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terça-feira, junho 26, 2007

Quero as cores das flores


Quero as cores das flores


Dia desses aí, e justo quando a ministra do Turismo recomendou ao povo (ou à parcela de povo) voador que “relaxe e goze”, o presidente Lula cobrou uma atitude da imprensa. Disse que a nossa imprensa só alardeia o negativo e não mostra o Brasil bom, o Brasil que desperta o interesse turístico. Senti-me tocado, como jornalista. Mas senti-me também à vontade: sempre me empenhei demais para mostrar coisas positivas, como as qualidades das nossas artes, da nossa geografia, as vitórias dos esforços nacionais. Mas, infelizmente, os que trabalham em prol do negativo acabam sendo mais fortes do que nós.

Falo do crime organizado. Falo dos maus políticos, dos maus médicos, dos maus policiais, dos maus jornalistas, dos maus professores... Os maus são, sempre, temas inesgotáveis, como inesgotável é a imaginação dos negativos. Sempre que alguém menos informado vem dizer que “lá fora” não há corrupção, a Justiça funciona melhor, tem-se mais segurança etc., contesto com uma pergunta: “A polícia de lá é boa? Eficiente e bem equipada?”. Sim, respondem esses xenófilos. E eu: “Então, o crime lá é ainda mais sofisticado do que o nosso”. Isso é óbvio: onde não há crime, não há polícia; e polícia só se torna sofisticada na medida em que o crime o exige.


Mas quero exercer, ao menos hoje, este lado de mostrar o positivo. Nenhum de nós, bicho sapiens, é de todo negativo; e, por antítese, também nenhum de nós é de todo positivo. E vou além: deve ser insuportável o convívio com alguém certinho.


Leio nos jornais que Goiânia atingiu um excelente índice de proporção de árvores por habitante, superando até mesmo Curitiba. Sei que João Pessoa insere-se também como uma das capitais brasileiras de ótima posição nesse item. Mas, estranhamente, vejo com tristeza comerciantes derrubando árvores para que suas fachadas e cartazes sejam melhor vistos pela clientela.

Com tristeza, também, vejo que nossos canteiros estão, agora, apenas verdes. Tenho saudade das petúnias. E, estranhamente, os comunicadores municipais não respondem aos nossos apelos. Deviam, sim, dizer-nos a razão de não termos mais o colorido nos jardins.

Gostei de ver o prefeito Íris Rezende plantar algo na Praça da T-25 (e, cá para nós, aquela e tantas outras praças deviam ter nomes, não acham?). Íris se sente à vontade nesse exercício: ele gosta de evocar sua origem rural.

E eu, como qualquer goianiense, encantei-me com nossos jardins por mais de duas décadas; como todo goianiense, contei vantagens por onde andei, falando das cores dos canteiros públicos.

Por outro lado, o lado que os administradores gostam de ver justificado, jardins e flores são ornamentos de melhor relação custo-benefício. Ajardinar, enverdecer, arborizar e florir fecham-se num conjunto agradável e recomendam bem qualquer administrador.

Com base nessas crenças, que são minhas e de tantos os que amam esta terra e esta cidade, peço ao prefeito Íris que exija um pouquinho mais da Superintendência de Parques e Jardins. Note, Prefeito, que somos uma grande comunidade a tentar acertar o passo com o presente e o futuro. De minha parte, faço minhas crônicas e poemas; há os que enchem nosso espaço de belas melodias e os que reproduzem cenas e sentimentos em telas e esculturas; há os que operam com a força física para realizar grandes obras de morada e convivência urbana.

Mas faltam-nos as flores. E custa tão pouco!...

3 comentários:

Mara Narciso disse...

Diferentemente das crônicas mais antigas, ainda no jornal, essa do blog está muito bonita e cheia de cores. Muito linda mesmo! Nem só as mulheres aplaudirão a sua iniciativa, como também os homens, pois todos queremos muitas flores.

Apreciei imensamente a sua prosa quando você enveredou pelo seu outro território tão próximo:a poesia. Soou feito música os quatro imperativos:AJARDINAR, ENVERDECER, ARBORIZAR, FLORIR... Amei!

Mara Narciso

Anônimo disse...

E canto pra ti como canta Zélia Duncan: "Flores para quando tu chegares, flores para quando tu chorares, uma botânica dinâmica de cores..."

Otimista que sou por natureza, também defendo o colorido das flores nas ruas e no interior de cada um, bem como o enaltecer das coisas boas da nossa terra (ainda que não se possa vendar os olhos e a luta e extirpar dos noticiários e da mente tudo de torpe que nos rodeia, como sugeriu nosso presidente.)
Que voltem as flores de Goiânia, do Rio, de cada uma das cidades brasileiras. Flores no caminho, no olhar e nas atitudes de cada um de nós.
Beijo grande pra ti, Luiz.
Bella

Saramar disse...

Você tem razão. A cidade está acostumada às suas flores e ao colorido que eleva, em contemplação, os olhos e a alma.
Ademais, a beleza dos flores são o contraponto para o cinzento dos dias e o vermelho que cobre nossas pupilas, testenunhas pálidas pelo medo da violência e da imoralidade que nos rodeia, vinda de cima, de baixo e por todos os lados.
Voc~e me incentivou, vou escrever ao prefeito, uma, duas, mil cartas falando de flores.

beijos