Páginas

domingo, março 13, 2011

Pois é, eu vi!


O DM (Diário da Manhã, de Goiânia) completou, neste 12 de março, 31 anos de existência combativa. Orgulha-me a minha profissão de jornalista, e orgulha-me também ter integrado as equipes do semanário Cinco de Março e, em seguida, do Diário da Manhã, onde permaneço até hoje. Para festejar, Batista Custódio convidou a nós, os da "velha guarda", para contar alguma coisa; o resultado é o suplemento que circula hoje, 13 de março, no DM e que pode ser lido também na versão eletrônica - www.dm.com.br - em sua íntegra. Meu depoimento está na última página, mas transcrevo-o a seguir.


L.deA.







Pois é, eu vi!


O ambiente era o do semanário Cinco de Março; corria o ano de 1979. A equipe era pequena, empenhada, destemida – Marco Antonio Silva Lemos, Sônia Penteado, Valterli Guedes, Valdomiro Santos, Luiz Augusto Pampinha, Sebastião Póvoa, Jorge Lira, Tacilda Aquino, Antônio José de Moura, Luiz Contart... Os fotógrafos eram poucos, também – Lorivaldo, Edson, Diomício... Eliezer Penna era o editor-chefe. E os diretores eram Batista Custódio e Consuelo Nasser. Júlio tinha seus 17 anos e Fábio, não mais que 12.

Um dia, deparo-me com Carlos Alberto Sáfadi deixando a sala do Batista. Eu soubera, na véspera, que ele deixara o Jornal Opção, então diário. Supus que viria para o Cinco de Março, mas ele me antecipou a notícia, pedindo segredo: “Vai surgir aqui mais um diário”.

Mal entrou 1980, o ambiente do CM começou a mudar. Havia um entra-e-sai de jornalistas vários, alguns bastante conhecidos, vindos de outros veículos; e os forasteiros, chamados por Batista Custódio especialmente do Rio e de São Paulo.


Batista custódio,  o que não se contenta com as notícias: tem que sonhar!

O espaço que antes era estacionamento para nossos velhos carros, tornou-se um canteiro de obras; em poucas semanas, a edificação abrigava toda a imensa redação do Diário da Manhã. Migrei do CM para o DM, meu chefe era o Marco Antônio, editor de política. O Cinco de Março continuou circulando, só seria desativado em agosto daquele mesmo ano.

No decorrer de fevereiro todo, é possível que tenhamos começado ainda em janeiro, produzimos muitas edições-zero. Em cada uma usava-se um desenho para a primeira página,até que se definiu por um modelo; depois, foi a vez de se estabelecer a tipologia que se tornou marca. Era emocionante sentir que fazíamos um jornal novo! Eram novas edições todos os dias, como se o jornal fosse diretamente para as bancas, mas tudo era experiência; e então, um belo dia, nós, formigas-operárias, ouvimos: “Agora é pra valer! Amanhã estaremos nas ruas!”.

Lembro-me bem... A cidade já nos esperava. Outdoors espalhados por Goiânia inteira mostravam fotos de alguns de nós. A minha cara não apareceu nesse cartaz, fiquei triste por isso. Na redação do DM existe uma reprodução desse outdoor. A equipe era muito maior que a do Cinco de Março – a maior já montada em Goiânia. Escalou-se a fina flor do jornalismo para o que, em poucos dias, era tido como o melhor jornal do Centro-Oeste. Tínhamos Sáfadi, Marco Antonio Coelho, Servito Menezes, Paulo Sérgio Moreira, depois vieram Washington Novais, Reinaldo Jardim... E tínhamos articulistas de renome nacional, como Carlos Drummond de Andrade e Jânio de Feitas.

Bem! Aí o jornal cresceu, incomodou, fez-se presente! Tudo o que brilha incomoda – disse a cobra ao vagalume. E a cobra atacou o pirilampo, que teve sua luz apagada temporariamente, como diziam os locutores de A Voz do Brasil aos navegantes...

Pois é! Falar de passado é lembrar a história. Nós, jornalistas, somos uma espécie de cartorários da história. Mais da metade de minha vida, passei-a envolvido com os jornais, as revistas e as notícias. E sou feliz ao lembrar que, neste aniversário de 31 anos do Diário da Manhã, posso me dizer que eu estava lá! Ou, plagiando Gonçalves Dias: “Meninos, eu vi!”.


* * *


Naquele tempo: eu, entrevistando Athos Magno, recém chegado do exílio


4 comentários:

Mara Narciso disse...

Por esses mesmos dias eu me tornava médica e partia para a capital, Belo Horizonte, para fazer a residência médica. Ingênua, dei de cara com a Folha de São Paulo que encarava a abertura e o incipiente PT de reuniões semi-secretas. Também pude participar da primeira passeata pró-cut. Saímos às ruas do centro, seguidos pela polícia e seus imensos cacetetes. Tantos anos, tantas lutas e tantas glórias. O jornal DM nasceu numa época de abertura, de denúncia, de construção da democracia. Um belo ano para nascer, e você estava lá para ver, fazer e vir nos contar. Parabéns a todos!

Saramar disse...

Luiz, caríssimo poeta, naqueles momentos tão dominados pela univocidade, o DM foi uma fênix.
Todos que participaram do sonho do Batista Custódio e o transformaram em realidade são heróis, por isso, merecem nosso respeito e nossos parabéns.
Sempre observei que o DM acompanha a velocidade das mudanças dos tempos, ainda que sofra críticas - eu mesmo o critico, por vezes.
Entretanto, hoje sabemos que aquilo que não consegue mudar, está morto.
Neste sentido, o DM e seus jornalistas estão vivíssimos.
Parabéns a você e a todos os que mantêm este jornal.

Maria Helena Chein disse...

Luiz,

li a crônica "Nascer para as Letras", onde você fala sobre Jô Sampaio,
e seu depoimento "Pois é, eu vi", lembrando o início do DM e agora
completando 31 anos. Ótimos textos, grandes lembranças.

Bjs.

Maria Helena

Sueli Soares, RJ disse...

Menino, eu li!

Parabéns pela postagem do dia 13, já era de se esperar a primorosa manifestação.