Ritos e... Ratas!
As manhãs de domingo em casa de minha avó Inês (escrevíamos Ignez), lá em Marechal Hermes, nos anos de 1956 e seguintes eram agitadas! Adultos que trabalhavam estavam em casa, crianças estudantes estavam em casa ;os sábados eram tidos como dias úteis, e acordávamos cedo no domingo, dia de folga e prazer.
Eram muitos os jornais diários no Rio, então capital federal. E, aos domingos, vinham cheios de coisas boas! Nesse dia, comprávamos O Jornal, O Dia, Diário de Notícias, e, às vezes, o Correio da Manhã. Como se lia naquele tempo! Eram dois os hábitos bons, quase desaparecidos – a leitura (de livros, jornais e revistas) e o rádio. Músicas, novelas e notícias eram constantes no rádio e os jornais detalhavam as informações.
Eram os saudosos “cinquenta anos em cinco”, o mandato de Juscelino Kubitschek de Oliveira. Construía-se Brasília, as represas de Furnas (no Rio Grande) e Três Marias (no São Francisco), asfaltavam-se rodovias. O Brasil, até então quase que exclusivamente litorâneo, descobriu-se terra adentro.
Tivesse eu, menino de 15 anos, adormecido naquele saudoso 1960 (antes que se elegesse Jânio Quadros para começar o desvario no Palácio da Presidência da República) e acordado nestes anos pós-miliares, pós Sarney e pós Collor, não compreenderia o quanto se desqualificou o cargo de Presidente da República! Vou pular FHC e Lula e centrar atenção nos discursos de improviso da Senhora Presidente.
Não quero recordar a campanha de 2014, quando imaginei que atingíramos o mais baixo nível dos colóquios políticos da História – as reuniões da Comissão de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara Federal mostram-nos que “o buraco é mais em baixo”, é bem mais fundo! Não quero recordar aquilo de “a mulher sapiens”, nem a descoberta “do valor da mandioca”, nem o modo como a vacilante senhora tenta definir a casa própria.
Espanta-me que se queixe ao ser citada como desonesta (um eufemismo oposicionista, já que nada se prova de ações desonestas dela como cidadã – mas nem seus correligionários a isentam de suspeitas no exercício do cargo, pois que enfatizam sua “honestidade pessoal”). O problema, Dona Dilma, é que a senhora, ao que parece, acoberta erros graves de “cumpanheros”, pois solidariza-se, sem muito disfarçar com os que se defendem de modo claudicante de evidências surgidas em investigações que a senhora diz “permitir” – ou “ter instituído”.
Estranham-me as notícias de que “o Planalto” (nome metafórico para o poder) manda que os deputados da base poupem Cunha. Estranha-me que se possa noticiar (porque se pode comprovar) esforços no sentido de se barganhar proteções – nem o Cunha cai do posto de segundo na linha sucessória, nem a senhora é alvo de processo de impeachment.
Mas o Cunha roeu a corda, feito rato (desculpe, nenhuma insinuação de minha parte, por favor!). E Sua Excelência desce da soberana posição de Maior Mandatária desta Nação Brasileira para “se defender”. Ora, não era o momento! O povo brasileiro já vê no deputado Eduardo Cunha um refinado escroque. Como político corrupto, ele faz de Moisés Lupion um arremedo de trombadinha desarmado. E a Presidente da República desce de seu pedestal para responder ao melian... Desculpem-me novamente – ao presidente da Câmara!
A senhora, Dona Dilma, não deve jamais falar de improviso! Mas não deve também confiar tanto em seus assessores, já que estes não a orientam devidamente! Dizem que a senhora é autoritária o bastante para não aceitar conselhos de quem é regiamente pago para orientá-la (conheço políticos menores com igual rompante).
Mas, Senhora Presidente, contenha-se! Respeite isso que um de seus ícones (seu, mas não meu), o ex-presidente José Sarney, chamou de “Liturgia do Cargo” e contenha-se. É que todas as suas gafes já alimentam a história que se lerá amanhã.
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Luiz de Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.
3 comentários:
Psicólogos precisam sobreviver. Será que ela e seus defensores já pensaram nisso?
Falou, Poeta.
Crônica escrita com a 'ira santa'.
Luiz de Aquino, ponderado e verdadeiro como deve ser um grande escritor.
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