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sábado, novembro 26, 2011

O tempo e a teima



Antônio Almeida, entre vereador, já diplomado como Cidadão Honorário de Goiânia



O tempo e a teima


Minha fala na Câmara Municipal de Goiânia, quando da
concessão do titulo de Cidadão Honorífico a
Antônio Almeida, presidente da
Editora Kelps, em 24/11/2011.L.deA.


O tempo é o mais justo, perfeito e, por isso mesmo, previsível ingrediente de nossas vidas. Ou, talvez, o homem, animal que costumo qualificar como “bicho sapiens”, tenha conseguido medir o tempo com uma exatidão quase que irreparável.

Mas até mesmo no tempo – esse tempo com que se faz a história, não o tempo do sol e das chuvas, do frio e da canícula – esse “bicho sapiens” interfere!

Ao tempo dos nossos pais, o tempo era grande, disponível, preguiçoso... Hoje, mal nos damos conta de como crescem as crianças e como se tornam, muito rapidamente, ágeis operadores da parafernália eletrônica!

Nós, os que passamos dos cinquenta anos, sabemos que a vida mudou muito nas últimas décadas! Vivemos as infâncias sofridas e sem muitos recursos de lazer fabricado, como os brinquedos vários que, a este grande sertão do Planalto Central, demoravam para chegar. Então, restava-nos a criatividade de transformar mangas, chuchus, pontas descartadas dos carpinteiros e até mesmo carretéis vazios em peças de invencionice infantil.

Era um tempo em que as crianças se tornavam mão-de-obra bem cedo, auxiliares dos serviços gerais de pais e mães. Em muitos casos, aquelas crianças viviam somente para repetir as vidas de seus pais e mães; e em uns casos poucos, as crianças sonhadoras, ambiciosas, curiosas e inquietas fugiam da rotina que lhes era imposta, procuravam outras terras e fusos, costumes e falas...

Ah! A história dos homens está cheia de exemplos.

E entre estes há os que sequer precisaram se aventurar em terras distantes, muito estranhas. São os que, num dado momento da vida, escolhem a mudança imediata, geralmente para uma cidade próxima ao seu rincão de origem – quase sempre a capital do  Estado.

Foi o que fez Antônio Almeida. Deixou que os sonhos criassem asas, mas dominou-os de modo a permitir-lhes o voo possível, sempre. A migração foi de curta monta – de Palmeiras de Goiás para Goiânia. O tempo, esse forte elemento de todas as vidas, exigiu trabalho; muito trabalho. E o crescimento aconteceu de modo especial, as providências exigindo pressa.

Família grande, de muitos irmãos; os pais regendo a vida de modo a não permitir a dispersão “dos meninos”; o empenho pela sobrevivência mas, também, a garra, a determinação: sobreviver era pouco; crescer se fazia indispensável!

A pequena Gráfica Pirâmide, realizando trabalhos de encomenda como cartões e “santinhos” de candidatos, ou panfletos e notas fiscais, um dia atreveu-se a publicar livros. E já se vão quase trinta anos desde aquela remota aventura – o livro Travessia de Gente Grande, do poeta Ademir Hamu; em seguida, aconteceu o meu De Mãos Dadas com a Lua. E de lá para cá, centenas, milhares de novos títulos, colocando Goiânia como uma das cidades onde mais se publicam livros.

A hoje Editora Kelps é uma referência nacional, com repercussão em vários pontos do mundo.

E isso, analisando agora, porque um dia o jovem Antônio Almeida – que a gente prefere chamar de Antônio da Kelps – sonhou que devia crescer.

Cresceu e, com ele, cresceram também os  irmãos, porque seus pais nunca permitiram que se soltassem das mãos uns dos outros; cresceu, cresceram e ajudaram incontáveis escribas – sejam eles ensaístas, ficcionistas ou poetas – a crescerem juntos.

Isso de sonhar, Antônio, faz com que eu o compare ao personagem desse meu poema:


O homem que aluga estrelas


Eu tenho estrelas. Muitas.
Não, não sou dono de todas
as que limitam o teto da noite, não.

Sou rico, minha senhora!
Sou dono apenas das cintilantes luzes
que realizam desejos.

Não são minhas meras luzes
de clarear partículas de infinito
ou de orientar navegantes.

Pertencem-me as moradas da magia,
dormitórios de oráculos e duendes
e de fadas altivas e simples.

Minhas estrelas não existem
para formar constelações, apenas: elas
têm sintonia com corações sonhadores,

ansiosos e crentes, pois só mesmo
a estes é dado o dom de sonhar desejos
e fazê-los acontecer.

Por isso, Senhora bela e amada,
rainha de cetro e de sonhos,
aguarda a tua estrela: já se anuncia.

Demora que se mostre, porque é cedo
 cedo-te de gosto e prazer
a estrela que te cabe e é certa.

Ah! Ei-la! Ali, à margem da nuvem
que se abre no céu. É tua, essa!
Habita-a e te apossa dela.

Em dias próximos terás por real
o que é ainda sonho. Falta-me a paga,
que recebo adiantado.

E assim que me vir premiado
 em moeda de fala e poesia, liberarei a luz
que te trará venturas.

Depois, e quando de regozijo e feliz
puderes deixar minha estrela... É fácil.
Deixa-a no céu. Saberei recolhê-la.


***

É assim, meu caríssimo Antônio Almeida, que te vejo esta noite: o dono dos sonhos que voaram em bando, uma revoada de sonhos vários. Hoje, Antônio, Goiânia lhe traz o gesto de gratidão, o diploma da cidadania honorífica, que a Câmara lhe outorga e que, se fosse possível, traria as assinaturas de todos os editados pela sua... ou melhor, a nossa Editora Kelps.

Deus te guarde!


* * *

6 comentários:

Iúri Godinho disse...

Ficou muito bom, Luiz.

Iúri

Fátima Rosa Naves disse...

Sem palavras, Luiz, você é a grande estrela que traz luz ás pessoas a sua volta.
Seu amigo é feliz em tê-lo como amigo.
Este poema eu não conhecia, adorei e caiu perfeito ao seu discurso,

Sueli Soares (Magé, RJ) disse...

Espero que seu amigo seja digno do seu "humilde discurso". O tempo e a teima são tão atrevidos que possibilitam até mesmo ao sonhador o alcance de objetivos, que você chamou de sonhos. Sei que você ainda trabalha e sonha, também. Desejo-lhe plenas realizações!

Leda Selma disse...

Muito bem, Luiz, o Antônio, sei, emocinou-se com sua bela e poética fala. Uma homenagem e tanto você lhe rendeu. Parabéns a ambos!

Tania Rocha disse...

Poeta Luiz De Aquino,
Em tempos distantes ,onde só se ouvia falar em editar lvros nas grandes cidades ,o sr: Antonio ,já vislumbrar nosso estado de Goiás culto e podendo ser referência editorial.foi mesmo um ato de sonho e esperança. Merecida e justa portanto, a homenagem.Mas caro poeta Luiz ,tenho certeza ;não fosse vc a fazer esse discurso ,não teria sido tão maravilhosamente emocionante!Esse poema ....Que maravilha!!Seu amigo com certeza, é orgulhoso de compartilhar de sua amizade!

Anônimo disse...

Olas Luiz,

Parabens pelo blog e excelentes poesias.
Um gênero que merece mais divulgação
em nosso país.

Estou começando também um blog de poesias.
Quando puder, da uma olhada em:

http://ozonioazul-poesia.blogspot.com/

Comentarios seriam super bem-vindos.

Tudo de bom, Eridanus