo.
Caro Luiz, poeta amigo,
Bom seu texto sobre o encontro de Brasília. Gostaria de ter ido, mas fiquei
esperando Eliezer Pena, que esperou Eurico Barbosa que não pôde ir.
Obrigado pela lembrança de minha fala. A gente vai virando memória. Mudam os
personagens mas os problemas são os mesmos.Embora haja alguma hipérbole
naquelas palavras, a realidade talvez supere o discurso.
Parabéns pelo texto.
Aidenor Aires
Muito boa a ideia do evento, o qual parabenizamos o Senador Demóstenes Torre e meu tio Nilson.
Assim como Mara Narciso - pelo visto, fazendo sempre comentários verdadeiros sobre uma micelânia de assuntos - revela já ler os goianos, tambem o faço indo em livrarias direto nas prateleiras regionais, seja o escritor amigo ou não. Seja em prosa ou verso.
O grande notável citado Brasigóis Felício - pai de um grande professor literário de Goiânia: Pettras Felício - é merecedor de elogios, assim como vários outros. Principalmente aqueles que estão entrando novatos no cenário livresco. E você Luiz, nem preciso comentar, é símbolo de prova das afirmações da competência goiana.
Mais encontros dessa estirpe deveriam se feitos, para influenciar os cidadão goianos à leitura de seu estado.
Abraço
Luiz, bloggretropasseando aqui, encontro esse texto maravilhoso. Carregado de veras verdades das eternas.
Incontestável quando você assevera que "Os escritores não lêem o que os colegas, ainda que próximos, escrevem.". Tenho notado muito isso aqui em minha região frienta do sul, mas ainda norte paranaense, em Maringá e Paranavaí, meu torrão natal.
É uma pena que a pena do escritor'amigo seja reputada como digna de pena; nisso vai sempre um pouco mei’muito de tã vã ostentação. Essa sim deve ser digna de pena, porque vil de tã pequena. Uma pena!
abs
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