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terça-feira, março 15, 2011

Insegurança no Parque Carmo Bernardes

Inauguração: L.deA. ao lado do busto de Carmo Bernardes, no Parque


Insegurança no Parque Carmo Bernardes


Há menos de dois anos, a Prefeitura de Goiânia inaugurou um dos mais belos dentre todos os parques da cidade – o Parque Carmo Bernardes, na região sudeste de Goiânia ou, mais precisamente, no Parque Ateneu. A convite do presidente da Agência Municipal do Meio Ambiente, Clarismino Júnior, redigi um texto que busca identificar o homenageado, meu amigo pranteado Carmo Bernardes, escritor e sertanista. Agora, recebo de um amigo lá residente o seguinte informe:

“O parque Carmo Bernardes, no Parque Ateneu, aquele mesmo onde há um texto seu na estátua do escritor que dá nome ao lugar, está bonito. Pena que sendo usado por motoqueiros e ciclistas, que compartilham a pista de caminhada com os usuários. Mas não é só isso: cães das raças pitbull e rotweiler, sem focinheiras, também dividem as dependências do parque estranhando crianças e rosnando para quem anda por ali. E agora vem o pior: traficantes e drogados infestam o entorno dos dois lagos, principalmente na madrugada de sábado para domingo. Recentemente houve um assassinato ali, relacionado com drogas. Os vigilantes municipais afirmam não ter poder de polícia e a segurança do parque está comprometida. Infelizmente, nossa representação política aqui integra o bloco da adulação. Ajuda a gente aí através de seus artigos que têm profundo poder de influência”.

A minha homenagem ao amigo que dá nome ao Parque
Vejo, pelos noticiários da tevê, o quanto as Guardas Civis Municipais no Estado de São Paulo atuam na segurança – e não falo da Grande São Paulo, mas das cidades do litoral e do interior do Estado. Aqui, caminhamos a passo de tartaruga: a Guarda Municipal, parece-me, é definida apenas como uma corporação para a guarda patrimonial dos bens públicos, e ainda assim o contingente é mínimo, haja vista o vandalismo que agride prédios públicos e bens artísticos, arquitetônicos e históricos da capital.

A Polícia Militar vive um momento de crise; quando da prisão de 19 militares sob os indícios da prática de morte contra prováveis suspeitos (redundância? A moda agora é essa; ser suspeito, hoje, já é ofensa), aquela que deveria ser a nossa tropa de elite agiu de modo corporativo negativamente, intimidando jornalistas da Organização Jaime Câmara com suas fardas pretas, seus carros possantes e suas sirenes assustadoras; e o parlamentar que diz representar as corporações policiais militares agiu de modo a tentar inocentar os presos – estes com fortíssimos indícios de responsabilidades ilegais – quando a sociedade (e o lado bom da PM) esperavam dele atitudes sóbrias.

Por outro lado, a legislação relativa a drogas é benevolente: inocenta totalmente os usuários e concede ao traficante o direito de abandonar as drogas no chão, ao seu lado, esquivando-se cinicamente do flagrante de posse, permitindo-lhe passar por usuário... Inocente e insuspeito usuário.

Permitam-me, também, indagar alguns dados: gostaria muito de saber os números de assassinatos contra jovens envolvidos com o tráfico antes e após o fechamento do projeto Cidadão 2000, que era mantido pela prefeitura. Tenho a impressão de que essa informação é decisiva. Adolescentes e jovens são executados todos os dias, para desespero dos pais, das famílias, das comunidades. Comenta-se que há uma certa acomodação por parte dos policiais, que preferem ver os marginais se eliminando, mas não creio nisso: nenhum policial – a não ser que se alinhe entre os monstruosos agentes que preferem matar a proteger – acomoda-se ante o crime.

Devo dizer, ainda, que a sociedade tem se esforçado para evitar a falência moral dos jovens – e, por consequência, das famílias –, mas a luta está desigual. Professores e pais empenham-se, religiosos também; mas há comerciantes que preferem subvencionar os maus policiais que matam, em lugar de fortalecer o sistema escolar e os projetos sociais que visam a afastar o jovem das ruas e das drogas.

E quando enfatizamos, como agora, os bairros próximos ao Parque Carmo Bernardes, não os isolamos do resto da cidade. A periferia em seu todo, mas o Centro histórico, os ditos bairros nobres, as proximidades das escolas e das igrejas,  tudo – e isso acontece em todo o país – está tomado pela delinqüência, pelo tráfico, pelos pequenos roubos, pelos assaltos e as execuções ordenadas por traficantes ou encomendadas por maus comerciantes.

* * *


Luiz de Aquino – escritor e jornalista

2 comentários:

Maria Helena Chein disse...

Luiz,

Ninguém ouse lhe tirar o mérito de defensor do bem público. Você sempre está na batalha para informar, mostrar o que precisa ser visto e o que deve ser corrigido em seus artigos no DM. Faço a leitura quase sempre aqui pela internet.

Parabéns pela celebração do Dia Nacional da Poesia, 14 de março, na Câmara dos Vereadores.
Valeu.

Bjs.

Maria Helena

Benevides de Almeida disse...

Boa matéria, Aquino. Repercutiu intensamente entre os frequentadores do parque, especialmente aqueles que deixaram de caminhar nas manhãs de domingo por não se sentirem em segurança. Um deles, por outro lado, foi até o busto do Carmo para ler o texto que você escreveu e mais tarde veio me perguntar se era realmente a mesma pessoa que escrevera o artigo no DM. É que a impressão que ele tinha era a de que o autor da exaltação à figura de Carmo Bernardes teria algum vínculo com a prefeitura e como tal não poderia criticá-la. A propósito, o único vereador que temos aqui (Joãozinho Guimarães - que fez a campanha com a marca Joãozinho da Bicicleta, alcunha que aboliu assim que foi eleito e não gosta mais de ser chamado assim) é desses que quando vê uma equipe de manutenção urbana trabalhando em roçagem, ajardinamento e até remoção de entulhos , manda estender faixas nas imediações com inscrições nas quais "os moradores" agradecem a ele por mais aquela obra. Ele é especialista em poluir o bairro com faixas de autoagradecimento. Basta ver qualquer turma da prefeitura trabalhando. Os operários ficam irritados porque esse vereador costuma ficar junto deles, à vezes pegando até na enxada, durante o tempo suficiente para ser visto pelos que passam, principalmente na hora das caminhas pelo parque. O morador, na verdade, fica irritado com este comportamento de culto ao personalismo.